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Quebrando barreiras e conquistando o mundo – Entrevista MILLI

Entrevista: Guto Togo e NIni Vasconcelos
Tradução: Nini Vasconcelos
Booking e edição: Guto Togo
Design: Jessica Fernandes

A rapper tailandesa MILLI, conhecida por sua versatilidade, energia única e presença marcante no palco, concedeu uma entrevista exclusiva para HIT! Magazine. Ela falou sobre seu mais recente álbum “HEAVYWEIGHT”, suas conquistas internacionais e a forte ligação com os fãs brasileiros. Entre experiências pessoais, desafios no mundo do rap e experimentações com diversos gêneros musicais, MILLI compartilhou como transformou suas emoções em música e como busca levar sua arte para além das fronteiras da Tailândia.

Confira agora a entrevista exclusiva completa.

Time HIT!: Recentemente foi lançado o álbum “HEAVYWEIGHT”, cheio de faixas poderosas e ecléticas! O título escolhido faz referência ao boxe e ao conceito de força, representando que você está pronta para enfrentar a divisão dos pesos pesados como artistas. Até agora, quais foram os maiores obstáculos e dificuldades que precisou superar para se tornar uma artista tão distinta e única?

MILLI: Há muitos obstáculos. Se não houver, não estamos vivendo. O caminho da minha vida nunca é cheio de flores, não é um “Jardim do Éden” ou algo assim. Sempre é difícil para mim. Desta vez, é super pesado [super heavy], como o nome indica. Eu nem deveria ter dado esse título, porque é realmente pesado para mim. É emocional. É tipo… como dizer? Trabalhar no exterior com estrangeiros, americanos… [por conta do] fuso horário, tenho que voar para lá e voltar para cá. Então, em relação ao cronograma, tudo é pesado, mas eu encarei como um desafio. Sinto que estou pronta para lutar e que posso enfrentar qualquer coisa. Para mim, meu dom é ter uma equipe realmente, realmente boa, é por isso que sempre sou grata… Eles são pessoas verdadeiramente importantes, que me ajudaram muito a passar por todos os obstáculos e ser feliz de novo. Para a pergunta sobre quão difícil é ser uma artista única, não tenho certeza sobre isso, porém toda a sociedade em que cresci simplesmente me influenciou e eu apenas sou o que quero ser. 

Time HIT!: Em “ONE PUNCH”, você confronta de forma sutil a frase depreciativa “porque você é mulher” e a transforma em uma mensagem de empoderamento e inspiração. Como mulher no rap, um gênero ainda, infelizmente, em grande parte dominado por homens, quão importante é para você desafiar esse pensamento e quebrar estereótipos por meio da sua música?

MILLI: Ai meu Deus, sempre fico agressiva sobre isso, porque, às vezes, eles apenas dizem para mim: “Você tem certeza que consegue fazer isso? Você é uma garota” e blá, blá, blá… Besteira, besteira, cara! Algumas pessoas, alguns homens já me falaram isso. Eu vou dar um soco nesse tipo de pensamento. Não, não, isso é um não para a MILLI, isso é um não para mim! É por isso que coloquei todo meu esforço, toda minha raiva e emoção agressiva nisso… Então você ouve a parte que eu digo “Você disse que eu sou uma mulher. Eu não mereço ganhar um prêmio. Mas eu fiz a mesma coisa que você. Eu competi. Eu desafiei. Eu mereço tudo que quero”. Esse é o ponto principal que quero falar nesta música, sabe? E, se mesmo assim você ainda estiver falando besteira, eu vou te dar um soco. Apenas um soco é suficiente para mim, não dois, nem três, apenas um. Isso é suficiente e eu vou te derrubar desse jeito. E como vou quebrar esse padrão de estereótipo? Desculpe ser rude, estou com raiva… Mas sim, continuarei fazendo meu trabalho e deixarei que eles saibam, deixarei que fiquem cientes que posso fazer. E eu posso fazer melhor, posso fazer tudo o que eu quiser… Ainda estou em um longo caminho para provar e quebrar o padrão, porém vou conseguir!

Time HIT!: No seu novo álbum, explora-se uma ampla variedade de gêneros, incluindo rock, EDM, blues, R&B, Lo-fi e até funk brasileiro em “ARMSTRONG” e “JAH EHH”! Houve algum gênero musical específico que mais gostou de incorporar à sua música e de mostrar através da sua voz? Se sim, nos conte por quê!

