São Paulo, 30 de Dezembro de 2022
Texto: Ana Beatriz Medella
Alerta de gatilho: substâncias ilícitas, transtornos psicológicos e suicídio
Essa semana fomos surpreendidos pela notícia de que Daesung, após 16 anos, encerrou suas atividades com a YG Ent. o que indicaria sua saída do grupo Big Bang.. Após o encerramento do contrato dos membros T.O,P e Taeyang com a empresa YG Entertainment, ainda estava em discussão a renovação com os idols com Daesung e G-Dragon. Porém, de acordo com a matéria da News Naver, postada no dia 26 de Dezembro, a conversa entre a empresa e Daesung chegou ao fim com a decisão de não renovação contratual.
No entanto, junto ao comunicado emitido pela empresa também foi anunciado que o rapper continua como membro do grupo e de que seria sempre bem-vindo para futuras colaborações. Ainda não houve pronunciamento direto de Daesung, mas já se sabe que ele seguirá sua carreira na sua junto a The Black Label, liderada por Teddy Park, que é a casa de idols como Jeon Somi e Løren.
Em Fevereiro de 2022, a YG Ent. anunciou que o grupo BIGBANG teria seu comeback entre Março e Junho deste ano. Junto ao comunicado, houve o anúncio de que T.O.P estaria deixando a empresa, mas que ele continuaria a participar das atividades do grupo. O mesmo se repetiu em seguida com o membro Taeyang, que assinou com a subsidiária The Black Label para dar continuidade à carreira.
Restando apenas a discussão acerca da renovação ou não do contrato de G-Dragon, ficam também outras dúvidas sobre maiores detalhes desse novo modelo de relação que tem surgido entre idols já estabelecidos na indústria e as empresas. Essa nova relação permite que os artistas continuem a produzir junto aos companheiros de grupo ao mesmo tempo que ganham mais liberdade para seus projetos solos. Para os fãs fica a preocupação de saber se o grupo chegará a ter outros comebacks e lançamentos de álbuns e também a curiosidade de poder conhecer um lado mais autoral de cada artista.
Para além disso, há outra questão a ser levantada com a maior liberdade dos idols. Não é de hoje que o Kpop é conhecido pelos abusos e polêmicas que perpassam a relação entre empresa e seus idols. Desde a época de trainees até artistas com carreiras consolidadas, sabemos que fantasmas assombram a imagem perfeita que o pop coreano projeta para o mundo. Com o novo formato de contrato, os idols não somente têm mais espaço para trazer trabalhos autorais, como também para falar sobre terem que corresponder aos altos padrões cobrados pelas empresas e pelos próprios fãs.
- PROBLEMÁTICAS E POLÊMICAS ENVOLVENDO O GRUPO e a YGE:
Em 2018, com a ida de G-Dragon para serviço militar, o futuro do grupo que se consagrou com um dos mais famosos do Kpop seguiu com a ausência do rapper. O single “Flower Road”, cantada pelos outros quatro membros do grupo, foi direcionada aos fãs antes do grupo entrar em hiatus e teve sua letra escrita por T.O.P e G-Dragon.
Até aquele momento, o alistamento dos outros membros já era previsto e o grupo entraria em pausa até que todos estivessem de volta. Porém, conforme o planejamento seguia o escândalo que ficou conhecido como “Burning Sun Scandal”, envolvendo diretamente o nome de Seungri, na época, membro do grupo e diretor publicitário da casa noturna veio à tona com acusações que se estendiam de cafetinagem à corrupção policial. É válido acrescentar aqui que Yang Hyun-suk, Fundador da YG Entertainment, também teve seu nome relacionado às acusações e precisou prestar depoimento sobre o ocorrido. Junto a outras questões que atingiram a empresa no mesmo período, a situação culminou na renúncia do fundador.
Outro problema que abalou o grupo aconteceu em 2017, quando o primeiro membro a se alistar, T.O.P, foi expulso pelo uso de marijuana. Junto a essas, há mais acusações parecidas que caíram sobre idols da empresa. Em Setembro de 2021, o ex-IKON, B.I foi expulso do grupo após ser acusado por uso de substâncias ilícitas. Por sua vez, o idol se declarou culpado logo na primeira audiência.
- SAÚDE MENTAL E A INDÚSTRIA MUSICAL SUL-COREANA:
Fora da YGE e além das diversas acusações que recaem sobre a empresa e também sobre seus idols, a saúde mental dos artistas que estão no Kpop é um assunto recorrente e tema de preocupação. Kang Daniel foi um dos cantores que já falou abertamente sobre sofrer com depressão, ansiedade e ataques de pânico. O idol até mesmo tratou sobre a temática em seu álbum lançado em Abril de 2021.
A rotina exigente e a alta cobrança por atingir padrões de perfeição atinge também as mulheres que fazem parte do meio, como é o caso de Jeongyeon que passou por dois afastamentos para cuidar da saúde mental. A cantora foi diagnosticada com síndrome do pânico e ansiedade.
Infelizmente, uma fala mais aberta em relação à saúde mental de idols continua a ser um tabu. Um dos estandartes do pop coreano é a imagem de perfeição de seus artistas, sempre sorrindo e com a aparência física impecável. Em casos extremos nos deparamos com ocorridos de artistas que acabam por tirar a própria vida por não sentirem que correspondem ao que é exigido.
- POSSÍVEIS MUDANÇA E NOVAS FORMAS DE CONTRATO:
Agora em 2022 e após longos e turbulentos anos, o aguardado comeback com “Still Life” do BIGBANG, veio junto a mudanças que mudam não somente a estrutura do grupo como parece anunciar uma mudança estrutural no próprio Kpop.
Podemos ter um relance do que está por vir ao lembrarmos de que antes dos membros do BIGBANG optarem por uma carreira solo e também participarem das atividades do grupo, os membros do GOT7 já haviam seguido por um caminho parecido. Na entrevista cedida à revista QUEM em Julho de 2022, Jackson Wang afirmou ser difícil fazer com que agenda dos membros fosse de comum encontro a todos, sendo necessário deixar de dois a três meses livres para que o projeto de comeback acontecesse. Entretanto, diferente do que aconteceu entre o GOT7 e a empresa JYP Entertainment, a YG Ent. continua a ser detentora do nome do grupo.
O que faz esse caso do GOT7 ser tão conhecido é que, fora estarmos falando de um dos grupos mais famosos da JYPE, os membros obtiveram propriedade intelectual e propriedade sobre o nome do grupo. Da trajetória percorrida pelo GOT7, posteriormente à saída da JYPE, já temos álbuns solo lançados, shows, turnês e atuações em k dramas.
Mesmo que vejamos comebacks do grupo em menor regularidade, é possível acompanhar e se surpreender com a liberdade criativa e versatilidade dos idols. Essa nova possibilidade de viver a carreira ainda está sendo desenhada, mas indica outras possibilidades de continuidade de grupo e de maior independência artística. A maior liberdade também cria um espaço onde os idols possam mostrar mais de si enquanto pessoas caso se sintam à vontade e mostrarem que são mais profundos do que os moldes prontos nos quais precisam se encaixar.
Fonte: AllKpop, Naver News, QUEM