Destaques, Entrevistas

Um convite para desacelerar – Entrevista com Baek Seung-yeon

Entrevista: Camila Corrêa Amorim
Design: Jéssica Fernandes


Em um mundo onde tudo é instantâneo, um pequeno estabelecimento em Seul convida seus clientes a desacelerar.

A Loja de Cartas de Seul”, publicado aqui no Brasil pela Editora Intrínseca, é uma ficção de cura de tocar o coração que acompanha Hyoyeong, uma aspirante a cineasta que precisa deixar seu sonho por conta de problemas familiares e acaba indo trabalhar na loja de cartas de um amigo. Lá, enquanto foge das cartas da irmã mais velha, encontra conforto em cartas sobre os mais diversos e profundos sentimentos que são enviadas pelos clientes da loja à desconhecidos. 

Tivemos a honra de conversar com a autora Baek Seung-yeon sobre “A Loja de Cartas de Seul” e todo o conforto que esse livro tem trazido aos leitores.

Time HIT!: Este é o seu primeiro livro publicado aqui no Brasil, e muitos leitores já o consideram um dos seus favoritos. Poderia nos contar um pouco sobre “A Loja de Cartas de Seul”?

A história do livro se passa nas lojas Geulwoll, que são lugares reais nos bairros de Yeonhui e Seongsu, em Seul. Nesse livro, coloquei histórias de pessoas que amam cartas e que buscam se curar e se reconciliar através delas. É um livro que foi publicado com a intenção de resgatar o valor das cartas, que está deixando de existir.

Na época em que vivemos, é possível nos comunicarmos em um segundo por meio de um smartphone, então qual a necessidade de uma loja de cartas em um cenário urbano em pleno século XXI? O que as cartas podem nos oferecer e o que podemos oferecer através das cartas? Escrevi “A loja de cartas de Seul” com a esperança de que os leitores sintam vontade de escrever cartas recheadas de “sentimentos sinceros que chegam lentamente”.

Time HIT!: O livro incorpora cartas reais, coletadas nas lojas Geulwoll em Yeonhui e Seongsu, cuidadosamente selecionadas por você. Há alguma que você considere sua favorita e que, ao lê-la, soube imediatamente que precisava ser incluída na sua história?

Por causa do livro, tive a oportunidade valiosa de ler diversas cartas escritas à mão por outras pessoas. Teve quem escrevesse uma receita caseira de ovos mexidos e quem escrevesse a história de como se mudou para uma fazenda após sair do emprego, mas, por ora, fico com esta:

“A verdade é que minha mãe faleceu quando eu tava no ensino médio e desde então ando com a cabeça cheia o tempo todo. É tipo a sensação de viver flutuando no espaço. Daí me lembrei de uma coisa que li uma vez: as pessoas que morrem infelizes certamente vão renascer felizes na próxima vida. Fico na torcida pra que seja verdade.”

Fiquei de coração partido enquanto lia essa carta escrita de maneira tão serena. E o fato de ter sido escrita em linguagem informal mexeu comigo ainda mais. Fiquei grata porque a pessoa abriu o coração como se falasse a um amigo. Na realidade, aqueles que sabem colocar os próprios sentimentos em palavras com sinceridade são pessoas fortes. Admiro a força contida nessa carta, por isso a escolhi.

Time HIT!: A protagonista deste livro, Woo Hyoyeong, é uma aspirante a cineasta, embora tenha que desistir desse sonho. Se ela pudesse dirigir uma adaptação cinematográfica de “A Loja de Cartas de Seul”, qual você acha que seria o ponto alto do filme? E quais músicas você acha que não poderiam faltar na trilha sonora?

Esta pergunta me fez lembrar de uma cena. Tem a ver com a parte em que Hyoyeong vai até o litoral à procura da irmã. Vou tentar resumir, tomando cuidado para não dar spoilers: depois de escrever uma carta constrangedora para a irmã, com quem tem uma relação distante, e enviá-la por engano, Hyoyeong vai atrás dela para tentar pegar essa carta de volta. Mas, quando vê que a irmã já está lendo a carta, Hyoyeong começa a brigar com ela de um jeito fofo enquanto luta para reaver a carta.

Nessa hora, o casaco acolchoado de Hyoyeong se rasga e o enchimento de penas de pato brancas sai flutuando feito neve ou pipoca, e nesse momento temos a sensação de que o tempo parou, assim como na cena do filme “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”. Talvez eu tenha evocado essa cena, que é inexplicável de tão linda, justamente porque a Hyoyeong é apaixonada por filmes.

Essa parte da história se passa no inverno, e “Unforgettable”, de Nat King Cole, é a música que me vem à cabeça, já que se trata do momento em que o gelo no coração das duas irmãs derrete. E é curioso que o interesse amoroso de Hyoyeong também esteja na cena, então essa música pode ser interpretada pelo ponto de vista desse homem.

Time HIT!: Sua jornada como escritora começou com uma carta, e este é um livro sobre cartas. Se você pudesse escrever uma carta hoje para o seu eu do passado, o que diria?

“Obrigada por me mostrar que todos aqueles dias difíceis iriam passar. Não se preocupe e aproveite sua vida. Seu eu do futuro é a prova de que você tirou as dificuldades do passado de letra.”

Eu já tinha escrito cartas para meu eu do futuro, mas é a primeira vez que imagino como seria escrever uma carta para meu eu do passado. O engraçado é que, quando escrevo cartas para meu eu do futuro, coloco desejos do tipo “vou conseguir tal coisa”, mas em relação ao meu eu do passado, estranhamente acabo demonstrando um enorme carinho. Sinto que eu deveria tratar meu eu do presente um pouco melhor (risos).

Time HIT!: Espera-se que o universo de “A Loja de Cartas de Seul” seja mais explorado em um livro futuro. Já estamos ansiosos! O que podemos esperar?

Na verdade, a continuação de “A loja de cartas de Seul” foi lançada em meados deste ano, com o título “Eu serei sua resposta” [tradução livre; título não publicado no Brasil]. Se o primeiro livro retratou o bairro de Yeonhui, em Seul, desta vez a história se passa em Seongsu. Enquanto Yeonhui tem um charme aconchegante e tranquilo, Seongsu é um bairro sofisticado e em constante mudança. Esse cenário contraditório mais uma vez estimulou minha imaginação de um jeito novo.

Os protagonistas de “A loja de cartas de Seul” são as pessoas que escrevem as cartas, por isso tentei abordar diversas histórias nesse livro. Já em “Eu serei sua resposta”, a história gira em torno do clima de romance que existe entre Hyoyeong e Yeonggwang. Afinal, a “menina dos olhos” entre as cartas não é a carta de amor? Espero que os leitores fiquem na expectativa de descobrirem como uma carta escrita com sinceridade vai confortar o coração dos dois. Obrigada!

Agradecimento especial: Editora Intrínseca 

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