Anônimo, porque ainda é uma luta em pauta.
São Paulo, 30 de junho de 2023
Junho é um mês bastante interessante, mundialmente o “mês do orgulho”. Arco-íris e bandeiras para todos os lados, manifestações pacíficas e não pacíficas que acontecem ao redor do mundo, um tempo de lutas e de celebrações. Andei por aí com pulseiras de miçangas formando a minha bandeira. Não fui a nenhum evento público. A visão de dentro do armário é incômoda, mas segura.
Pra mim é, então, um período de quieta afirmação. Por isso, trouxe uma pequena lista de músicas e MVs que, na minha opinião, trazem em si a experiência de estar fora do “padrão”, e como lidar com isso de alguma forma. Vale ressaltar que essa é minha experiência, e, mais importante, minha interpretação.
A primeira, e uma das que bate mais forte é “Sorry, I love you” do Stray Kids:
Quando foi lançada, a melodia e expressão das vozes, já foi suficiente para instalar a melancolia. Ver a letra e me sentir representada ali foi um mar de lágrimas.
Afinal de contas, a experiência de ter nosso amor repreendido ou nos sentir culpados por causa dele é bastante comum na sigla.
Outra música muito impactante, e essa ainda mais pela história contada no MV, além da data de lançamento, é “ALL IN” do MONSTA X:
A música foi lançada no dia 17 de maio de 2016, Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. O MV traz um relacionamento homoafetivo entre os personagens retratados por dois membros do grupo. Sofrendo abusos e rechaços, mas seguindo firmes em sua verdade e seu amor.
Na mesma linha, e no mesmo ano, SISTAR lançou “One more day”:
No MV, duas membros também representavam um relacionamento homoafetivo, mas uma delas era casada com um homem abusivo. Num verdadeiro momento de justiça com as próprias mãos, elas matam o marido e seguem juntas.
Numa pegada muito mais fofa, e completamente tirada da minha cabeça, “What is love” de TWICE é o pleno momento de descoberta da possibilidade de amar, sem muitas aflições, e ser amado de volta. Ver tantas cenas bonitas recriadas só com as membros, também mexeu na química do cérebro de muita gente, que eu sei.
Ainda com um girl group, acho que não poderia escrever esse texto sem mencionar o hino sáfico “Oh my god”, de (G)I-dle:
O imaginário do MV, as cores, e principalmente a letra “Oh my god, she took me to the sky” [Ò meu Deus, ela me levou pro céu] foi interpretado por muitos, inclusive por mim, como uma descrição e celebração de um relacionamento entre duas mulheres, mesmo não tendo confirmação a respeito pelo grupo.
Como não só de girl group vivemos, uma música que fala de amor próprio, ou falta dele, e de como vivemos alguns relacionamentos, “Reflection” faixa solo do RM, não saía da minha playlist: uma lembrança de não estar sozinha nos meus sentimentos, mesmo que os sentimentos do autor da música fossem sobre outras reflexões de si mesmo. A letra “I wish I could love myself” [ eu gostaria de conseguir me amar] ressoou comigo por uma longa jornada de descoberta.
Pra quem, como eu, é mais velho no K-pop, outra música melancólica, e que, a princípio, nada tinha de LGBTQIA+ é “MONSTER” do BIGBANG:
O MV, no entanto, e as poucas partes que eu entendia da letra eram suficientes para encontrar ligações entre as minhas descobertas – e minhas culpas, geradas por anos de preconceito internalizado – e o eu lírico da canção; em especial o final de repetidos “I think I’m sick” [ acho que estou doente].
Essa lista, claro, não pode deixar de contar com HOLLAND, atualmente um dos únicos K-idols assumidamente gay. “NEVERLAND” é a pura expressão do medo e da esperança. HOLLAND, se mantendo na indústria e continuando seu caminho como artista é uma inspiração pra mim, e muitos outros.
Por fim, menção honrosa ao grupo OnlyOneOf – que defende as pautas e representa com frequência casais homoafetivos em seus MVs. A discografia deles completa poderia ser usada nessa lista, mas como é tempo de se sentir feliz e orguhoso dentro da nossa própria pele, deixo a recomendação da coreografia mais afrontosa deles: “LibidO”:
Esse é um recorte pessoal, focado em sexualidade, não em identidade de gênero, e não é nem de longe uma lista exaustiva do tema. Mas espero que as experiências possam ressoar com você, leitor.
Nós resistimos, encontramos esperança onde e quando possível, e vivemos. Orgulhosos de quem somos.