Entrevistas, K-Hip Hop

Um papo da alma — Entrevista PENOMECO

Entrevista: Adê Moura
Tradução: Júlia Yasmin
Booking: Carol Steinert
Design: Vicky Barros

PENOMECO está de volta!

Responsável pelos hits BOLO” e “Shy (eh o)”, o rapper fez seu comeback com “Organic2”, dando sequência ao EP “Organic”, lançado em 2021.

O artista conversou com a HIT! para falar do lançamento e revelou as expectativas para o EP, informações sobre a carreira, curiosidades e um profundo carinho pelos fãs brasileiros. Confira abaixo a entrevista exclusiva.

Time HIT!: Essa faixa marca seu retorno depois de quase um ano. Quais são as diferenças entre “Organic” e “Organic2”? 

PENOMECO: “Organic” foi a primeira tentativa de refinar a essência, ainda carregando uma qualidade muito crua e natural. Por outro lado, “Organic2” procura apresentar uma versão mais polida e refinada, mostrando estar mais completo.

Time HIT!: Essa não é sua primeira vez lançando músicas com afrobeat*. O que te despertou tanto interesse nesse gênero?

PENOMECO: À medida que o gênero afrobeats foi gradualmente avançando, eu fui cativado por seu ritmo e vibe únicos. Fui inspirado por muitos artistas que são considerados representantes do gênero, como Wizkid, Burna Boy e outros.

*Criado por Fela Kuti, o afrobeat é um estilo musical que mistura os ritmos iorubá, jazz, highlife, funk, entre outros.

Time HIT!: Em entrevista à HIPHOPPLAYA, você comentou que no passado entrou em contato com pessoas nigerianas que moram na Coreia enquanto escrevia as letras para as músicas com afrobeat. O que você aprendeu nessa experiência?

PENOMECO: Eu não os conheci pessoalmente, mas me comuniquei com eles por mensagem. Isso foi para garantir que minha intenção de mostrar respeito não fosse mal-entendida ou mal-interpretada, devido à minha falta de compreensão de seu idioma ou cultura. Felizmente, a pessoa nigeriana com quem entrei em contato expressou elogios e gratidão, o que me deixou muito feliz.

Time HIT!: Ainda sobre essa época, você disse que tentou usar dicionários para entender um pouco das línguas faladas na Nigéria. Houve alguma palavra ou expressão que te chamou a atenção nesse processo?

PENOMECO: A palavra Igbo “omalicha” foi a que mais se destacou para mim. A pronúncia em si é encantadora e carrega o significado de “beleza”. Quem não gostaria disso? (risos)

Time HIT!: Em português temos a palavra “saudade”, que representa o sentimento melancólico de afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar. Sendo assim, existe algo ou alguém que tenha lhe causado saudades?

PENOMECO: Senti falta dos fãs que me apoiaram por tanto tempo. Devido a circunstâncias pessoais, não tive a chance de me apresentar ao vivo desde a pandemia, por isso não consegui encontrá-los. Estou me preparando para o dia em que nos encontraremos novamente.

Time HIT!: Se esse é o seu nível de comprometimento com o seu trabalho, o que podemos esperar das faixas-título “AURORA (feat. Crush)”, “ASURABALBALTA” e “SODA”?

PENOMECO: Eu tentei preservar a essência enquanto integrava o charme único que só eu posso expressar como pessoa coreana. Por exemplo, “ASURABALBALTA” é um tipo de canto que muitos coreanos estão familiarizados. Vocês podem pensar nisso como a versão coreana de “Hakuna Matata”. Prestei muita atenção para harmonizar essas expressões coreanas únicas com as características do afrobeat.

Time HIT!: No Brasil existem gêneros bastante populares como o samba e o funk carioca que, assim como hip-hop, surgiram nas ruas. Você gostaria de utilizá-los em suas músicas?

PENOMECO: Se eu tiver a chance, definitivamente quero trabalhar nisso! Mas, primeiro, preciso entender completamente o samba e o funk carioca, então vou me certificar de encontrar e ouvi-los com atenção. Se houver fãs brasileiros por aí, adoraria que vocês me recomendassem algumas faixas um dia desses.

Time HIT!: Se pudesse escrever uma letra para as batidas da música brasileira “Rap da felicidade – Cidinho & Doca”, sobre o que você gostaria de falar?

PENOMECO: Sou um grande fã do campeão meio-pesado do UFC e lutador brasileiro, Alex Pereira. Eu adoraria escrever letras como uma homenagem a ele, projetando minhas próprias ambições na história dele.

Time HIT!: No passado você lançou “RINDAMAN” com a participação do ZICO. Na versão solo lançada recentemente no YouTube você faz rap em japonês. Qual mensagem você quis passar nessa versão?

PENOMECO: “RINDAMAN” é uma faixa inspirada em um personagem do mangá japonês Crows. Estudei no Japão e sempre admirei o personagem RINDAMAN, que era conhecido como o mais forte no universo do mangá. Agora que me tornei um artista, pensei que esse seria o trecho perfeito para mostrar minhas habilidades no rap em japonês.

Time HIT!: “BOLO (Feat. YDG)” é uma faixa incrível. Você já esperava o alcance que ela teve ou isso foi uma surpresa para você?

