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HIT!Sound: Ninguém faz como ela: com “Ruby”, JENNIE consolida sua identidade como artista solo

Texto: Maria Raquel Brito
Design: Lais Batista

Salvador, 4 de abril de 2025

Uma referência ao filme “Hora do Rush” se transforma numa verdadeira ode à autoconfiança. Foi assim, com a mensagem de independência da música dançante e espirituosa “Mantra”, que JENNIE deu início à era de “Ruby”, seu primeiro álbum. Uma introdução digna de uma das maiores it-girls do K-pop – mas foi o que veio pela frente que aumentou o nível e selou a qualidade do disco. 

Quem está acostumado a ouvir a voz de JENNIE nas músicas do BLACKPINK tem uma grata surpresa com “Ruby”. No seu álbum, a rapper principal do grupo explora diferentes estilos e claramente se desafia, indo do funk ao R&B, mas sem deixar de lado o pop. É um trabalho completo, que tem sucesso ao transmitir a personalidade de uma artista que traça seu caminho pela indústria desde a adolescência. 

Ao ouvir as 15 faixas que compõem o álbum, é perceptível que JENNIE tinha uma visão clara do que queria para o próprio solo, e que se debruçou em cada detalhe para concretizá-la: dentre as músicas, 11 têm seu nome nos créditos, seja na composição ou produção. A rapper colaborou com artistas que admira e contou com produtores renomados que casaram perfeitamente com as sonoridades do projeto. Aqui, os destaques são Dem Jointz, Diplo e Mike WiLL Made-It. 

As colaborações são um ponto alto do álbum. Diferentes entre si, JENNIE escolheu bem as parcerias: as músicas vão da energia de “ExtraL”, com Doechii, à sensualidade de “Damn Right”, em que JENNIE canta com Kali Uchis e Childish Gambino, passando pelo pop-soul de “Handlebars”, que divide com Dua Lipa, e o indie-pop de “Love Hangover”, com Dominic Fike. A fusão de artistas e gêneros podia virar uma bagunça, mas deu muito certo. Faixa por faixa, ela mostrou um lado diferente, compatível com cada um dos nomes presentes no álbum, sem perder sua própria voz ou parecer artificial. 

O esforço para fazer uma obra que a representasse teve sucesso. “Ruby” coleciona avaliações positivas da crítica especializada e é, hoje, o trabalho mais bem avaliado de um solista de K-pop pela Pitchfork. Os números são outro indicativo de êxito: só na primeira semana, um milhão de cópias foram vendidas.

Os destaques de Ruby

A porta de entrada de “Ruby” é “Jane”, intro de pouco mais de um minuto e meio. A escolha do título já mostra que, nos próximos 40 minutos, o ouvinte vai encontrar JENNIE por inteiro: “Jane” traz à tona a última peça de seu nome ocidental, Jennie Ruby Jane, que ela utiliza em trabalhos como atriz. Com um arranjo onírico e quase nostálgico, a parceria com o multi-instrumentista francês FKJ estimula a curiosidade do ouvinte em explorar as faixas seguintes. 

Depois do momento calmo de introdução, somos recebidos pelas batidas intensas de “like JENNIE”. Apesar de também ser curta, com pouco mais de dois minutos, a música produzida por Diplo é uma das mais marcantes do álbum, com fortes influências do funk brasileiro. Além disso, tem um trecho em coreano escrito ao lado de ZICO e uma mensagem bem sucinta: todo mundo quer ser a JENNIE. Esse é um dos casos em que a música dá certo por conta de quem a interpreta, já que a rapper é alvo de críticas e mensagens de ódio desde que debutou. A repetição do próprio nome, que pode parecer excessiva e egomaníaca para alguém que se depara com a artista pela primeira vez, funciona como um eco das redes sociais e dos netizens a cada passo que ela dá. 

Fonte: Reprodução/POPBEE

Da parceria com Dem Jointz – nome famoso no K-pop pelos trabalhos com grupos como NCT e EXO, além de artistas ocidentais como Rihanna e Anderson .Paak – nasceram algumas músicas que encontram “like JENNIE” nas canções mais memoráveis de “Ruby”. O clássico “incoming”, marca registrada do produtor nas músicas em que trabalha, aparece pela primeira vez em “with the IE (way up)”, sample de “Jenny from the block”, lançada por Jennifer Lopez em 2002. Enquanto “like JENNIE” a exalta, “with the IE (way up)” é uma resposta mais direta às críticas incansáveis que acompanham sua carreira. A faixa remete à canção de 2002 no instrumental, mas ganha um novo ar com o flow de JENNIE e o toque de Dem Jointz, que a transformam em uma música que exala a personalidade da integrante do BLACKPINK. O produtor aparece novamente em “ExtraL” e “Filter”

Em “ExtraL”, Doechii se une a JENNIE e elas praticamente dão vida ao meme “quando duas rainhas se juntam para maximizar seu arraso conjunto”. Em um pop mesclado com batidas de hip-hop e uma melodia cativante, as duas se mostram uma dupla com sintonia palpável, revezando entre o rap e o canto. O resultado é uma música simultaneamente  divertida, sexy e, acima de tudo, gostosa de ouvir.

Fonte: Gianni Gallant

“Zen”, nona faixa do disco, funciona bem como um interlúdio. A letra, quando ouvimos pela primeira vez, pode soar como uma série de palavras sem muita conexão umas com as outras. Mas o instrumental épico, digno de um filme de fantasia heroica, combina com o tom cheio de atitude de JENNIE e faz com que qualquer ponto minimamente negativo seja superado pela energia que a música emana. Além disso, a letra e a melodia ajudam a reforçar  o tom de transição que a música traz: “Zen” oficializa a mudança de clima que começa a ser ensaiada em “Love Hangover” e leva o álbum para um lado mais calmo e sensual.

Já na reta final do álbum, “Seoul City” é um dos melhores exemplos desse segundo lado de “Ruby”. A segunda faixa produzida por Mike WiLL Made-It é um R&B provocante que se desenrola sobre a intimidade de um romance, posto em paralelo à intimidade de JENNIE com Seul, cidade em que nasceu. 

A emocional “Twin” fecha o disco com um tom agridoce, nos trazendo uma memória que todos temos: aquela amizade que já não existe mais, apesar de guardarmos conosco, independente de quanto tempo passe. Como a própria letra aponta, é uma carta em forma de canção, íntima como uma declaração de amor em voz e violão. 

“Ruby” consolida JENNIE como uma artista autêntica e versátil. Vindo de uma cantora que trabalha em grupo há dez anos, o álbum prova que ela se sustenta muito bem como artista solo e nos deixa ansiosos pelos próximos passos – seja como JENNIE KIM ou Jennie Ruby Jane.

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