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Um ritual de força e proximidade
São Paulo, 15 de setembro
Um início arrebatador
No último domingo, 14 de setembro, o Carioca Club se transformou em um templo do rock japonês. Com ingressos esgotados, a apresentação de Hyde, organizada pela GIG Music, reuniu fãs de diferentes gerações em uma noite que já nasceu histórica. O espaço, tradicional por receber grandes nomes da música alternativa em São Paulo, estava lotado de energia e expectativa antes mesmo das luzes se apagarem.
A abertura foi pensada para impactar. Com o palco mergulhado em tons de vermelho e preto, o cantor surgiu em uma estrutura elevada, quase como um palanque, que reforçava sua imponência.
Feixes de luz acompanharam sua figura, projetando sombras dramáticas nas paredes da casa e criando a sensação de um ritual de iniciação. Os vocais, firmes e arrebatadores, ecoavam como se fossem convocações, e a plateia respondia em uníssono, dando início a uma noite intensa e catártica.
A banda que o acompanhava foi parte essencial do espetáculo. O baterista, extremamente carismático, comandava os compassos com precisão e explosão, enquanto os guitarristas se revezavam em riffs pesados e solos de impacto. O baixo preenchia cada fresta sonora com pulsação firme, e os teclados adicionavam texturas que ampliavam a atmosfera.
A iluminação acompanhava o ritmo: explosões de branco e azul nos momentos mais agressivos, e jogos de luz mais sutis, em vermelho e amarelo, nos trechos introspectivos. Era como se cada canção tivesse sua própria narrativa visual.
Surpresas no repertório e energia da plateia
O setlist costurava presente e passado, reafirmando a relevância de Hyde. Grandes sucessos de sua carreira se encontraram com músicas mais recentes, sempre embalados por uma produção que equilibrava potência e emoção.
Entre as surpresas, a execução de do cover de “Fait” do Linkin Park arrancou gritos emocionados, enquanto a versão instrumental do hino nacional brasileiro na guitarra foi recebida como um gesto de respeito ao público local.
A plateia reagia com entrega total. No meio da pista, fãs se uniam em saltos coordenados, transformando a multidão em uma onda em movimento. Em outros pontos, os celulares erguidos captavam cada detalhe de luzes, suor e intensidade. Havia um senso de comunidade no ar, como se cada pessoa compartilhasse da mesma jornada sonora e visual.
Proximidade marcante com o público
Além da força vocal e instrumental, foi na proximidade com o público que o músico mostrou sua essência. Com simpatia, falou em português várias vezes, ao arrancar risos e aplausos calorosos.
Em um momento de pura ousadia, ele saiu do palco para surgir no camarote, onde circulou com uma pistola de água em mãos, que borrifou diversas vezes na plateia abaixo, enquanto fãs incrédulos registravam selfies e vídeos com o ídolo a poucos passos de distância.
O gesto descontraído contrastava com a intensidade das músicas, mas completava a experiência ao demonstrar um artista que sabe equilibrar entrega e diversão. O palco, banhado em dourado e vermelho nos minutos finais, transformava o encerramento em uma cena digna de espetáculo teatral.
Hyde, a realeza do J-rock
O desfecho deixou a sensação de se ter participado de algo memorável. O cantor mostrou maturidade e vigor em igual medida: um artista que, mesmo com décadas de carreira, não perde a capacidade de surpreender e emocionar. O público deixou o Carioca Club ainda envolto pelas imagens de luzes intensas, cenários marcantes e canções que ecoavam na mente.
Mais do que um show, o que se viu foi um encontro entre culturas e gerações. O sold out reafirmou a força do J-rock no Brasil, enquanto a entrega de Hyde provou por que ele é reverenciado como um dos principais nomes do rock japonês no mundo.
Setlist:
- “LET IT OUT”
- “AFTER LIGHT”
- “DEFEAT”
- “DEVIL SIDE”
- “TAKING THEM DOWN”
- “ON MY OWN”
- “Tokoshie”
- “6or9”
- “Faint (Linkin Park cover)”
- “MAD QUALIA”
- “SOCIAL VIRUS”
- “MIDNIGHT CELEBRATION II”
- “LAST SONG”
- “PANDORA”
- “HONEY”
- “Mugen”
- “GLAMOROUS SKY”
- “SEX BLOOD ROCK N’ ROLL”

