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Até onde devemos apoiar nossos idols?

No dia 17 de abril circularam pelas redes sociais fotos de Taehyung, conhecido como V do grupo BTS, em um uniforme preto das forças armadas, mais especificamente do destacamento SDT (Forças Especiais).

Nas fotos, V aparece no meio de outros soldados com um olhar compenetrado em seu uniforme preto e mirando com uma arma automática na área de treinamento com o dedo no gatilho.  

Essas fotos geraram grande movimentação e debates na internet, principalmente entre armys. Enquanto alguns apoiavam, elogiavam e comentavam o quanto estavam orgulhosos e como V estava atraente no uniforme militar, já outros armys seguiam em uma direção oposta, muito mais crítica.

Alguns armys criticaram a postura de Taehyung em se prestar a participar de uma propaganda militar, questionando a atitude do artista e disseram estar desapontados, além de alertarem sobre como estavam sexualizando o idol só por estar uniformizado. 

Apesar de não ser a primeira vez, nem será a última, que veremos nossos queridos idols demonstrando suas habilidades no exército coreano, a recepção das fotos de V nos fez perceber que os fãs estão começando a ficar cansados pela forma que o exército vem usando a imagem deles como propaganda militar.

Evidentemente, o fato do BTS estar prestando o serviço militar obrigatório e algumas de suas fotos circularem com eles uniformizados e realizando atividades militares não é à toa.

A propaganda militar é uma estratégia amplamente usada como forma de elevar a moral das tropas e do próprio país, assim como incentivar os jovens que irão passar uma grande parte da sua juventude dentro dos quartéis. Além de ser uma forma de defesa, tendo em vista o apelo mundial que o BTS tem por ser um grupo de fama global.

Porém, não podemos ignorar o contexto político e militar que a Coreia do Sul se encontra. As duas Coreias continuam tecnicamente em guerra, a tensão entre os países dura mais de 70 anos, tendo em vista que o armistício nunca foi assinado. 

Por isso há o alistamento militar obrigatório, ainda existem tropas americanas no país e também continuam as constantes demonstrações de força pelos dois países.

Outro ponto que merece destaque é o orgulho enraizado culturalmente sobre a defesa do país, que acontece justamente pela cultura bélica histórica que existe na Coreia do Sul, pelo contexto em que se vive há tanto tempo, mas mesmo assim não podemos ignorar que tal ideologia é problemática

Dessa forma, o acontecimento das fotos do Taehyung e sua repercussão nas redes sociais nos levam a questionar: Até onde devemos apoiar nossos idols?

Não temos como saber se a iniciativa de participar de tais fotos veio do V, ou se ele foi forçado a fazer isso, por isso, por mais que tal conduta vá contra as atitudes anteriores do grupo, o olhar crítico deveria recair sobre o porquê dos idols serem divulgados em tais ações de demonstração de força.

Elogiar um idol em uma situação como essa reforça a militarização e consequentemente todo o pacote associado a ela: a violência, o autoritarismo e a falta de liberdade, as quais são atitudes que vão de contra às mensagens passadas anteriormente pelo grupo. 

Em 2017, por exemplo, BTS doou milhões de dólares e falou abertamente na campanha LOVE MYSELF contra o fim da violência e também em mensagens direcionadas principalmente a Casa Branca e ONU sobre contra a violência a asiáticos, apoio a diversidade e inclusão.

Portanto, vangloriar idols nessas situações torna os fãs incoerentes sobre tudo aquilo que foi passado pelo BTS aos armys em suas músicas e atitudes. 

Obviamente, esse tipo de acontecimento não invalida a importância do BTS para a história da música coreana ou do crescimento do K-pop, muito menos tira o mérito do V ou qualquer outro dos meninos que forem colocados como propaganda militar, enquanto pessoa e artista.

O ponto principal de reflexão é: Enquanto fãs devemos desenvolver nossa visão crítica e condenarmos qualquer tipo de atitude que fomente a violência, principalmente a cultura bélica, por mais que ela esteja enraizada no país, e o uso pelas forças armadas dos idols como instrumento de propaganda e defesa.

Não devemos ser ingênuos, mas estarmos cientes de que sua presença em tais campanhas têm interesses políticos e militares por trás.

Fontes: (1), (2), (3)

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