MILLI: Ai meu Deus… Sinto que fui aprovada pelo Brasil! Estou tão feliz, muito obrigada! Sim, sim, sim, sim, sim! Eu estou muito feliz que vocês falaram de “ARMSTRONG” e “JAA EHH”… Eu realmente queria fazer funk há muito, muito, muito tempo, mas sabe como é, quando quer fazer algo novo ou um explorar um novo gênero musical, precisa ir à raiz. Então sinto que fui aprovada pelos brasileiros… Por favor, nos corrijam se fizermos algo errado, porque meu produtor, também é tailandês, se chama SpatChies. E nós estamos aprendendo e pesquisando sobre funk brasileiro. Foi esse resultado que conseguimos. Estamos tentando colaborar para ter nossa própria versão… Eu só quero brincar com a cultura sem roubar, sabe? Aprendendo, pesquisando, respeitando e fazendo do meu jeito. É isso que eu quero fazer…. E, na verdade, eu já tinha feito jazz antes, porém sim, quero fazer mais jazz, talvez jazz hip-hop… Mas eu ainda adoro funk. Sempre será meu estilo!

Time HIT!: Este lançamento é cheio de experiências pessoais e emoções. Em “INVISIBLE TEARS” pudemos ver um lado especialmente vulnerável e sensível da MILLI. O que inspirou você a se abrir assim, e como foi o processo de transformar esses sentimentos em música?

MILLI: Isso é tão difícil. Foi como expor uma parte sofrida de mim mesma que estou tentando mostrar porque ainda estou sofrendo. Não posso explicar claramente para todos, pois tudo está tão confuso aqui dentro. E é por isso que tive uma pessoa para me ajudar. O nome é Stephanie Poetri, também é artista, me ajudou a escrever a letra desta música. Ela é tipo uma psicóloga que consegue escrever canções. Eu chorei, falei com ela e nós escrevemos as palavras que eu disse. Depois reescrevemos, até que tivéssemos “INVISIBLE TEARS”… Foi muito difícil, porém sinto que é hora de compartilhar a parte pesada em mim para deixar as pessoas saberem que também sou humana.

Time HIT!: Você fez história como a primeira artista solo feminina tailandesa a se apresentar no Coachella em 2022. E agora se tornou a primeira artista tailandesa a subir no palco do Lollapalooza. Como foi quebrar essas barreiras e representar a Tailândia em palcos internacionais tão grandes? Como se sentiu ao compartilhar sua música com um público dessa magnitude?

MILLI: Foi uma loucura. Eu nunca imaginei que subiria lá. Sabe, na primeira vez que tive a chance de ir ao Coachella, eu disse não. Disse que não merecia. Quem diria que a oportunidade voltaria no próximo ano quando eu me sentisse pronta? Então, se a oportunidade aparecer, apenas a agarre. Eu  agarrei. E sim, conquistei esse feito… Ainda estou atrás de novas conquistas. Estou fazendo a minha trajetória. Não sou totalmente bem sucedida. Preciso melhorar, desenvolver minha arte, meu trabalho, minha performance. Ainda preciso ter meu próprio show… Consegui participar do festival por convite dos meus queridos amigos, porém um dia quero que meu nome esteja no pôster, não apenas como convidada, mas como atração. Ah, e como me senti? Me senti ótima! Espero que um dia eu possa ter meu próprio set e todos aqueles espectadores possam curtir comigo.

Time HIT!: “Mirror Mirror” (feat. F.HERO e Changbin do Stray Kids) é um dos seus lançamentos mais memoráveis. Como a visibilidade e o impacto dessa música influenciaram sua carreira e contribuíram para o seu crescimento como artista?

MILLI: Mudou muito minha vida! Sinto que todos os fãs do Brasil e América do Sul me conhecem por “Mirror Mirror”, porque eles acompanharam através de Changbin, eu acho. Então, shout out para Changbin e F.HERO por me darem a chance de fazer essa faixa com eles. Além disso, estou muito feliz que vocês gostaram da forma que eu rimo. Eu tenho muitas músicas de rap, portanto, talvez, vocês gostem do meu álbum “HEAVYWEIGHT”… Por favor, vão conferir. Obrigada! E também agradeço por me acompanharem até agora. Gracias.

Time HIT!: Falando de “Mirror Mirror”, você alterna entre coreano, tailandês e inglês na sua parte icônica da música. Considerando esses idiomas, se você tivesse que escolher um rapper ou artista de cada um que mais te inspira, quem seriam e por quê?

