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HIT!Queer: Mais que uma história de amor, “A Criada” é uma poderosa metáfora de resistência contra a opressão patriarcal e colonial

Para celebrar o “Dia da Visibilidade Lésbica”, comemorado neste dia 29 de agosto, o HIT!Queer desse mês traz o filme “A Criada” (classificação indicativa +18 anos), que mostra como o cinema pode explorar e celebrar o amor entre mulheres, desafiando as normas patriarcais e revelando a complexidade e a profundidade de uma experiência de amor e resistência lésbica. 

O filme “The Handmaiden” (2016), ou aqui no Brasil “A Criada”, dirigido por Park Chan-wook, é uma obra-prima do cinema sul-coreano que, além de inovar na sua narrativa, traz uma fotografia impecável e uma história de amor emocionante.

A Criada“, tem um elenco de peso trazendo como protagonistas Kim Min-hee (Lady Hideko), Kim Tae-ri (Sook Hee/A Criada) e Choo Jin-woong (Tio Kouzuki). É um filme complexo que entrelaça temas como colonialismo, poder e identidade, sem esquecer do romance.

A trama do filme é dividida em três partes e se desenvolve em volta dos três protagonistas e suas histórias: uma mulher rica que vive com o tio pervertido, um golpista que tenta fazer com que essa mulher se apaixone para ficar com o seu dinheiro, e uma jovem criada.

Cada parte é contada pelo ponto de vista de um dos personagens, fazendo com que a narrativa só seja entendida, realmente, no fim, nos levando há uma montanha russa de sentimentos.

O filme critica as dinâmicas de poder utilizando a relação lésbica das protagonistas como uma metáfora de resistência e subversão. No contexto de um país sob ocupação, o filme se torna uma reflexão sobre a luta pela autonomia, tanto nacional quanto individual.

O filme é baseado no romance “Fingersmith” da autora britânica Sarah Waters, no entanto, o diretor adapta brilhantemente a história para o contexto da Coreia ocupada pelo Japão nos anos 1930, um período marcado por tensões culturais e políticas.

A ocupação japonesa é central na trama, refletida na maneira como os personagens coreanos e japoneses interagem. A personagem principal, Lady Hideko, vive sob a tutela de seu tio Kouzuki, um aristocrata coreano que colaborou com os japoneses. Ele nos traz a reflexão de como atuava a opressão cultural da época e o desejo de apagar a identidade coreana. Sua obsessão por literatura erótica japonesa e o controle que exerce sobre Hideko simbolizam o poder e o domínio japonês sobre a Coreia.

Em contraponto, o filme também apresenta formas de resistência. Sook-hee, a criada, representa a classe trabalhadora coreana, e sua aproximação com Hideko pode ser vista como uma forma de subverter a ordem colonial. A maneira como as duas mulheres manipulam e enfrentam o sistema que as oprime demonstra a resistência à dominação estrangeira e patriarcal.

O filme oferece uma representação bonita e complexa do desejo feminino, “A Criada” trata o relacionamento das protagonistas como uma forma de empoderamento mútuo e uma saída das opressões que ambas enfrentam.

Mesmo contendo cenas bastante eróticas e explícitas, o filme traz um romance romântico, com Hideko e Seok descobrindo seus desejos e aprendendo uma com a outra. Através de uma fotografia impecável o filme consegue transmitir sensibilidade em meio a brutalidade da guerra.

Por fim, notamos que a relação entre as duas mulheres também funciona como uma metáfora para a libertação das amarras patriarcais. Ao se unirem, não apenas desafiam as normas culturais, como também a heteronormatividade e os sistemas de opressão histórico-sociais. Sistemas os quais a comunidade  LGBTQIAP+ ainda sofre e luta a cada dia.

No dia 19 de agosto foi comemorado o “Dia do Orgulho Lésbico” no Brasil com o objetivo de celebrar a vivência de mulheres lésbicas, mas também de cobrar políticas públicas para a comunidade. A data faz uma homenagem a uma grande manifestação realizada em 1983, em São Paulo pelo grupo Ação Lésbica Feminina (GALF), após o proprietário do famoso “Ferro’s Bar” proibir a venda de um folhetim publicado pelo movimento além de proibir também a permanência das autoras no local. Com a manifestação, o dono do bar voltou atrás liberando a venda dos folhetins, uma pequena conquista para a época, mas que fez com o movimento crescesse cada vez mais em busca de conquistas ainda maiores no futuro.

Uma dessas conquista é o “Dia Nacional da Visibilidade Lésbica” celebrado neste dia 29 de agosto, com a intenção de colocar em evidência a importância da representatividade da mulher lésbica para a sociedade e a cultura. A data foi criada em 1996, durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, para lembrar a existência da mulher lésbica, bem como as violências sofridas e as pautas que são reivindicadas pelo movimento.

Confira o trailer abaixo:

The Handmaiden (A Criada) (Coreia do Sul, 2016)
Direção: Chan-wook Park
Roteiro: Seo-Kyung Chung, Chan-wook Park (baseado na obra de Sarah Waters)
Elenco: Min-hee Kim, Kim Tae-ri, Jung-woo Ha, Jin-woong Jo, So-ri Moon, Hae-suk Kim
Duração: 144 min.

Fontes: (1), (2), (3), (4).

Sobre o autor

Jornalista formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestranda em Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Apaixonada pela cultura pop e hallyu.

Nas horas vagas maratonista profissional de K-Dramas de terror.

Contato: kimberllysafraide@gmail.com

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