Texto: Cida Silva
Design: Cintia PM
Com a profissão de idol sendo cada vez mais popular, dentro e fora da Coreia do Sul, é comum que este seja o sonho de muitas crianças e adolescentes. Quando o mundo reconhece o poder cultural e monetário do K-pop, fica difícil não ser este também um ponto de atenção para a população sul-coreana. Seja nas agências de entretenimento ou nas academias de dança, a presença massiva de crianças no quadro de trainee é muito normal, mas não deixa de ser preocupante.
Como esperar que crianças de 12, 13 ou 14 anos tenham a preparação física e emocional para lidar com tudo que a vida artística exige? Pressão estética, agendas abarrotadas de atividades nacionais e internacionais, além da obrigação de corresponder todas as expectativas do público, da mídia e do mercado. Essas são algumas demandas com as quais um idol precisa lidar todos os dias.
Segundo dados compartilhados pelo Ministério da Educação e o Serviço Nacional de Seguro Saúde ao deputado Kim Woni, os casos de crianças entre 6 e 11 anos tratadas contra depressão aumentaram 91,5% em 2022. A fase que deveria ser lúdica e desprovida de pressão não escapou dos padrões de sucesso estipulados pelo mercado. Como mediar esse contato prematuro entre crianças e o universo do entretenimento?
Nomes como Chuu (ex-Loona) e Lee Seung Gi (cantor e ator) atuam até hoje na luta por mais transparência, fiscalização e um sistema de maior proteção para os artistas, principalmente jovens ou recém iniciados na indústria. Ambos foram vítimas de políticas empresariais que lesaram seus direitos enquanto pessoa e artista. A história deles gerou algumas mudanças importantes na esfera social e jurídica do K-pop.
Em abril de 2023, o Comitê de Cultura, Esportes e Turismo da Assembleia Nacional da Coreia do Sul aprovou a “Lei de Desenvolvimento da Indústria Popular da Cultura e das Artes”. A emenda ficou conhecida como “A Second ‘Lee Seung Gi Crisis’ Prevention Act”, com diretrizes que estipulam conduta de transparência financeira e controle da carga horária de trabalho dos artistas que ainda não alcançaram a maioridade.
Diante da nova emenda, as agências precisam compartilhar relatórios financeiros junto ao Comitê de Cultura, Esporte e Turismo, no mínimo uma vez ao ano. Contudo, foram os termos sobre limites de horário que provocaram um misto de descontentamento e protesto por parte de algumas Associações de Entretenimento da Coreia do Sul.
Nos casos em que o idol tem menos de 12 anos, a carga horária semanal não pode ultrapassar o limite de 25 horas. Para artistas entre 12 e 15 anos de idade, esse limite passa a ser de 30 horas semanais com o máximo de 7 horas por dia. Nas alegações das Associações, a Lei coloca em risco o desempenho dos artistas e limita o crescimento do K-pop.
É válido lembrar que na lei sul-coreana a maioridade é a partir dos 20 anos. No âmbito jurídico, pessoas com menos de 18 anos ainda são consideradas crianças. Outro tópico necessário é a obrigatoriedade da agência fornecer acompanhamento psicológico para o idol antes, durante e depois da sua estreia. A emenda ainda enfrenta críticas por parte da indústria, mas permanece sendo respeitada, mesmo com uma fiscalização frágil.
A performance que acontece no palco também depende do que acontece fora dele. Os bastidores do K-pop coexistem com os do mercado e nessa relação a voz do lucro é muito alta, mas não pode silenciar o eco das necessidades e dos direitos de cada idol. Porque não queremos música a qualquer custo. Antes dos números, dos shows ou do entretenimento, a prioridade precisa ser a integridade física e emocional dos artistas.