MILLI: Oh, em coreano, tailandês e inglês? Difícil… OK! Vamos começar com inglês: Tyler the Creator, sim, ele me inspirou muito. Só pode escolher um? Porque ainda tenho Nicki Minaj, Kendrick Lamar, Doechii… Tenho muitos, mas Tyler é o criador, amo a criatividade dele, respeito-o como meu pai, sabe? Se eu pudesse morrer e nascer filha dele, talvez faria… Em coreano seria o BewhY. Ele é um rapper realmente muito bom, chega a ser louco. E eu fiz uma colaboração com ele em uma faixa chamada “HELL YES”, então vão conferir! Já para o tailandês… Na Tailândia, não temos muitas rappers femininas, porém admiro quase todos lá. Não falo isso só por falar. Lá existe uma comunidade forte e muita competição de freestyle. Aprendi bastante com isso. Claro que aprendo com rappers tailandeses e com qualquer pessoa que batalha, que faz diss tracks. Eu amo muito isso e evoluo com eles. Todos os tailandeses são meus professores. Se quiserem que eu escolha apenas uma pessoa, me matem. Não vou escolher! 

Time HIT!: Olhando para as conquistas incríveis que você alcançou como artista nos últimos cinco anos; como se apresentar em palcos internacionais, criar colaborações inovadoras e lançar um álbum profundamente pessoal. O que você espera que as pessoas absorvam da sua trajetória? E como gostaria que seu legado como performer fosse lembrado?

MILLI: Para a primeira pergunta, sempre digo aos meus fãs que estou crescendo. Ainda estou aprendendo. Eu escrevo minhas próprias músicas, e elas estão evoluindo comigo. Espero que eles continuem amando o que faço… Espero que ainda me amem como eu sou. Que possamos crescer juntos. Podem me ensinar, me avisar, apreciar, criticar, tudo… Mas não me deixem caminhar sozinha. E sim, sempre coloco detalhes nas músicas. Mesmo as mais animadas e malucas têm uma mensagem, então procurem! Se você encontrou, obrigada. Porém, se está apenas curtindo e sentindo a vibe, tudo bem também. Espero que gostem!

Sobre o legado como performer? Quero colocar toda a criatividade e todos os detalhes possíveis em minhas performances. Podemos fazer muitas coisas apenas cantando e rimando no palco: dançar, contar histórias, criar drama. Posso fazer tudo. Amo isso. Estar no palco, conversando com as pessoas, fazendo stand-up, simplesmente trazendo felicidade… Quero que lembrem como um momento feliz, mesmo que breve. Só quero que se divirtam e aproveitem a vibe comigo.

Time HIT!: Olhando para sua jornada até aqui, qual é a maior mudança que notou em si mesmo, tanto pessoal quanto profissionalmente?

MILLI: Sempre faço alguma coisa. Depois da escola, sinto que não posso simplesmente ir para casa. Tenho que fazer algo, não apenas conversar ou comer com amigos. Preciso praticar. Participei de muitas competições nacionais, como storytelling, skit, drama, canto etc., então preciso praticar com o time, com o clube… Por isso não tenho muito tempo livre. Acabo dedicando meu tempo livre a isso. E é algo que realmente amo. Minha mãe me ameaçava caso eu não tivesse boas notas. Pais asiáticos, sabe? Se as notas não fossem boas, cancelavam todas as atividades. Eu ficava triste. Mesmo que a atividade fosse super nerd, eles ainda queriam cancelar por causa do meu desempenho escolar, mas eu fazia mesmo assim. Simplesmente amo fazer várias coisas, me sinto como uma supermulher ou algo do tipo. Amo entretenimento desde jovem. Cresci sempre em audições, sem exceção, e continuo fazendo isso até hoje. Me tornei rapper e continuarei nesse caminho.

Time HIT!:Se você pudesse encontrar seu eu do passado, o que diria para a MILLI?

MILLI: Hmmm… Garota, você é ótima, não duvide tanto de si mesma! Você é ótima, mas não seja confiante demais, não é tão ótima assim (risos), equilíbrio. Não quero que conserte nada porque todos os erros do passado me ensinaram e me fizeram minha melhor versão todo dia. Então, não há necessidade de arrependimentos.

