Texto: Vitória A. Ferreira
Talvez você conheça esses nomes, já tenha ouvido falar deles ou não, mas Tiger JK e Yoon Mi-rae além de serem um casal admirável pelo companheirismo, admiração e apoio mútuo, tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da música coreana, sobretudo do hip-hop.
Esse casal poderoso foi responsável pela difusão do hip-hop na Coreia e revolucionou como esse estilo era visto na sociedade. No final da década de 90 a Coreia do Sul passava por um “boom” do pop com hip-hop, as grandes empresas, SM, YG e outras, estavam se consolidando e buscando talentos que os levariam ao sucesso global que vemos hoje. Na época, o hip-hop se afastava daquela imagem e sonoridade como era visto nos Estados Unidos, a influência era mais diretamente ligada ao estilo e as danças, enquanto a musicalidade e as letras aproximavam-se mais do pop, mas isso é papo para outro artigo.
O importante de ser ressaltado aqui é que o hip-hop coreano como vemos entre artistas como BIBI, CL, Epik High, Bloo, entre outros, e até mesmo aquele rap mais duro que vemos em algumas músicas de K-pop atuais ainda não eram algo mainstream, pelo contrário, eram vistos apenas na cena underground. E é aqui que Tiger JK e seu grupo Druken Tiger foi essencial.
Tiger JK ou Seo Jung-kwon, é um rapper sul-coreano que nasceu na Coreia, mas passou grande parte da vida nos Estados Unidos, mais especificamente em Miami e Los Angeles. Essa informação é importante, pois foram nessas cidades que o rapper teve seu primeiro contato com o gênero hip-hop e foi onde começou a compor seus primeiros raps.
Tudo começou quando em 1992, um rapper chamado Ice Cube de LA lançou uma música chamada “Black Korea”, a música controversa fala do racismo que um negro sofria em uma loja asiática, porém essa crítica é carregada de tom xenofóbico. A partir disso, Tiger JK e Micki Eyes lançam uma resposta com a música “Call me Tiger”.
Lembrando que nesse período, Los Angeles e outras cidades americanas eram extremamente segregadas em guetos identitários, como de latinos, chineses, japoneses, coreanos, armênios, entre outros, que haviam migrado para lá e se unindo nessas comunidades muitas vezes fechadas. Essas comunidades frequentemente tinham tensões entre si, o que geravam certos conflitos na região.
Em entrevista no podcast DAEBAK SHOW, o rapper ao contar essa história afirma que não tinha o intuito de ser rapper ou viver de música, apesar de gostar muito disso, mas foram as circunstâncias de sua vida que o levaram até isso, segundo ele, sua vida é um conjunto de “coincidências e acontecimentos inesperados”.
Segundo Tiger JK, esse momento foi crucial em sua vida. A partir dessa faixa criada com pretensões de responder e se posicionar frente as opressões que sofria, ele começa a chamar atenção com suas letras e lança com Roscoe Umali e o DJ JHiG um álbum ainda nos Estados Unidos.
Porém, em 1995, ciente da influência do hip-hop na música coreana, Tiger JK retorna ao seu país de origem com seus companheiros Mick Eyes e DJ Shinee, na época DJ Mr.E, que formavam o grupo Druken Tiger. Chegando lá o rapper depara-se com uma cena ainda precária, muito diferente daquela que tinha nos Estados Unidos, e ele toma para si, junto a seu grupo, a missão de consolidar o hip-hop coreano.
Seu primeiro movimento é tentar através das empresas que estavam abertamente sedentas por coreanos-americanos, que ensinassem seus idols a fazer rap e a cantarem em inglês. Porém, a visão de música de Tiger JK era muito distinta dessas empresas e apesar de ajudá-las na composição musical, ele não se adaptou as demandas da indústria sobre vestimenta, comportamento e padrões corporais e mesmo assinando com a gravadora Doremi, ainda gerou diversas polêmicas.
A empresa Doremi, foi a responsável por lançar seu primeiro álbum em solo coreano, “Year of the Tiger” e ele chamou atenção, principalmente pelo estilo da música e do rapper. Os sul-coreanos ainda não estavam acostumados com os gestos manuais, o swag, as poucas danças e muito rap dos artistas desse gênero.
Dessa forma, ele começa a conhecer e a frequentar a cena underground que já existia e que era mais comprometida com um hip-hop voltando ao rap, com letras densas que denunciavam a sociedade, falavam de política, cultura e outras questões sociais.
Ao ver esse cenário, Druken Tiger cria com outros artistas da época uma crew, como são chamados os grupos de hip-hop, chamado The Movement. Essa crew iria revolucionar o hip-hop coreano, tornando-o popular, sendo uma incubadora de novos talentos e propagando o gênero musical pela sociedade, quebrando muitos estereótipos e ganhando premiações como Hip Hop Artists of The Year nos anos 2000.
Inicialmente, The Movement era composto por Druken Tiger, DJ Shinee, Uptown, CB Mass e Thanos. A crew tinha por objetivo aumentar a visibilidade do gênero no país e promover a música desses artistas.
E foi nesse momento que os caminhos de Tiger JK e Tasha (Yoon Mi-rae) se cruzaram. Na época, a coreana-americana era parte do grupo Uptown. Em 1999 debutou com Annie, no grupo de R&B Tashannie e em 2000 como artista solo.
Tiger JK e Tasha conheceram-se na cena underground onde ele a levava para aproximá-la do rap e para que ela assistisse as batalhas, foi nesse movimento de fazer música juntos e colaborar para o crescimento e popularização do estilo no país que eles se apaixonaram.
Dessa forma, The Movement foi uma crew que evidentemente foi responsável por fazer o hip-hop de Druken Tiger e outros rappers underground chegarem no mainstream e pavimentarem os caminhos das outras gerações de rappers que temos hoje, mas também uniu esses dois artistas gigantes.
Atualmente, Tasha é considerada o maior nome do K-Hip Hop e foi a pioneira entre as mulheres no gênero. Ela conseguiu isso cantando e expressando sobre suas próprias questões identitárias enquanto mulher que não era aceita nem dentro da comunidade negra americana, nem na comunidade asiática, o sucesso “Black Happiness”.
E Tiger JK é considerado como o maior nome masculino da cena, por sua importância na luta de difundir o hip-hop no país e construir um gênero muito característico e próprio da Coreia, além de ser responsável por impulsionar grandes nomes que passaram pelo The Movement e que colaboraram com ele como Epik High, Dynamic Duo, Buga Kingz, Double K, MC K, Eunjiwon, entre outros.
Hoje em dia o casal trabalha em seus projetos como o grupo MFBTY (Tiger JK, Tasha e Bizzy) e agenciando outros artistas com a gravadora Feel Ghood Music. Além disso, Tasha e Tiger JK tem o compromisso social e filantrópico em campanhas contra o abuso infantil, sendo inclusive premiados pelo Ministro da Saúde e Bem-estar pelos seus esforços.
O amor dos dois continua a perdurar pela admiração que sentem um pelo outro, evidente nas entrevistas que dão juntos, e pela paixão pela música que compartilham.
[…] responsáveis pela virada do estilo mais pop para um rap como feito em solo americano foram Druken Tiger, hoje Tiger JK, e Mirae, então parte do grupo Uptown, que criaram o chamado Movement Crew. Esse grupo foi responsável […]