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LIM KIM, o uso da arte como ferramenta de combate ao racismo

Design: Darlís Santos

Para além de temas alegres e divertidos, a música coreana também é utilizada como ferramenta para expor situações racistas das quais pessoas amarelas são vítimas. E foi pensando nisso que hoje, Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, viemos indicar alguém que usa seu trabalho para dar voz ao assunto.

Antenada em tudo que permeia a hallyu, a cantora LIM KIM não gosta de se limitar e prefere não definir o estilo de música com o qual trabalha. Em uma entrevista, disponível no seu canal do Youtube, ela diz ter “o desejo de que as pessoas foquem mais na música dela e nas mensagens e intenções que ela carrega do que tentar definir o que ela faz”.

Cantora independente desde 2019, a artista fez sucesso ao participar do programa “Superstar K3”, em 2012. Hoje, aos 30 anos, o objetivo dela é elevar a voz de pessoas asiáticas, especialmente das mulheres, frente ao racismo que elas sofrem.

Suas músicas contém críticas àqueles que não são capazes de ver idols, e pessoas asiáticas em geral, para além da fantasia que criam em suas cabeças. Fetichismo e estereótipos são rebatidos com letras potentes e muito amor pela sua cultura.

Ainda na infância ela já sabia que gostaria de trabalhar com música. Mas foi só a partir do debut que ela começou a se perguntar qual caminho seguir em sua carreira. Tendo lançado três álbuns solo quando estava em sua antiga agência, LIM KIM teve um início brilhante, vencendo dois prêmios em 2013, um de Artista Revelação do Ano, no “Melon Music Awards”, e outro de Novo Artista do Ano, no “Golden Disk Award”.

Por mais promissora que fosse sua carreira, a artista começou a se questionar sobre os caminhos que gostaria de trilhar. A resposta veio quando, em 2019, ela se lançou no mercado independente.

Filha de coreanos que emigraram para os Estados Unidos, ela já percebia, desde a infância, como a visão das pessoas sobre as mulheres asiáticas era diferente, tidas como submissas, quietas e dóceis. LIM KIM sentia que precisava entrar em contato com a própria identidade e, assim, usar seu trabalho para expor um lado longe dos estereótipos aos quais era associada. E se antes ela cantava músicas que refletiam os pensamentos das pessoas que as haviam composto, agora ela tinha a possibilidade de se expressar livremente. Ela havia, enfim, achado o propósito para seu trabalho.

Com o plano em mente, era preciso executá-lo e, devido à sua importância para a artista, ela decidiu fazer isso lançando seu primeiro EP independente por meio de crowdfunding.

Ter o apoio de fãs e familiares dava a LIM KIM um valor mais significativo à obra, assim como para aqueles que pudessem contribuir porque, no final, todos fariam parte do mesmo projeto.

ÁSIA NÃO É UMA COISA SÓ

Mesmo vivendo na Coreia ela tinha a impressão de estar vivendo sob a visão e os costumes que o Ocidente espera de pessoas asiáticas. Por esse motivo ela concentra seus esforços em redefinir a ideia de Orientalismo presente na sociedade enquanto vive a vida à sua maneira.

O EP “GENERASIAN” surge repleto de críticas às maneiras como as pessoas asiáticas são tratadas ao redor do mundo. 

A principal ideia por trás do álbum é explorar as diversas perspectivas das histórias de mulheres de países asiáticos, algo que ela faz muito bem na faixa-título “YELLOW”.

Com uma letra potente e desafiadora, LIM KIM coloca em xeque toda a submissão com a qual mulheres amarelas são associadas quando, no refrão da música, repete o título “YELLOW” que passa a soar como “yell out” (gritem, em português).

Caracteres em mandarim, danças coreanas, figurinos indianos e palavras cantadas em japonês compõem o MV da música onde ela não deixa pedra sobre pedra ao atacar diretamente a ideia deturpada e eurocentrada de que, por vir da Ásia, culturas e pessoas são todas iguais.

Para além do EP, a cantora lança, esporadicamente, singles que contribuem para reforçar o seu lado ativista. Direta e questionadora, LIM KIM não pede desculpas por ser quem é e reforça, com todas as letras, a importância de se escrever sua própria história. Numa data voltada para a luta antirracista, precisamos ativamente rever nossos posicionamentos e entender o que eles refletem — assim como jamais diríamos que todos os brasileiros são iguais, reduzir um continente inteiro a uma dúzia de esteriotipos é impensável.

림킴 (김예림) (LIM KIM) – VEIL MV (youtube.com)

[온스테이지2.0] Lim Kim – 민족요(ENTRANCE)(with Salon De Cassé, 전주 판소리 합창단) (youtube.com)

(3) LIM KIM X 1MILLION – 궁 (ULT) PERFORMANCE VIDEO – YouTube

Fontes: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9)

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