Paraná, 29 de Junho de 2023
Texto por: Mariana Luzan @mianaluzan
Na atual conjuntura da internet, tudo acontece e se dissemina rapidamente. As informações são postadas e repassadas com mais e mais agilidade a cada dia. Isso é um grande avanço na comunicação? Absolutamente. Poucos anos atrás, jamais se imaginaria que um acontecimento na Coreia do Sul chegasse tão rápido ao Brasil, mas a magia da internet proporciona esse tráfego de informações em tempo real.
O que não dá pra ignorar é que, apesar do benefício incontestável da rapidez no repasse de informações, a checagem de veracidade do conteúdo dessas “notícias” acaba ficando em segundo plano. As pessoas perderam o costume (ou até mesmo a capacidade) de contestar uma informação recebida pela internet, porque esse processo acontece muito rápido. O usuário lê o texto (às vezes só a manchete) e automaticamente já repassa. A fonte? Não importa.
E não, esse não é um texto sobre sua tia que acredita até hoje na fake news de que o micro-ondas pode causar câncer. É sobre você, fã de K-pop, consumidor de cultura e música — e, por consequência, notícias.
O K-pop é um gênero que tem uma forte base na internet. Os números das interações relacionadas a esse universo nas redes sociais é exorbitante, e isso é muito bom. A internet torna o consumo mais democrático e cria interações muito bacanas entre os usuários. Dá pra falar de grandes melhorias sobre o espaço cultural dentro da internet. Entretanto, pelo fato de estar na internet, o K-pop também sofre com as partes negativas do ambiente online, e uma das piores é a disseminação imediata de informações sem a checagem adequada.
Esse tipo de comportamento não é exclusivo dos fãs de K-pop. Desde o tio que manda links de notícias claramente falsas no grupo da família ou a prima que coloca o famoso “chip da beleza” porque alguma blogueira disse, sem fontes confiáveis, que funciona (não caiam nessa, até a ANVISA proibiu a propaganda). A problemática disso é que, às vezes, as mesmas pessoas que conseguem identificar esse tipo de notícia falsa com facilidade acreditam que jamais cairiam numa.
Mas não é bem assim que funciona. Uma fake news não é sempre uma notícia absurda que deixa explícito que é impossível aquilo ser verdade. No K-pop, principalmente, a produção da fake news, às vezes, nem é proposital. Estamos falando de um gênero que é pensado numa língua de valor comunicativo menos aplicável. O coreano não é ensinado em escolas ou usado como língua franca, e mesmo as pessoas influenciadas pela onda hallyu nem sempre são fluentes, ou possuem conhecimento suficiente para traduzir ou identificar erros nas traduções automáticas das redes sociais e plataformas de vídeo — que colocam vários idols em saias justas e os obrigam até a prestar esclarecimento oficial por conta de um mal entendido na comunicação.
O problema é que, em casos como esses, de erro de tradução, nem sempre as pessoas compartilham quando a situação é resolvida e esclarecida. Existe esse grande prejuízo no qual a retratação não alcança tantas pessoas quanto a polêmica. E isso não é um problema de alcance de plataforma, ou engajamento. É um problema de usuários, que compartilham num primeiro momento, sem procurar checar a fonte da notícia, quem fez a tradução, ou informações sobre o contexto, e preferem só usar aquilo para falar mal do artista — e, não raramente, alimentar fanwars porque é conveniente naquele momento. Quando a polêmica é esclarecida, as mesmas pessoas que disseminaram aquela informação, que não era verídica, não compartilham a retratação e/ou esclarecimento feito pelas fanbases ou até mesmo pelo artista. Algumas dão até aquela justificativa esfarrapada de “muito texto, não vou ler”. Isso é consumo irresponsável e conveniente. A pessoa está literalmente compartilhando fake news em detrimento de um artista para beneficiar o seu favorito.
Outro caso muito comum de irresponsabilidade no consumo de informações é quando o usuário da internet toma todas as especulações como verídicas. Sem fonte — e fonte confiável —, a informação não deve ser repassada como se fosse verdadeira. Sem discussão. Não importa se é uma revista, um portal de notícias ou uma conta pessoal. Se você não tem certeza se é verdade — e a “notícia” não te oferece elementos suficientes para confirmar isso —, não compartilhe só porque lhe convém!
É preciso consumir com responsabilidade. Só haverá um ambiente online mais saudável para os fãs de K-pop quando os próprios usuários adotarem o comportamento consciente na hora de filtrar e compartilhar informações. Desde fanbases e portais especializados, até contas de fãs sem intuito jornalístico, é tarefa de todos promover sempre a verdade, checar as informações, criar credibilidade e tornar a experiência dos fãs cada vez mais saudável e leve num ambiente que tem sido tão tóxico.
Para um consumo consciente de informações:
1. Sempre cheque as fontes;
2. veja se a tradução foi feita da forma correta;
3. Não alimente discussões por causa de notícias que não foram confirmadas oficialmente;
4. Saiba reconhecer matérias sensacionalistas, que usam clickbait apenas para conseguir acessos;
5. Se por acaso cair e repassar alguma fake news, compartilhe o esclarecimento que for divulgado posteriormente sobre o assunto.