O K-pop não é apenas sobre brilho e performances de tirar o fôlego. Por trás dos palcos grandiosos, muitos artistas têm usado suas plataformas para abordar temas delicados, como a saúde mental, algo ainda cercado de estigma na sociedade coreana.
Através de suas letras, grupos e solistas encontram maneiras de expressar sentimentos complexos, que muitas vezes são difíceis de verbalizar. Para os fãs, essas músicas se tornam mais do que trilhas sonoras; elas oferecem conforto, compreensão e, acima de tudo, um lembrete de que ninguém está sozinho em suas lutas.
Na lista a seguir, exploramos algumas das obras mais marcantes que trouxeram esse tema para o centro das conversas no K-pop.
“Good Day” – IU
“Good Day“, da IU, é uma obra que combina leveza melódica com profundidade emocional surpreendente. Apesar do ritmo alegre, a música revela a tensão interna entre o desejo de mostrar força e a realidade de carregar sentimentos como insegurança, vulnerabilidade e medo de não ser suficiente.
A letra constrói um cenário de emoções conflitantes, onde o sorriso esconde lágrimas e as palavras escolhidas cuidadosamente mascaram dores silenciosas. É como se a protagonista tentasse manter as aparências enquanto luta para equilibrar as expectativas externas com sua própria fragilidade interna.
O contraste entre a doçura da voz de IU e a intensidade dos sentimentos expressos transforma “Good Day” em uma narrativa universal sobre as pressões de parecer bem em um mundo que muitas vezes ignora as complexidades emocionais. Uma verdadeira declaração sobre a força de continuar, mesmo quando tudo que se quer é o oposto. A música está presente no EP “Real”, de 2010.
“Not Too Late” – Ateez
“Not Too Late“, do ATEEZ, que foi lançado em 2021 no EP “Zero: Fever Part.3”, é como um grito silencioso de quem já esteve à beira de desistir, mas encontrou forças para continuar. A música captura a dor de momentos em que o futuro parece distante e os dias se tornam pesados demais. Em vez de recorrer a clichês, a letra oferece uma reflexão crua e sincera sobre como, mesmo na escuridão mais densa, existe a possibilidade de enxergar um pequeno fio de luz.
A canção reflete a pressão invisível de fingir estar bem enquanto se carrega um peso emocional quase insuportável. Ela desenha o retrato de quem está perdido, mas ainda busca desesperadamente algo – um motivo, uma saída, uma resposta. “Not Too Late” não tenta aliviar a dor de maneira artificial; ela abraça o desconforto e transforma isso em uma mensagem de resistência, mostrando que admitir fragilidade também é um ato de coragem.
“You Never Know” – BLACKPINK
“You Never Know“, do BLACKPINK, é uma ruptura emocional dentro da discografia do grupo, trazendo à tona a vulnerabilidade muitas vezes escondida atrás de uma imagem impecável. A música aborda como os julgamentos alheios podem ser devastadores, especialmente quando vêm de pessoas que nunca experimentaram as dificuldades que criticam.
O quarteto utiliza a letra como uma forma de desabafo, expondo a realidade de carregar um fardo invisível enquanto o mundo observa de longe. Lançada no projeto “THE ALBUM”, de 2020, a canção convida o ouvinte a refletir sobre a empatia – ou a falta dela – que domina as interações humanas, especialmente na era digital.
“Nanana” – IMFACT
A música “Nanana“, do IMFACT, lançada em 2018, mistura uma batida animada com uma mensagem profunda sobre lidar com momentos difíceis. Embora a música tenha um tom leve e dançante, sua letra fala sobre a busca pela felicidade e a luta contra as dificuldades emocionais. Ela nos lembra que, mesmo quando as coisas não estão bem, é importante continuar tentando.
A canção incentiva a perseverança, destacando a importância de se levantar e enfrentar os desafios. A mensagem é clara: mesmo quando as coisas parecem complicadas, não devemos desistir. “Nanana” é sobre seguir em frente e encontrar força, mesmo nos dias mais difíceis, mostrando que o processo de superação pode ser mais importante que o fim em si.
