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São Paulo, 27 de novembro de 2024.
Talvez você tenha acompanhado uma discussão recente dentro da bolha k-popper em relação ao desgaste que os artistas são submetidos para alcançar o estrelato. O debate surgiu após o polêmico episódio 2 do survival show “Starlight Boys”, no qual vários trainees foram submetidos a uma prova de resistência em que precisavam dançar a mesma coreografia até serem escolhidos pelos jurados.
Entre uma apresentação e outra, eles tinham apenas alguns segundos de descanso, o que fez com que muitos passassem mal. Um dos concorrentes, o chinês Sun Ying Hao, já havia sido escolhido e ao observar o sofrimento de seus companheiros, pediu para que aquilo parasse e desabafou: “Nós somos humanos, não máquinas”.
De maneira semelhante, aqui no Brasil, foi levantada a questão do fim da escala 6×1, para que o trabalhador tenha mais dias de folga, uma melhor qualidade de vida e dê adeus a essa carga horária desgastante que muitos enfrentam hoje em dia.
Essas situações, tanto na nossa realidade brasileira como no reality sul-coreano, me fizeram refletir sobre como essa ideia deturpada de produtividade que é propagada pode nos afetar negativamente ao romantizar a exaustão.
Esse sistema em que estamos inseridos valoriza o desgaste e faz com que muitas vezes a gente se sinta culpado quando fazemos uma pausa ou priorizamos nosso bem-estar frente uma situação cansativa. Aquela vozinha que nos perturba dizendo que somos frouxos ou que vamos ficar para trás, nada mais é que o resultado dessa cultura e do discurso do “trabalhe enquanto eles dormem”.
E tomo como exemplo a minha própria vida. Quando reservo um momento para descansar, na verdade fico ansiosa, pensando que estou perdendo tempo, que estou atrasando meus objetivos de vida. Eu preciso entregar, eu preciso aprender mais e alcançar minhas metas, enfim, a cabeça não para apesar do corpo estar imóvel. E sim, é importante trabalhar duro e traçar um destino de sucesso, mas será que eu vou estar inteira até lá?
Por isso a frase do Sun Ying Hao ressoou muito em mim, para olhar e perceber a minha humanidade e os meus limites. E, principalmente, para deixar de ignorar até o meu próprio corpo dando sinais de que é melhor parar às vezes.
Não lembro exatamente onde li ou ouvi essa ideia, mas acredito cada vez mais nisso de que não é sobre o quão rápido você corre, mas o quão longe você vai. E para ser longevo no seu caminhar acho que a consistência fala mais alto que a intensidade. Passo a passo, recuperando o fôlego e se respeitando. Quero ir até a linha de chegada e não estar tão esgotada ao ponto de não poder aproveitar as minhas conquistas.
Bem, mesmo com essa breve reflexão, o sentimento de culpa não se foi de mim e talvez de você também não, mas acho que vale a pena a gente pensar cada vez mais nisso.
E se por acaso você já martelou sobre essa questão, sinta-se à vontade para comentar um pouco da sua vivência nos comentários abaixo.