Time HIT!: Sabemos que a agenda de um artista pode ser extremamente exigente. Então, gostaríamos de saber: o que você gosta de fazer no seu tempo livre? Você tem hobbies ou talentos especiais que gostaria de compartilhar conosco?

MILLI: Adoro esportes. Depois de me formar, colocarei meu tempo livre em esportes. Os meus hobbies são boxe e Muay Thai. Meu talento especial é que lutei em ringue real com boxeadora profissional chinesa de Muay Thai. Louco, né? Eu perdi, porém apenas um ponto e ela é profissional. Foi minha primeira vez e fiquei orgulhosa. Treinei pesado durante dois meses antes da luta. E sim, lutei de verdade e aproveitei muito. Você pode chamar isso de talento especial? Acho que sim… E eu amo esportes extremos, não apenas esportes, mas aqueles perigosos, que podem quebrar braço ou perna. E você vai ter que subir no palco mesmo com a perna quebrada.

Time HIT!: Como é saber que pessoas do outro lado do mundo, como no Brasil, estão ouvindo e se conectando com a sua música?

MILLI: É uma loucura! Loucura! Aprecio muito isso. Fico muito orgulhosa. Tipo, eu quero entrevistar todos os fãs do Brasil e saber como vocês me encontraram? Eu não sei… No YouTube? Na internet? No banheiro? Como? Quero saber. E vou continuar fazendo música para vocês conhecerem mais de mim. Agradeço bastante. Muito, muito, muito obrigada por me encontrarem e gostarem da minha música. 

Time HIT!: Os fãs brasileiros são conhecidos pela sua paixão e criatividade. Como é saber que eles se conectam com sua música e apoiam a sua trajetória?

MILLI: Estou feliz! Posso morrer agora… Não, ainda não. Preciso ter meu show no Brasil primeiro (risos). Então, esperem por mim. Vou estar aí, prometo. Eu tenho que ir aí antes de morrer… Vamos dançar, cantar e rimar juntos no meu show, qualquer música que queiram. Querem mais músicas brasileiras? Eu faço!

Time HIT!: Qual aspecto da cultura brasileira você acha mais fascinante e gostaria de explorar mais durante suas visitas ao país?

MILLI: Dança! É super difícil, sabe? Todo mundo tenta dançar daquele jeito, mas não dá para conseguir ficar igual. Posso ver o movimento, o groove é diferente. A forma de mover o corpo é diferente. Vocês têm um gingado diferente. Cada dançarino tem um estilo distinto e o dos brasileiros… Ai meu Deus, quando dançam funk brasileiro é diferente e ninguém consegue igual… É preciso aprender a cultura primeiro. Quero aprender sua cultura, a dança.

Time HIT!: Se você pudesse realizar um fan meeting no Brasil, o que incluiria para tornar a experiência realmente inesquecível para seus fãs?

MILLI: Podemos compartilhar dança. Posso ensinar dança tradicional tailandesa. Temos algo parecido com o funk brasileiro também, mas gosto de chamar de Thai EDM, algo divertido. É muito engraçado, acho que iam gostar. Quero ensinar meus movimentos e aprender os de vocês, trocando cultura.

Time HIT!: Como você vê a crescente influência da Ásia na cena global do entretenimento? Há aspectos da cultura brasileira que inspiram diretamente o seu trabalho?

MILLI: Crescendo. Não apenas eu, todos. Eles são ótimos e continuam crescendo cada vez mais rápido. Um dia vai bombar. Sem barreira de idioma. A música conectará a todos. Quanto à inspiração musical… Eu preciso dizer, a música brasileira realmente me influenciou! Eu amo o som brasileiro… A percussão é uma loucura! A cultura, os instrumentos, você escuta e imediatamente sabe que é do Brasil. É verdadeiramente único… Acho que minha cultura tailandesa e sua cultura brasileira podem se dar bem. Vai ser definitivamente divertido!

Time HIT!: Para encerrar esta entrevista, qual mensagem especial você gostaria de deixar para seus fãs brasileiros?

MILLI: Como disse, antes de morrer quero meu próprio show aí. Então, desde já, economizem dinheiro e me deem quando eu for, porque vou vender merchandising e coisas do tipo. Meus ingressos não são caros, então, por favor, venham! Eu adoraria ver todos dançando, rimando e cantando comigo. Nos vemos em breve. Obrigada. Gracias. Esta é a MILLI.

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Videoclipe oficial de “ONE PUNCH” (Créditos: Reprodução/MILLI OFFICIAL /YouTube)

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