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O ideal de alguns não deveria ser a lei de todos. Na Coreia do Sul, a realidade da comunidade LGBTQIAPN+ ainda lida, diariamente, com os efeitos de uma política influenciada por dogmas conservadores e religiosos. Direitos como o de registrar um casamento ou formalizar uma adoção, por exemplo, são garantidos apenas a casais heterossexuais. Em 2023, Jang Hye-yeong e outros 12 legisladores apresentaram o primeiro projeto de lei buscando alterar esse código civil e incluir o casamento homoafetivo como um direito legítimo.
No entanto, estamos em 2024 e nada nesse cenário sofreu alguma mudança jurídica. A diferença de opiniões é sempre bem-vinda em nossos estilos de vida e cultura, mas quando estamos tratando de direitos humanos e civis, a igualdade de acesso precisa existir. Invalidar quem o outro é ou privá-lo de usufruir da liberdade que tantos recebem, só contribui para a promoção de mais preconceito, violência e exclusão.
É válido lembrar que os valores confucionistas ainda sugestionam as decisões políticas e sociais na Coreia do Sul. Esse dogma religioso valoriza o conceito de linhagem familiar feita de forma “natural” e “tradicional”. A ausência de leis que sejam capazes de romper com esses ideais no âmbito federal acaba afastando os membros da comunidade LGBTQIAPN+ do seu direito de constituir, formalmente, uma família.
Respirando os efeitos de uma política reacionária, parte da população sul-coreana se opõe a projetos estaduais que desconsideram a diversidade de gênero. A decisão de manter eventos em apoio ao mês da visibilidade LGBTQIAPN+ em 2024, mesmo enfrentando proibições por parte do governo, não foi só um posicionamento de resistência, foi também um lembrete de que estamos falando de pessoas, de gente que sente diferente porque não nascemos para repetir outras vidas, nascemos para viver a nossa. Negar a diversidade é condenar tudo e todos a uma existência embalada em padrões desumanos.
Cultura, mídia e tradição têm sua parcela de responsabilidade na oposição dessa visão não inclusiva dos acordos sociais e políticos da Coreia do Sul. Levar essa discussão para dramas, jornais e programas de variedade é um mecanismo que torna essa pauta cada vez mais discutida, divulgada e comentada nas redes, educando enquanto informa e conscientizando enquanto humaniza o debate.
Os programas: “His Man” (2022 e 2023) e “Merry Queer” (2023), além dos dramas com protagonismo Queer; são produções que estão contribuindo para apresentar a rotina de pessoas que buscam ou que já têm um relacionamento dentro da comunidade LGBTQIAPN+, saindo de suposições e apresentando ao público a vida como ela é, com as suas diferentes possibilidades de relacionamentos. A presença de amores diversos em dramas e programas é um ato responsável por incentivar mudanças na opinião pública coreana.
Ocupar as ruas coreanas no mês do orgulho LGBTQIAPN+ foi uma resposta colorida aos que tentam delimitar o mundo em um pensamento preto e branco. Falar da vida ou falar do amor é falar sobre pluralidade. Porque amamos, mas do nosso jeito, e toda forma de amor merece espaço, liberdade e respeito. Então para muito além de junho, desejamos que todo dia seja a data perfeita para amar quem somos e quem o outro é.