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ATEEZ mostrando como se inspira a liberdade em “Guerrilla” — análise do MV.

Se existe algo crescendo na indústria do K-pop, são grupos que, desde a sua estreia, trazem lores — ou, para quem não conhece o termo: a construção e as informações sobre um universo ficcional — onde se desdobram todas as suas produções, desde músicas até trailers, ensaios fotográficos e videoclipes.

E, particularmente falando, um dos grupos cuja lore é uma das mais interessantes, atualmente, é o ATEEZ.

Desenhando um mundo distópico onde as pessoas são submetidas a um governo autoritário, a realidade delas é regida por um controle mental. A lavagem cerebral foi feita por essa “liderança”, sob a motivação de que: “as formas de expressão — arte, música, dança e outras — e os sentimentos são o motivo de o mundo ter se tornado algo ruim”, logo, controlar e anular eles se tornou a grande e péssima solução.

Obs.: Vale ressaltar que a lore do ATEEZ existe desde o debut e é muitíssima informação para condensar junto da análise, por isso, enquanto a HIT! está construindo seus conteúdos exclusivos para explicar as lores dos grupos atuais no K-pop, vou trazer de forma bem resumida para ajudar na compreensão de todo mundo, ok?

Vamos entrar na distopia de ATEEZ!

A começar pelas inspirações…

ATEEZ traz, na sua história, inspirações em grandes obras da literatura e cinema, como o livro de George Orwell, “1984”, e o filme alemão “Metrópolis”. E qual a semelhança entre os dois? A distopia! Ambas obras trazem o mundo mergulhado em um controle totalitário, que trata as pessoas como marionetes, tirando-lhes o direito à expressão, à arte, à liberdade de ser e existir conforme seus sentimentos.

Inclusive, o poster do filme Metrópolis foi utilizado como inspiração para um dos cenários no MV!

Além disso, o livro 1984, traz “o olho” como uma associação de controle e uma constante lembrança de que todos naquele universo estão sempre sendo observados e acompanhados pelo Grande Irmão. Em Guerrilla, ATEEZ traz esse mesmo elemento por uma perspectiva de primeira pessoa.

Ou seja, com uma lente “olho de peixe” — que causa esse efeito de perspectiva ocular e traz uma abrangência maior de cenários que outras lentes fotográficas — vemos exatamente o que o sistema controlador vê. E, nesse caso, são os nossos Guerrillas.

Além disso, também vemos Hongjoong surgir em uma tela de exibição para inúmeras pessoas cuja postura é rígida e impassível, representando a alienação do povo através da comunicação passada em massa pelo sistema regente. Depois da intervenção do grupo, vemos a tela ter toda a sua exibição corrompida.

E ainda há toda a ambientação do vídeo, que evidencia o contexto de evolução tecnológica e industrial, com dirigíveis e imensas estruturas, de onde também vêm todas as bases de controle e alienação da população. Inclusive, é no surgimento do dirigível do ATEEZ que encontramos mais uma inspiração!

Quando a intervenção dos Guerrillas chega ao seu auge, vemos um dirigível deles surgir entre os demais com o “A” pintado. A cena seguinte é inspirada em uma cena da série La Casa de Papel, onde vemos dinheiro sendo jogado pelo dirigível sem nenhum remorso.

E quando lembramos que a extinção da arte e das emoções culminou na riqueza industrial e tecnológica, a coisa toda ganha sentido.

Tudo que é bem material e investimento, adquirimos através do dinheiro, enquanto a ação da arte é o desejo de expressar algo; às vezes, sequer precisando de algum tipo de equipamento. Quando ATEEZ se livra deliberadamente daquilo que custeou o aprisionamento das emoções, eles estão jogando no chão as grades dessa prisão e clareando a visão de todos, de que há um caminho para além daquele regime totalitário.

Mas como conseguiram fazer tudo isso?

Bem como nas obras que levam a revolução como força-motriz, há sempre um elemento em comum: a infiltração!

Assim como existem pessoas que trabalham como lacaios dessas ações dos ‘governantes’ para controlar a população em 1984, em Guerrilla vemos que também existem pessoas agindo nas estruturas e controle dos canais de comunicação do lugar onde estão, como essa estrutura sonora que — à minha interpretação — é do rádio de recados.

