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REPRESENTATIVIDADE ASIÁTICA NO OSCAR

No dia 12 de março ocorreu a premiação de filme mais popular que conhecemos, o Oscar 2023. Por aqui, algo nos chamou a atenção, uma grande quantidade de profissionais asiáticos amarelos foram premiados em diversas áreas pelo seu trabalho. Ainda vale mencionar que a Índia foi indicada três vezes e venceu em duas categorias. Quanto às outras minorias étnicas da Ásia, algumas apareceram em peso por meio do filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. Entretanto, outras minorias etnico-raciais não foram contempladas nem mesmo em indicações. 

Assim, nos remetemos a um problema recorrente desde os princípios da premiação, em 1929. A pauta em questão vem sendo motivo de boicotes e questionamentos que atingem desde os filmes indicados até a classe de jurados que decidem quem leva a estatueta.  

Dentre as várias problemáticas que poderíamos tratar aqui, escolhemos cortar nossa discussão em torno da relação entre mídia audiovisual com a imagem que se produz de uma dada minoria racial e a importância de se dar maior visibilidade a essa minoria. O primeiro ponto que precisamos destacar é que a mídia se torna, na maioria dos casos, a principal responsável por formar nosso imaginário acerca de grupos que vivem geograficamente e culturalmente distantes de nós. 

Ou seja, aquele produto midiático que consumimos existe dentro de um formato e seu conteúdo é a representação de algo. Mesmo que seja um documentário, ainda assim, ele parte de um recorte que contempla a visão de quem está por trás da câmera. Dessa forma, se normatiza e faz circular em grande escala determinadas representações. 

No caso do cinema, os filmes são produtos que carregam símbolos capazes de criar e fortalecer crenças. Dessa forma, a cultura midiática tem um grande papel em parte de ser um reflexo das formas de pensamento que circulam na sociedade e também podem ser uma ferramenta de perpetuação dessas ideias. E apesar de haver uma vasta gama de filmes que são produzidos em diversos países e por diferentes pessoas, ainda assim, quando olhamos para o Oscar, vemos pouca variedade entre quem e quais produções estão sendo premiadas.

Se analisarmos as premiações feitas entre 2000 a 2023, podemos perceber que a maioria dos filmes indicados são estadunidenses, com exceção de “Parasita”, ganhador do Oscar de “Melhor Filme” em 2020. Todavia, vale fazer o adendo de que algumas são produções que compartilham o título de pertencerem a mais de um país de origem. A ficha técnica de cada filme está disponível do site “Filmow”.  

Uma argumentação bastante usada para defender a falta de diversidade, seja de filmes ou de profissionais, é que existiria um “vazio” de produções fora do eixo norte-americano e europeu. Nem mesmo pessoas fora da branquitude estariam procurando por um lugar nessa indústria. Porém, o que encontramos é, na verdade, uma falta de oferta de papéis e cargos. 

Dentro do cinema leste asiático, filmes e diretores são amplamente conhecidos e reconhecidos mundialmente pelo trabalho e pela crítica no Ocidente. “Oldboy” (2003) e “A Criada” (2016) de Park Chan-wook, “O Hospedeiro” (2006) de Bong Joon-ho são nomes populares para começar uma longa lista de produções bem-feitas. O questionamento que sempre volta é: se o Oscar quer representar uma premiação de filmes em um sentido mundial, por qual motivo ele continua a focar no mesmo lugar e nas mesmas narrativas? 

Outro ponto é que personagens de ascendência leste asiática não são novos na televisão, porém, muitas vezes, são representados de maneira estereotipada. É visível também o descaso em construir uma personagem minimamente profunda quando diversas nacionalidades leste asiáticas são resumidas em seus traços físicos. Alguns termos já foram cunhados para se referir a esses recorrentes tipos de personagem: China Doll – uma mulher sempre submissa aos homens ocidentais; Dragon Lady – como extremo oposto da China Doll, ela é perigosa, sensual e dominadora, Geeks – homens sempre distanciados de qualquer masculinidade e atração por mulheres; Minoria modelo –  super estudiosos e exemplos de perfeição que devem ser seguidos por ocidentais. 

Há outros estereótipos que dão sequência à lista, porém, todos eles estão baseados em uma relação etnocentrada estabelecida entre o Ocidente com países Africanos, Asiáticos e até mesmo da América Latina. De forma básica, “Ocidente” agrega a América Latina e parte da África mas, historicamente, o termo tem sido mais usado para se referir a uma centralização na Europa e Estados Unidos.

 A estrutura de pensamento escrita no parágrafo acima tem uma base que já foi considerada científica, apesar de hoje já não ter validade. Esses ideais estão presentes em uma teoria chamada “Darwinismo Social” que definiu raças humanas e as colocou dentro de uma linha evolutiva onde os grupos raciais eram categorizados em “civilizados” ou “bárbaros”. Até hoje essa linha de raciocínio ainda opera em algum nível as relações entre Ocidente e Oriente. Muito já foi superado e transformado, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. 

Por isso é importante que atores, diretores, produtores e todos que estão envolvidos na produção de um filme tenham consciência daquilo que estão produzindo. Trazer filmes que estão fora do eixo ocidental é buscar e prezar pela desconstrução, mostrando formas mais concretas e diversas de existência. 

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