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São Paulo, 26 de fevereiro de 2025.
A Coreia do Sul se mostrou um berço tecnológico desde o primeiro dia de sua fundação e as casas Hanok (한옥) são um belo exemplo disso. As construções milenares, comuns nos cenários dos K-dramas de época, representam a arquitetura tradicional do país e ressaltam a sagacidade de um povo que buscou se adaptar às estações severas da região e ainda usufruir de uma moradia confortável e amiga do meio-ambiente.
No nosso HIT!History de hoje, vamos fazer uma viagem no tempo para explorar a evolução desse estilo arquitetônico e descobrir alguns segredos.
Surgimento e evolução
A história das casas Hanok começa na Idade da Pedra Lascada, por volta do ano 700.000 a.C, quando a península sul-coreana começava a ter seus primeiros moradores. E já no Período Neolítico, cerca de 6.000 a.C, as pessoas começaram a habitar cabanas escavadas no chão, as quais possuíam algumas folhas e galhos como cobertura.
Até que no começo da Idade do Ferro (1.200 a.C) essas escavações foram dando espaço a construções com paredes, colunas, telhados mais estruturados e com o chão da residência sendo feito de forma elevada.

Na chamada Era dos Três Reinos (século V), construções mais sofisticadas como palácios e templos começaram a ser comuns, o que trouxe à tona o uso de telhas e consequentemente o desenvolvimento de telhados de duas ou quatro águas.


Com a propagação do budismo na Dinastia Goryeo (918 -1392), mais santuários estavam sendo levantados e isso ajudou a aperfeiçoar ainda mais as técnicas coreanas em construção com madeira e adorno.
Também foi uma época em que a região teve contato com arquiteturas de outros países e assim, já no século XIV, o sistema de aquecimento Ondol começou a ser difundido. Nele, é feito uma estrutura que espalha calor pelo chão para manter o ambiente da casa agradável no inferno.

Chegando na Dinastia Joseon (1392 -1910) e com a ideia do Confucionismo dominando a nação, alguns espaços residenciais começaram a ser pensados de maneira que separasse homens e mulheres ou priorizasse os mais velhos. Os projetos das casas também sofreram variações de acordo com a geografia e clima da região.
Por que Hanok?
A palavra “hanok” é a junção de dois caracteres chineses: “han” (韓), que significa “povo coreano” + “ok” (屋), que quer dizer “casa”. No passado, Hanok fazia referência a toda construção feita no estilo coreano, isso englobava além das moradias dos cidadãos, os templos e palácios.

Somente no final de 1975, o termo foi incluído no dicionário sul-coreano com a seguinte definição: “(…) usado para se referir a casas construídas no estilo arquitetônico tradicional coreano em comparação com edifícios de estilo ocidental”, e é este o conceito que prevalece até hoje.
Estrutura e rituais de construção

Na base, são colocados blocos de pedras para deixar a fundação sólida e inabalável. Depois, temos o material principal: madeira. Ela é usada para fazer as colunas de sustentação, vigas e estrutura do telhado.
E para juntar tudo isso, os carpinteiros não usam parafusos, mas uma técnica de encaixe que faz cada peça se conectar firmemente uma à outra.
Para encher as paredes, chão e teto da casa, usa-se argila vermelha, a qual é conhecida por sua excelente capacidade em absorver e regular a umidade dentro da moradia, de modo a garantir uma temperatura agradável em dias de calor extremo.

Na parte do acabamento, temos as portas e molduras de janelas feitas com madeira, que são cobertas com papel Hanji. Esse material desenvolvido pelos coreanos é feito com cascas de amoreira, é bem resistente e proporciona boa ventilação mesmo com a Hanok completamente fechada.

E mais do que apenas levantar uma nova habitação, a construção foi vista pelos coreanos, desde o começo, como um ato importante para o bem-estar. Assim, eles buscavam garantir a segurança daquele ambiente, por isso, cada etapa era acompanhada de um ritual. Desde uma leitura espiritual do solo onde a casa seria erguida, até cerimônias para celebrar a conclusão do esqueleto principal.
Faz bem ao corpo e ao meio ambiente
Como pudemos ver, os recursos usados no desenvolvimento da Hanok são completamente naturais, por isso, sua formação é considerada ecologicamente correta, pois não agride o meio ambiente, mas se mistura à ele.
Em uma reportagem de 2013 feita pela Arirang TV, o professor Kim Gyeong-su, na época reitor de arquitetura da Universidade de Myongji, disse que “Hanok pode ser considerada uma arquitetura que abraça as pessoas na natureza porque atrai para si aspectos da natureza. São [casas] ecológicas. Elas usam energia da natureza absorvendo energia solar”. E concluiu: “Hanok é arquitetura que salva a natureza e a raça humana”.


Interior e exterior de uma Hanok (Créditos: Reprodução/Auri National Hanok Center)
Sim, o organismo humano também pode se beneficiar com a moradia tradicional e a família Oh testemunhou esse fenômeno. O casal Oh Gyeong-seok e Jo Sang-hee moraram em uma Hanok desde que se casaram, mas decidiram se mudar para um apartamento quando seu filho, Oh Jeong-taek, tinha sete anos de idade.
O jovem começou a sofrer de eczema (doença inflamatória na pele), mas, assim que seus pais decidiram voltar para a Hanok, os sintomas sumiram. “Acredito que morar em uma hanok curou a dermatite dele”, disse a mãe, Jo Sang-hee, em entrevista à KBS.
Preservação nos tempos modernos
Atualmente, existem várias vilas de casas Hanok espalhadas pelo país, tanto em regiões mais afastadas da capital como em Hamyang-gun e na própria Seul, que abriga uma aldeia tradicional em Bukchon — este último sendo um ponto muito presente no itinerário dos turistas.
Assim, algumas famílias ainda habitam essas residências, mas não é a maioria da população, pois o estilo tradicional foi ficando difícil de manter por conta do custo, dando espaço aos apartamentos, que promovem um aproveitamento maior de espaço e acabam sendo mais convenientes com a vida moderna.

E essas construções também foram resignificadas com o passar do tempo, sendo reformadas com vidro e outros elementos mais atuais para abrigar estabelecimentos como restaurantes, cafés e até hoteis.
Para perpetuar ainda mais o estilo tradicional, também existem empresas que são especializadas na construção Hanok, usando métodos ancestrais e contemporâneos para manter viva a cultura arquitetônica da Coreia do Sul.

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