Um complexo conflito jurídico entre o grupo feminino NJZ (NewJeans) e a agência ADOR, subsidiária da HYBE, ganhou novos capítulos em audiência nesta sexta-feira (07) no Tribunal Distrital Central de Seul.
Uma audiência é um procedimento para ouvir as declarações das partes, pessoas interessadas e referências, além de coletar materiais da audiência escrita, antes da decisão sobre a medida liminar.
A disputa, que envolve alegações de quebra de confiança, discriminação e interferência em atividades artísticas, começou em novembro de 2024, quando as integrantes anunciaram a rescisão unilateral do contrato exclusivo, acusando a ADOR de não as proteger de supostos abusos internos. Por outro lado, a agência defende a validade do contrato até 2029 e nega as acusações, argumentando não haver motivos legais para rescisão, afirmando ter cumprido obrigações como promoção, pagamentos e planejamento de atividades.
Embora o NJZ (NewJeans) não fosse obrigado a comparecer, todas as cinco integrantes estiveram presentes.
Os Pontos Centrais da Controvérsia
Rescisão do Contrato
As membros do NJZ (NewJeans) alegam que a ADOR falhou em cumprir obrigações de proteção. Segundo a defesa do grupo: “A HYBE e a ADOR discriminaram e excluíram o NJZ (NewJeans), substituíram-nos por outros grupos e tentaram destruí-los”.
Em contrapartida, a ADOR falou que: “Se você olhar para as circunstâncias que o NewJeans (NJZ) citou como motivo para rescindir o contrato exclusivo, é que “HYBE odeia o NewJeans (NJZ) e discrimina os membros”, mas não faz sentido para uma empresa privada com fins lucrativos enterrar sua própria principal, e única, fonte de receita”, e alegou que “o NewJeans (NJZ) está acumulando violações do contrato exclusivo.”
Suposto caso de descriminação e pedido para ignorar a Hanni
O emblemático caso do suposto assédio sofrido por Hanni em outubro de 2024, quando a integrante relatou que um gerente da Belift Lab instruiu membros do grupo ILLIT a “ignorá-la” também foi tópico na audiência de hoje. O caso ganhou repercussão nacional, chegando ao Comitê de Trabalho da Assembleia Nacional.
A ADOR apresentou registros de CCTV e conversas de KakaoTalk para contestar as alegações de assédio. No entanto, embora as imagens mostrem os membros do ILLIT se curvando em 90 graus para Hanni, não possuem áudio para comprovar qualquer alegação. A empresa acusou a ex-CEO Min Hee Jin, figura central na formação do NewJeans (NJZ), de “exagerar o incidente” para tentar justificar a rescisão.
As mensagens do KakaoTalk reveladas pela ADOR no tribunal mostram Hanni dizendo a Min: “Não lembro exatamente, eram palavras vagas”. Min, por sua vez, teria insistido: “Todos te ignoraram?”. Hanni porém, rebateu nas redes sociais, após a sessão, acusando a empresa de distorcer contextos: ““Eu me lembro de tudo exatamente, e eu queria dizer isso no tribunal antes, mas eu me segurei. Como você pode pegar uma parte de uma conversa e mudar o significado dela para beneficiar seu ponto de vista quando fui eu quem escreveu aquela mensagem?.”
Uso de Fitas Memoriais
Os advogados do NJZ (NewJeans) mencionaram o desastre da Jeju Air ocorrido em dezembro do ano passado e alegam que a HYBE tentou prejudicar a imagem do NJZ (NewJeans). De acordo com o grupo, durante uma apresentação no Japan Record Awards, as integrantes tentaram subir ao palco usando fitas pretas em lembrança, mas a HYBE os impediu de fazer isso.
O advogado afirmou: “Os membros tentaram usar fitas no palco japonês, mas a HYBE os impediu, dizendo que “isso pode criar um problema nas emissoras japonesas.” No entanto, ao verificar, a emissora japonesa disse que “não havia nenhum problema”, e no final, Hanni fez rapidamente uma fita memorial e subiu ao palco”, acrescentando: “Outros artistas pertencentes à HYBE entraram no palco usando uma fita memorial comum.”
A HYBE rebateu, explicando que coordenava o uso desses símbolos com emissoras e com cada subsidiária e seus respectivos artistas. Segundo a empresa, para evitar mal-entendidos culturais, ofereceu uma fita padrão a todos, mas respeitou a decisão do NewJeans (NJZ) de usar uma versão própria. Na época do ocorrido, o grupo já havia declarado a rescisão do contrato.
