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HIT!Politics: O que a política tem a ver com o K-pop?

Design: Cintia PM

Campina Grande, 13 de dezembro de 2024.

O que a política tem a ver com o K-pop?

Na política global, nem tudo se resolve com armas ou guerras. Existe uma força mais sutil, porém igualmente poderosa: o soft power. A Coreia do Sul, ao apostar no K-pop como parte de sua estratégia para se destacar no cenário global, mostrou como a música pode moldar opiniões, abrir portas e até transformar a imagem de uma nação.

Mas o que seria esse “soft power”?

Conceito popularizado pelo cientista político Joseph Nye, ele trata da capacidade de um país influenciar outros por meio de sua cultura, valores e estilo de vida, sem recorrer à coerção ou ao poder econômico. Podemos pensar no “American Way of Life” (“Estilo de Vida Americano”, em tradução livre) difundido por Hollywood, ou no jazz, como símbolo dos EUA durante a Guerra Fria. A Coreia do Sul seguiu esse exemplo, porém, ao invés de cinema, investiu na música, nos famosos K-dramas e na moda, criando a Hallyu Wave – ou, onda coreana.

Com isso, o K-pop se firma no mercado do entretenimento como uma ferramenta política. Cada clipe dos seus grupos e idols favoritos não só promove coreografias impecáveis e músicas viciantes; eles também trazem a imagem de uma Coreia moderna, jovem e globalizada.

Se você já viu o BTS discursando na ONU, o SEVENTEEN se tornando embaixador da UNESCO ou o BLACKPINK se apresentando no Coachella, pode não ter percebido, mas estava assistindo à diplomacia em ação. O K-pop não é só sobre performances de tirar o fôlego; ele carrega mensagens e valores que ultrapassam fronteiras culturais. A relevância de grupos como estes é maior do que apenas conquistar fãs ao redor do mundo, eles também levaram a Coreia do Sul para o centro das atenções globais.

Em 2018, o BTS subiu ao palco das Nações Unidas para falar sobre autoaceitação e coragem, enquanto sua campanha “Love Myself”, em parceria com a UNICEF, arrecadou milhões para causas sociais. Já o SEVENTEEN, enquanto Embaixadores da Boa Vontade da UNESCO, promovem a importância da educação e da igualdade, usando sua plataforma global para amplificar causas nobres.

Além disso, grupos da nova geração, como Stray Kids e TXT, levaram o K-pop a festivais internacionais como o Lollapalooza, um dos maiores festivais de música do mundo. Essas ações comprovam que o K-pop vai além do entretenimento: ele é uma poderosa ferramenta de influência política, conectando culturas, transmitindo valores e projetando a imagem da Coreia no cenário internacional.

A expansão global do gênero é um símbolo de como a Coreia do Sul utiliza sua economia criativa como uma força motriz para o desenvolvimento nacional. Desde os anos 1990, o governo sul-coreano investe em setores culturais como música, séries e jogos, reconhecendo que a criatividade pode impulsionar o crescimento econômico. Esses esforços transformaram a cultura sul-coreana em um produto de exportação valioso, gerando bilhões em receitas anuais. Em 2019, por exemplo, o impacto da Hallyu Wave na economia nacional foi estimado em aproximadamente R$63,4 bilhões, abrangendo áreas como turismo, beleza e gastronomia.

No entanto, o crescimento exponencial desse mercado também revelou desafios significativos; como o próprio modelo de produção do K-pop.

Os idols passam por anos de treinamento intenso, com agendas rigorosas que muitas vezes impactam sua saúde física e mental. Essa abordagem, embora eficaz em criar artistas multifacetados, levanta questões éticas sobre as condições de trabalho e a sustentabilidade do modelo. Além disso, a natureza competitiva do mercado doméstico sul-coreano força os artistas a buscar relevância global desde o início de suas carreiras, o que cria pressões adicionais para adaptação a diferentes mercados culturais.

Todo esse movimento transformou o K-pop em uma plataforma de diplomacia cultural que conecta a Coreia do Sul a milhões de pessoas em todo o mundo, e os idols desempenham um papel central nesse processo, muitas vezes atuando como embaixadores culturais e agentes de mudanças sociais – como mencionamos lá no início. Porém, o impacto político do K-pop não se limita às ações dos artistas.

A mobilização dos fãs em torno de causas sociais e políticas também é um exemplo de como a música pode influenciar a esfera pública. Fandoms organizados já arrecadaram fundos para movimentos como o “Black Lives Matter” e sabotaram campanhas políticas conservadoras, como no caso do comício de Donald Trump em 2020, além de outros exemplos mais recentes. Essas mobilizações digitais exemplificam como o K-pop não apenas conecta pessoas, mas também inspira mudanças sociais e engajamento político em escala global​.

Em paralelo a tudo isso, podemos destacar, ainda, o papel sutil – mas importante – do K-pop nas tensões entre Coreia do Sul e Coreia do Norte. Conteúdos culturais sul-coreanos, são frequentemente contrabandeados para o norte, desafiando a rígida censura do regime. Embora não seja uma solução direta para os conflitos geopolíticos da península coreana, essa influência oferece uma forma de resistência simbólica, mostrando como o soft power pode transcender barreiras físicas e ideológicas​.

Na esfera social, o K-pop também rompe barreiras tradicionais e promove debates sobre temas como igualdade de gênero, diversidade e saúde mental. Idols que desafiam normas culturais ou se posicionam sobre questões sociais ajudam a fomentar discussões que ultrapassam o público da música, alcançando um impacto mais amplo. 

O K-pop é, sem dúvida, um fenômeno global que vai muito além de uma simples tendência musical. Ele molda a política, fortalece economias e influencia questões sociais ao redor do mundo. 

E você, sabia que esse impacto vai muito além dos palcos? 

Fontes: (1), (2), (3), (4)

Sobre o autor

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), escrevo sobre geopolítica e outras coisinhas :)
Para sugestões de pauta: jjoanaelen@gmail.com

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