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Dia Nacional do Surdo: Conheça mais sobre a representatividade de pessoas com deficiência auditiva na Coreia do Sul

São Paulo, 26 de setembro de 2024.

O Dia Nacional do Surdo foi oficializado no país em 2008, por meio do decreto de lei nº 11.796, 26 de setembro foi escolhido por ser data da fundação da primeira escola de surdos no país: o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

No Brasil a segunda língua oficial do país é a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), porém ao redor do mundo, cada país tem uma forma própria de se comunicar. Um exemplo é a Língua de Sinais Americana (ASL) dos Estados Unidos. 

Na Coreia do Sul, a Lei da Língua de Sinais Coreana foi adotada em 3 de fevereiro de 2016 e entrou em vigor em 4 de agosto de 2016, ela estabeleceu a KSL – Korean Sign Language (Língua Coreana de Sinais) como idioma oficial para surdos no país. 

A KSL tem gestos avaliados em três critérios de usabilidade: intuitividade, preferência e estresse físico. Intuitividade é a conexão entre o próprio gesto e sua mensagem. Preferência é o quanto apreciamos ou não apreciamos o gesto quando apresentado. O estresse físico se refere a quanta tensão é colocada no corpo para realizar o gesto. O gesto exemplar é aquele que tem uma ligação límpida com o seu significado. 

Alfabeto da Língua Coreana de Sinais. Créditos (Foto: Reprodução/Journal of Sensors). 

Visibilidade necessária

Datas como essa são importantes em qualquer lugar do mundo, para podermos ter mais consciência e respeito sobre o dia a dia de pessoas com deficiência auditiva. Por isso trouxemos alguns conteúdos da mídia coreana que falam sobre esse assunto. 

K-dramas

Os Herdeiros” (2013), disponível na Netflix. Na história, a mãe da protagonista Eun Sang, a personagem Park Hee-nam, é uma empregada doméstica. Ela perdeu a voz quando tinha três anos de idade, após uma febre alta. Por ser muda, ela se comunica com a filha pela KSL. Com os demais personagens, ela utiliza a escrita e, por isso, sempre tem consigo uma caderneta e caneta para se expressar.

Melancia Cintilante” (2023), e está disponível pela plataforma Viki. A história gira em torno de Ha Eun-gyeol um garoto CODA, a sigla é uma denominação para crianças com audição nascidas de pais surdos. 

O protagonista tem um talento natural para a música, porém esse sonho não é aprovado pelos pais. De forma misteriosa ele acaba viajando no tempo até 1995. E descobre que seu pai está apaixonado por outra pessoa, que não sua mãe. Ha Eun-gyeol então tenta aproximar os dois, enquanto lida com diversas questões sobre o passado e o futuro. 

Poster oficial do K-drama Melancia Cintilante. Créditos (Reprodução/Divulgação tvN). 

A série em si aborda diversas questões sobre surdez, em várias perspectivas, é um drama sensível e ao mesmo tempo informativo. Nele podemos aprender sobre questões importantes da vida de pessoas com e sem deficiência auditiva e como elas interagem com o mundo a sua volta. 

É interessante ver como a narrativa mistura música e inclui a KSL, sem parecer apelativa ou forçada, a trama faz com que você se apaixone e se envolva com cada personagem de forma pessoal. 

K-pop

O BTS em 2021, apresentou a KSL e a Língua Internacional de Sinais na coreografia do videoclipe da música “Permission to Dance“. O grupo afirmou que decidiu incluir a língua de sinais porque queriam transmitir uma energia positiva, conforto e esperança a muitas pessoas em todo o mundo. 

A música foi lançada no período da quarentena do COVID-19 e tem um significado muito acolhedor para os fãs. Por isso, é bonito ver a forma de inclusão em um boy group tão conhecido na indústria musical. 

BTS (방탄소년단) ‘Permission to Dance’ Official MV

MV BTS (방탄소년단) ‘Permission to Dance’ Official. Créditos: Reprodução/BIGHIT MUSIC/YouTube).

Em 20 de abril de 2024, o Dia Nacional das Pessoas com Deficiência na Coreia do Sul, a empresa PARASTAR debutou o grupo Big Ocean, composto pelos membros Chanyeon, Jiseok e Hyunjin. Cada um dos integrantes tem um grau específico de deficiência auditiva.  Seu single de estreia foi um cover da música “Glow(빛)” do H.O.T. 

Grupo Big Ocean posa para foto, da esquerda para direita os integrantes são Jiseok,  Hyunjin e Chanyeon. Créditos (Reprodução Instagram @big_ocean.official)

Em entrevista para a HIT!Magazine em junho de 2024, Chanyeon revelou que escolheram  a canção pois: “Ela foi uma música lendária de 1998, quando a Coreia passou pela Crise Financeira do FMI (Fundo Monetário Internacional). Ela deu muita esperança para muita gente. Assim como essa canção, nós queríamos dizer para as pessoas que ‘você não está sozinho’, e que podemos construir um mundo melhor e brilhar juntos.”

Segundo Jiseok o processo para alinhar o canto e dança dos três foi bem trabalhoso, mas eles se esforçaram ao máximo para que desse certo: “Nós três temos diferentes graus de audição, o que significa que nossos reflexos e reações diante do mesmo som também são diferentes. Isso faz com que nossa dança seja mais difícil de sincronizar, mas sabíamos que não podíamos — e não deveríamos — usar nossa deficiência como desculpa. Nós perguntamos para todos da empresa os mínimos detalhes e praticamos mais e mais até que todas as células do nosso corpo soubessem a coreografia.”

Hyunjin também comentou sobre a escolha do nome do grupo: “O nome, Big Ocean, carrega o desejo do grupo de surpreender o mundo com nosso potencial que é tão vasto quanto o oceano. Além disso, assim como o oceano se espalha por todos os continentes, nós adoraríamos espalhar nossa influência positiva ao redor do mundo.”

A existência de um grupo como o Big Ocean e do K-drama “Melancia Cintilante” vem de um longo trabalho da comunidade surda sul-coreana e mundial. É significativo que nós como fãs de K-culture tenhamos consciência e respeito pela vida e história de cada uma dessas pessoas. 

Fontes: (1), (2), (3), (4), (5), (6). 

Sobre o autor

Jornalista, colunista e assessora de imprensa.
Sou Stay e falo sobre cultura pop no @akoninews.

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