Batalha Jurídica
A ADOR entrou com uma ação para manter o contrato exclusivo (válido até 2029) e solicitaram uma liminar para bloquear atividades independentes do NewJeans (NJZ). A empresa afirmou que inicialmente entrou com a medida cautelar para evitar confusão e danos a terceiros, como anunciantes. No entanto, solicitaram ao tribunal que ampliasse para proibir não somente anúncios, mas também todas as atividades musicais, como composição, performance e canto, bem como todas as outras atividades auxiliares. Segundo a ADOR isso seria uma resposta à ampliação das atividades do grupo.
Em contrapartida, as artistas defendem que a relação de confiança foi irreparavelmente danificada, citando a demissão da ex-CEO Min Hee Jin, figura-chave em seu debut, como um marco da desestabilização.
O grupo expressou sua opinião ao júri, dizendo se sentir impotente ao perceber que a ADOR não tomou nenhuma medida contra a HYBE e outros selos que estavam prejudicando a performance e a imagem do grupo. Destacando que, antes disso, elas e a CEO Min Hee Jin estavam indo bem e felizes e que não entendem o motivo da separação.
Danielle acrescentou dizendo: “Somos uma equipe de seis pessoas, embora haja apenas cinco de nós no palco. A CEO foi atacada e artigos ridículos estavam sendo publicados, e eu tinha medo de perder tudo”. A artista ainda finalizou: “Os gerentes, CEOs e estilistas em quem confiei e quem eu confiava estão todos ausentes na ADOR. Não sei quem vai nos proteger quando voltarmos lá. Eu tenho 21 anos e não quero passar os próximos cinco anos assim novamente”, disse. “Então queria enfatizar que, não importa qual seja o resultado agora, eu nunca quero estar com a ADOR.”
Investimentos e Discriminação
A ADOR destacou ter investido 21 bilhões de won (cerca de US$ 15,6 milhões) no NewJeans (NJZ), negando qualquer motivação para “sabotar” seu principal ativo. Já os representantes do NJZ (NewJeans) argumentam que a HYBE priorizou outros grupos, como LE SSERAFIM, em detrimento delas como o fato delas debutarem depois do outro grupo e de contratos com marcas, alegação que levou a Source Music, agência do LE SSERAFIM, a emitir um comunicado negando favorecimento.
No comunicado, a Source Music rebateu, explicando que a parceria da marca começou com Sakura, do LE SSERAFIM, em 2022 e expandiu-se organicamente, sem ligação com outros artistas, enfatizando que possui “evidências objetivas” para apoiar suas alegações e está preparada para fornecer explicações legais, se necessário.
Sobre as alegações do NewJeans (NJZ) sobre o processo de debut, a Source Music contra-argumentou: “Até que a transição dos membros da NJZ para a ADOR fosse finalizada, fornecemos total apoio para seus preparativos de debut. Apesar disso, Min Hee Jin espalhou informações falsas durante uma coletiva de imprensa em abril do ano passado”.
A agência ainda destacou que processos judiciais contra a ex-CEO estão em curso. Por fim, condenaram a menção pública do LE SSERAFIM na disputa, classificando-a como “ato irresponsável” que expõe artistas a críticas injustas, e prometeram ações legais para “corrigir os fatos”.
“Nomear publicamente um artista com base em alegações não verificadas e imprecisas é um ato irresponsável e grave que jamais deveria ocorrer com qualquer artista. Tais alegações unilaterais não só sujeitam os artistas a críticas injustas, mas também confundem os fãs e o público, criando um ambiente onde acusações sem fundamento podem prosperar.”
Próximos Passos Legais
Outra audiência sobre a validade do contrato está marcada para 3 de abril. Especialistas apontam que a decisão da liminar poderá influenciar o desfecho final. Se a ADOR vencer, o NJZ (NewJeans) terá de suspender atividades até o julgamento principal. Caso contrário, o grupo seguirá independente, embora a HYBE possa recorrer.
Impacto na Indústria
O caso reacende debates sobre a dinâmica de poder entre artistas e grandes conglomerados de K-pop. O resultado poderá estabelecer precedentes para disputas similares, especialmente em cenários onde artistas alegam violação de direitos criativos ou laborais.