Revisão: Bia Martins
Design: Mafê
A música cura
São Paulo, 30 de abril de 2025.
Durante séculos, a música foi vivida de forma essencialmente coletiva. Antes da popularização dos aparelhos eletrônicos, das gravações em fitas, dos CDs e, mais recentemente, das plataformas de streaming, a experiência musical era, na maior parte do tempo, partilhada.
As pessoas se reuniam em praças, feiras, festas religiosas e celebrações populares para ouvir, tocar e cantar juntas. Em muitas casas, a música era feita em roda, com instrumentos simples, e as canções eram transmitidas de geração em geração.
É claro que sempre existiram aqueles momentos mais íntimos, de alguém com seu instrumento ou sua própria voz, mas a cultura musical predominava como um espaço de convivência.
Com o tempo, vieram as tecnologias que possibilitaram o registro e a difusão da música em escala. Primeiro as vitrolas, depois os rádios, as fitas, os CDs e, mais tarde, os downloads digitais e os serviços de streaming.
Hoje, ouvimos o que queremos, quando e onde desejamos. Ainda assim, a música mantém sua vocação de criar conexões, seja entre multidões em um festival, seja entre dois fones de ouvido conectados pelo mesmo cabo ou via Bluetooth.
Aplicação medicinal
Quero trazer alguns dados científicos para irmos além das palavras, quando se trata do poder de cura da música. Diversos estudos e especialistas na área da saúde mental comprovam que ela possui um papel terapêutico importante.
A American Music Therapy Association (AMTA) define a musicoterapia como uma prática clínica, baseada em evidências que utiliza a música para alcançar objetivos terapêuticos, promovendo bem-estar emocional, social, cognitivo e físico.
No Brasil, a musicoterapia é reconhecida como profissão e pode ser estudada em cursos de graduação específicos ou em formações oferecidas em instituições de saúde como o CAPS, o Centro de Atenção Psicossocial.
Nesses espaços, a música é utilizada como ferramenta terapêutica para pessoas em situação de sofrimento psíquico. Profissionais dessas instituições relatam melhorias significativas na qualidade de vida, autoestima e expressão emocional dos pacientes.
Um estudo publicado no Journal of Music Therapy apontou que a música pode reduzir sintomas de ansiedade, depressão e dor, além de melhorar a qualidade do sono. O psicólogo norte-americano Daniel Levitin, autor do livro “A Música no Seu Cérebro”, defende que a música consegue modular nossas emoções, atuar no sistema límbico, região responsável por regular emoções e comportamentos, e promover sensação de acolhimento e pertencimento.
A minha cura
Como sempre tive a música como arte favorita, não consigo me imaginar sem ela. Cada momento importante da minha vida teve uma trilha sonora marcante. Seja na minha infância com MPB, samba e sertanejo; Minha adolescência com rock, rap, pop e J-music; e minha fase jovem adulta com funk, R&B e K-pop. Cada parte de mim ama e é transformada constantemente pela música.
Para mim, a música consegue acompanhar momentos que palavras não alcançam. Ela acolhe e permite o choro silencioso, a explosão de alegria, a catarse da raiva. Cada batida, letra ou melodia se conecta com a história de quem ouve. Seja para lembrar, esquecer ou somente existir no momento.
E foi isso que senti ao assistir o Stray Kids ao vivo, onde pude fazer parte de uma energia coletiva, mas também tive uma vivência pessoal intensa. Mesmo cercada de milhares de pessoas, cada um viveu a música à sua maneira, com lágrimas, sorrisos, gritos ou silêncio.
Não só como fã ou jornalista de música, desejo que todos vivam o show do seu artista favorito, deixando o som levar tudo o que não precisam para que permaneça somente o que é bom. Pois, para mim, é isso que torna a música tão transformadora.