“Spring Day” – BTS
“Spring Day” do BTS não é apenas uma música sobre saudade – ela é uma jornada emocional crua e visceral. Lançada em 2017, como parte do álbum “You Never Walk Alone”, a canção se tornou um marco na carreira do grupo, não apenas pelo seu impacto sonoro, mas pela profundidade emocional que carrega. Quando ouvimos essa balada, somos transportados para um espaço onde a solidão não é apenas sentida, mas vivida intensamente. Não é uma saudade romântica ou superficial; é uma saudade de algo que não é apenas distante, mas perdido. A forma como o BTS usa o inverno como metáfora para a dor é perfeita: o frio que parece congelar o tempo, a espera que nunca parece ter fim. Mas, ao mesmo tempo, há uma promessa sutil de que a primavera virá. É uma dualidade entre o escuro e o claro, uma lembrança de que, por mais intenso que seja o inverno emocional, ele eventualmente dá lugar ao calor.
O que realmente faz “Spring Day” se destacar é a sinceridade com que o grupo aborda esse processo de superação. Não há a ilusão de que o sofrimento pode ser facilmente dissipado, mas a música oferece uma sensação de consolo em saber que a dor não define tudo. “Spring Day” tem algo de raro: ao invés de simplesmente celebrar a esperança, ela permite que você se perca em sua tristeza antes de apresentar a promessa de que, mesmo na ausência, algo novo está por vir.
Esse detalhe na letra – a sensação de espera que é constante e ao mesmo tempo dolorosa – faz com que a música se conecte profundamente com aqueles que já passaram por perdas, distâncias e transformações internas. Não importa onde você esteja ou o que tenha vivido, “Spring Day” fala de algo universal: o desejo de reencontrar aquilo que te faz sentir em casa, em paz. Mais que isso, ela nos ensina que a saudade não é algo que deve ser resolvido ou eliminado, mas que ela pode se transformar em uma força de resistência e, eventualmente, nos levar a algo novo.
O BTS, com essa música, oferece mais do que consolo: eles nos dão permissão para sentir, para viver as nossas ausências, mas também a força para esperar pela chegada da primavera – com a certeza de que, de alguma forma, ela vai chegar.
“Borderline” – Sunmi
“Borderline“, de Sunmi, é uma janela aberta para a batalha interna que muitas vezes se esconde por trás de sorrisos e holofotes.
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é uma condição de saúde mental marcada por instabilidade emocional, comportamental e relacional. Pessoas com TPB costumam vivenciar mudanças intensas e rápidas de humor, sentimentos de vazio profundo e um medo constante de rejeição ou abandono.
Essa sensibilidade extrema pode levar a comportamentos impulsivos, relacionamentos tumultuados e dificuldade em manter uma autoimagem consistente. Embora frequentemente confundido com outros transtornos, o TPB possui características únicas que exigem uma avaliação cuidadosa e um tratamento adequado, geralmente envolvendo psicoterapia e, em alguns casos, medicação.
A música lançada no EP “1/6”, de 2021, não apenas expõe as tensões entre a imagem pública e a fragilidade pessoal, mas também desafia as normas que exigem perfeição de quem está sob os olhos do mundo.
A melodia quase hipnótica cria um contraste inquietante com a intensidade da mensagem, refletindo um estado mental de oscilação entre o controle e o colapso iminente. A letra parece ecoar um pedido silencioso de compreensão, enquanto Sunmi explora a dificuldade de ser verdadeira consigo mesma em meio às expectativas sufocantes que a cercam.
É uma música autobiográfica, inspirada em sua experiência pessoal após ser diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. A canção reflete sua coragem ao abordar um tema tão íntimo, desafiando os tabus da sociedade coreana e os padrões rígidos da indústria do entretenimento.
Em “Borderline“, cada palavra carrega o peso de um grito não ouvido, uma vulnerabilidade que é ao mesmo tempo corajosa e desesperada. É um lembrete poderoso de que até mesmo as pessoas mais admiradas enfrentam batalhas invisíveis, e que reconhecer essas lutas não é fraqueza, mas sim força.
