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São Paulo, 10 de outubro de 2024.
O medo não deveria ser uma condição comum na vida das mulheres, mas infelizmente é. Não importa em qual grau ou contexto, várias formas de abusos se repetem na rotina pessoal e profissional de boa parte da população feminina. Na Coreia do Sul, essa realidade ganha números alarmantes e preocupa a sociedade. Esses dados, alimentados pelo machismo estrutural, fazem da mulher um alvo fácil. Nesta edição do HIT!Politics, vamos refletir sobre as possíveis causas de tanta violência.
Quando falamos em igualdade de gênero, a Coreia do Sul ocupa a posição 99 de um total de 146 países acompanhados pelo Global Gender Gap Index, uma organização que estuda a disparidade de gêneros. Impossível acreditar que esses números não afetariam, negativamente, a segurança feminina no país. Em termos de violência doméstica, por exemplo, segundo pesquisa e artigo publicado no editorial do The Sisa Time em 2023, 80% das mulheres sul-coreanas já relataram ter sofrido algum tipo de abuso.
Diante de tanto risco, a quem podemos recorrer?
Leis, em primeira instância, são o principal suporte. Então fazê-la ser efetiva, justa e imediata deve ser uma luta de todos. Os movimentos feministas da Coreia do Sul buscam ser uma rede de apoio amplo e capaz de atuar em múltiplas frentes: cobrando a aplicação da lei, prestando assistência às vítimas, conscientizando por meio da educação e propagando críticas que apontam as consequências do machismo estrutural no país. Diante desse cenário preocupante, o momento de fazer algo é agora.
Arte e cultura estão ganhando força no papel de mostrar onde e como a violência contra mulheres acontece. O popular livro “Flower of Fire” da jornalista sul-coreana Hawon Jung coloca uma lente de aumento acerca dos direitos femininos negligenciados no país ao longo dos tempos. A representatividade é importante para apontar o risco das normas patriarcais e de como elas replicam ou normalizam a violência. Precisamos discutir essas pautas para educar as sociedades, coreana e brasileira, contra qualquer tipo de abuso à mulher.
A endemia da violência contra mulheres na Coreia do Sul
Para combater esse cenário tão violento, políticas públicas são necessárias e indiscutivelmente urgentes. No ano de 2018, como resposta aos pedidos do movimento Me Too na Coreia do Sul, a pena por abuso sexual foi ampliada de 5 para 10 anos de prisão. O período de prescrição do crime também mudou, antes era de 7 anos e agora é de 10 anos, no entanto, essas medidas e mudanças ainda não reduziram as taxas de casos no país. Uma em cada três mulheres sul-coreanas já foram submetidas a algum tipo de violência física ou sexual, segundo estudo de 2021 da Organização Mundial da Saúde – OMS.
Não é confortável encarar a gravidade dessa realidade. Hoje, no Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher, temos a responsabilidade de reforçar os alertas, reunir vozes e acionar medidas que devolvam uma segurança real, fixa e igualitária para toda população feminina. Seja na Coreia do Sul ou no Brasil, a busca por justiça e ampla seguridade para todas é um direito humano, então a conscientização deve ser uma ação infinita e rotineira, independente do país ou cultura. Enquanto uma de nós sentir medo ou ser vítima, nenhuma de nós se sentirá 100% tranquila e segura.