E como bons rebeldes, temos o líder Hongjoong sendo um dos primeiros infiltrados no sistema, para sabotar o acesso sonoro à essa transmissão. Além dele, temos Wooyoung e Yeosang, dando a cartada final para a ação dos Guerrillas. Enquanto o primeiro causa uma queda de energia, o segundo aguarda a reativação para ligar a nova transmissão das rádios.

A partir daquele momento, o que todos irão ouvir será bem diferente…

Assim, chegamos à mensagem!

“Dance, quebre a parede com nosso sentimento / Se espalhe, guerrilla / Nós gritamos assim, alto, mantenha isso barulhento / Até que todos abram seus olhos” canta o refrão da música, evidenciando que o grupo vem com força total para instalar a revolta ao sistema, usando a sua maior arma: a música.

E devo ressaltar que o uso da expressão “quebre a parede” me lembrou de uma expressão do cinema bastante popular: a quebra da 4ª parede. Essa expressão fala de quando o eu-lírico das obras assume uma postura consciente de si e, por isso, consegue falar com o espectador, diretamente.

Aqui, ATEEZ parece usufruir dessa expressão para, não somente falar com o ‘povo’ do seu universo para se rebelar, mas com os espectadores que assistem ao MV — quebrando a sua 4ª parede e levando a mensagem aos fãs.

Na sequência, também vi que é através do segundo rap — feito por Mingi — que fica explícita a promessa dos rebeldes.

“Vamos ser barulhentos, como meu coração quer / Vibe e batida explosivas, grito até morrer / Eu prometo, até que eu me livre da luz e da escuridão / A raiva vai fazer toda a Terra tremer / Se juntem, nós vamos acabar (Nós vamos acabar) / Música é a arma, Hooligan (Hooligan)”

Inclusive, eu me apaixonei por como as costuras e referências entre cenário, letra e coreografia são feitas.

Bem como Mingi explica que a arma deles é a música, há um momento da canção que Wooyoung faz um passo na coreografia onde ele simula o destrave de uma granada enquanto eles cantam “Faça o movimento” simbolizando a investida dos rebeldes.

Mas também, temos uma representação incrível do cenário quanto às armas do grupo. Seus tanques são as caixas de som, seus revólveres são os microfones e instrumentos e, por fim, as munições são as vozes que cada um possui para entoar a música pela liberdade.

E aproveitando as bandeiras evidentes, vamos falar de rebelião!

O ATEEZ trabalhou de forma inteligente a associação da sua marca, que também começa com a letra “A” junto da simbologia de um movimento político que se opõe a qualquer regimento de hierarquia e dominação.

A ideologia Anarquista.

E nem eu — tampouco o ATEEZ — estamos declarando algo como “o ATEEZ é oficialmente anarquista” ou coisa parecida. Estamos somente exibindo como é incrível saber utilizar o poder da arte associado à política e à cultura.

Aqui, eles resgatam a importância da história e do conhecimento sobre a sociedade, ao saber utilizar uma ideologia cujo conceito e objetivos casam perfeitamente à sua expressão artística.

E ainda sobre a arte, vamos encerrar com a produção dessa obra-prima!

Afinal, eu não poderia deixar de citar o trabalho impecável dos produtores desse MV.

Guerrilla tem uma paleta de cores impecável e, acima de tudo, um trabalho de edição feito com um imenso carinho.

Regado à inspiração e perfeição, temos os corpos dos integrantes mesclados com camadas distorcidas do cenário, transições de cena que nos fazem viajar. Por exemplo, quando aparece o fundo da van e viajamos pela visualização da sua janela.

Dali, caímos diretamente na sala de controle de Yeosang, onde há uma pequena tela que direciona para as câmeras de vigilância que captam a fuga de San.

Cena 1)                                                             Cena 2)

Cena 3)                                                             Cena 4)

E, por fim, também devo elogiar os momentos de cenários paralelos usados no videoclipe, especialmente no final.

Aqui, acredito veemente que o ATEEZ encerra a entrega da sua mensagem com perfeição, declarando “We are the guerrillas” enquanto a edição do vídeo mostra o peso dessa frase: se na sua lore, o solo de batalha do Ateez, em uma das vezes, é apresentado como o topo das coberturas de comando, no mundo real, o seu campo de batalha são os palcos.

É neles que o grupo pode disseminar a sua mensagem, reforçar seus ideais por um mundo em que as pessoas possam se expressar, sentir e ser quem são, verdadeiramente, sem represálias — e aqui eles afirmam o quão estão dispostos a isso.

Eu tomei de volta / Vire o tabuleiro nesse jogo.

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