PENOMECO: Primeiro de tudo, quero expressar minha gratidão por gostarem da minha música “BOLO”. Demorou dois ou três anos após seu lançamento para que ela começasse a ganhar atenção das pessoas. Então foi completamente inesperado para mim. Quando lancei essa faixa, o afrobeats ainda era um gênero não muito conhecido na Coreia. Hoje em dia, mais e mais artistas estão começando a explorar o afrobeats, e você pode ver a cultura em torno desse gênero emergindo gradualmente. Acredito que minha música “BOLO” contribuiu, até certo ponto, para o desenvolvimento do gênero na Coreia.

Time HIT!: Para a HIPHOPPLAYA você falou sobre a cobrança de algumas pessoas, inclusive da indústria, em relação ao que de fato pode ser considerado Hip-hop. Para você, quais as principais características do gênero?

PENOMECO: É sempre muito difícil responder perguntas como essa. É difícil para mim definir o significado exato, e meus pensamentos sobre isso mudam com o tempo. Eu ainda estou em uma jornada para encontrar a resposta para essa pergunta. Também acho que essa jornada pessoal, junto com a motivação e a determinação para transmitir minha mensagem, é o que o hip-hop é. Claro, meus pensamentos podem mudar a qualquer momento, e acredito que isso também faz parte do que o hip-hop é.

Time HIT!: E em relação à carreira, o que é preciso para ser considerado um rapper?

PENOMECO: O quão bem eu consigo fazer o spit* é importante, mas acredito que o que é realmente importante é o quanto eu consigo inspirar as pessoas com minha música.

*A tradução literal de spit é cuspir, o uso da palavra “cuspir” nesse contexto se refere à criar um verso de hip-hop/rap completo, rimado e bem elaborado.

Time HIT!: Na época do lançamento de “Rorschach” (que leva o nome de um teste psicológico)  você comentou ter feito o teste e o que mais havia te chamado atenção era o fato de não haver um certo ou errado. Tudo dependia da interpretação de quem estava vendo as imagens. Pensando nisso, como você equilibra os seus sentimentos diante da plateia e a expectativa do que as pessoas vão observar no seu trabalho?

PENOMECO: Expressar honestamente minhas emoções na frente de muitas pessoas é algo muito difícil de fazer. Por isso tento transmiti-las por meio da música e quando ela termina retorno a um estado mais racional. Esse é meu estilo, mas, assim como o teste de Rorschach, não há resposta certa ou errada.

Time HIT!: Você pode nos contar qual foi o resultado do seu teste?

PENOMECO: Eu gostaria de contar, mas vou me conter porque isso poderia interferir na sua experiência com a minha música. (risos)

Time HIT!: Você chegou a falar para amigos e colegas, em tom de brincadeira, que “Rorschach” seria seu último álbum. Você de fato já pensou em se aposentar da música?

PENOMECO: Acho que muitas das piadas foram fortemente exageradas. Quando lancei o álbum “Rorschach”, fiquei completamente sem energia e a fadiga me fez parar de pensar sobre meu próximo projeto musical. Até então, eu sempre tinha trabalhado com o próximo passo em mente. Então, quando mencionei casualmente em entrevistas para a mídia que talvez fosse hora de me aposentar, parece que isso virou um mal-entendido e tomou proporções exageradas.

Claro, agora eu já descansei o suficiente, e como eu não estava realmente esgotado, pude entregar “Organic2”.

Time HIT!: Qual música da sua discografia você considera vital para as pessoas escutarem se quiserem conhecer seu trabalho?

PENOMECO: Muitos fãs internacionais podem pensar em mim como um artista asiático que faz principalmente afrobeats. No entanto, sou, na verdade um artista que explora uma ampla quantidade de gêneros que quer fazer. Se você quiser experimentar algo diferente, recomendo o álbum “Dry Flower” e o álbum “Garden”. Se você gosta de hip-hop, então confira “Rorschach”, e se quiser ouvir afrobeats, recomendo “Organic2”. Espero que você possa experimentar todas as emoções que a música tem a oferecer, por meio do meu trabalho. Esse é o objetivo que continuo a perseguir na minha carreira musical.

Time HIT!: Quais as principais diferenças que você percebe no seu trabalho atual com o PENOMECO de 2014?

PENOMECO: Um senso mais profundo de maturidade, com certeza. Não sou mais tão jovem quanto costumava ser, então estou explorando minhas emoções mais intensamente e refletindo esses insights na minha música atual.

Time HIT!: Para encerrar, você pode deixar uma mensagem para os fãs brasileiros?

PENOMECO: Olá, fãs brasileiros!! Fiquei realmente surpreso e muito grato em saber que minha música está sendo ouvida em todo o Brasil. Esta entrevista fez o meu dia, e espero que se você estiver assistindo e ouvindo minha entrevista e minha música, você se sinta feliz neste momento!! Espero conhecê-los no Brasil algum dia!! MUITO AMOR ♥

Siga PENOMECO nas redes sociais

Instagram: @penomadeincorea
Soundcloud: PENOMECO
YouTube: PENOMECO

Videoclipe oficial de “ASURABALBALTA” (Créditos: reprodução/PENOMECO/YouTube)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *