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HIT!Politics: É preciso falar! O silêncio sobre depressão e suicídio na Coreia do Sul

Design: Cintia PM

Sofrer solitário e recluso não deveria ser a norma, mas infelizmente tem se tornado comum. No ano passado, durante uma pesquisa do Ministério da Saúde e Bem-Estar da Coreia do Sul, foi detectado que 5% dos entrevistados se isolam, revivendo o fenômeno das células de confinamento, estudado no Japão desde 1990. Esse hábito de profundo abalo emocional só camufla um problema ainda maior: a falta de incentivo ao diálogo aberto, rotineiro e seguro sobre saúde mental. 

Não é difícil encontrar os motivos que provocam essa realidade. Imposição de padrões estéticos, profissionais e sociais são alguns exemplos de uma cadeia infinita de outros motivos. As pessoas passaram a ser tratadas como números e rótulos em busca de preencher requisitos que, na maioria das vezes, colocam em risco sua integridade física, emocional e mental. Nessa sequência de condições, o indivíduo atinge extremos que podem levar a pensamentos e ações depressivos ou suicidas.

Por que na Coreia do Sul falar sobre saúde mental é um tabu?

Estimular a expressão de sentimentos é um passo importante no processo de quebra das convenções sociais que rotulam a “depressão” como um tema vergonhoso ou tabu. Mostrar nossa vulnerabilidade e estado emocional é ganhar a chance de identificar até onde podemos ir sozinhos ou quando é o momento de pedir ajuda. Na Coreia do Sul, o tópico ainda é tratado superficialmente, até mesmo por ser um tema que recai na questão sensível que é o alto índice de suicídio no país. 

Seja nos dramas, nas músicas ou nos debates políticos, a depressão não pode ser abordada sem levantar questionamentos a respeito da estrutura social que estão inseridos. Criticar a carga horária excessiva de trabalho e a exigência pela perfeição estética, por exemplo, é sinalizar como errado aquilo que o mercado dita como certo. Confrontar o lado negativo desses interesses financeiros e culturais impede que a conversa sobre bem-estar mental ganhe projeção.

Falando de lucro e silenciando emoções!

Esse desenho de sociedade impõe ao indivíduo um ideal de vida e trabalho que não escuta seus interesses humanos. Lutando para corresponder às expectativas externas, as pessoas testam seus limites, se cobram em excesso e criam ambientes para uma insatisfação pessoal que prejudica sua qualidade de vida ou atenta contra sua integridade física. Em relatório divulgado pelo Conselho da Cidade de Seul, a taxa de tentativa de suicídio passou de 430 casos em 2018 para 1.035 em 2023, isso só na área do rio Han. Olhando em dados adicionais, descobrimos que o público masculino corresponde a 77% deste número final. 

Como consequência dessa realidade, temos a Coreia do Sul como a nação com a maior taxa de suicídio entre as 38 que formam a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Fundada em 1961, com sede em Paris, França, a OCDE é uma organização intergovernamental que prioriza a conexão entre nações para padronizar iniciativas políticas que estimulem o progresso social, financeiro, ambiental e comercial dos países.

O governo sul-coreano, diante das estatísticas apontando que a cada dia 36 pessoas tiram suas vidas, desenvolveu um plano de cinco anos para incentivar o diagnóstico e tratamento da depressão, visando prevenir suicídios e popularizar hábitos de autocuidado. A decisão em caráter de urgência reforçou ações de suporte humanitário como a dos Telefones Vitais, disponibilizados ao longo da ponte Mapo, no rio Han. Monitorados por câmeras, os telefones são um suporte imediato para pessoas com pensamentos suicidas ou enfrentando alguma crise emocional.

Sinta, mas fale!

Expor o que sentimos é importante e não deve ser silenciado. Seja no início com um amigo ou familiar e depois com um profissional, falar sobre nossas emoções alivia um peso que ninguém merece carregar sozinho. Não limite esse debate a hoje, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, leve essa discurssão sobre saúde emocional e mental para sua rotina. Sempre que normalizamos a conversa em torno desse assunto, mais oportunidades criamos para ouvir o outro e falar sobre nossas dores,  sem medo, vergonha ou julgamentos. Vamos cuidar de nós e formar uma rede que apoia outros. Porque não estamos aqui para viver ou sentir sozinhos.

Precisa de ajuda? Converse com o CVV e receba apoio!

Fontes: (1), (2), (3), (4), (5)

Sobre o autor

Redatora, escritora, roteirista e atriz formada em Artes Cênicas.

(1) Comentário

  1. Ricardo Lima diz:

    Parabéns pelo excelente trabalho. Independente do dia, da cor, da nação, é urgente que todos nós falemos sobre nossas questões emocionais, busquemos uma via segura e confiável para que possamos quebrar cada vez mais o tabu da vulnerabilidade emocional em qualquer lugar do mundo. Não podemos continuar apenas contando estatísticas. Você vale à pena! Você é importante! Vamos derrubar todas as estatísticas, furar a bolha e nos acolhermos com amor e sem julgamentos. Vejo vocês amanhã!

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