Entrevista: Carol Tomé, Jú Silveira e Vicky Barros.
Booking: Carol Steinert
Tradução: Alice Oliveira
Revisão: Samuel Eliasafe e Virginia Oliveira
Design: Jéssica Fernandes
São Paulo, 12 de julho de 2025.
Autenticidade sonora
Com uma estética ousada, letras intensas e presença de palco marcante, BIBI tem se consolidado como uma das vozes mais autênticas do K-R&B. Em entrevista, a artista reflete sobre o crescimento do gênero dentro e fora da Coreia do Sul, comenta sua ligação com o Brasil e revela curiosidades sobre o processo criativo por trás de seus projetos.
BIBI também falou sobre liberdade artística, colaborações internacionais, sua relação com a irmã Nakyoung (do tripleS) e o significado do sucesso em uma indústria tão exigente. Com honestidade crua e senso de humor afiado, ela mostra porquê é uma das figuras mais instigantes da cena musical coreana atual.
Confira a entrevista completa abaixo:
Time HIT!: Sendo uma das principais vozes do K-R&B, como você enxerga o panorama desse gênero, especialmente com sua popularidade crescente, tanto na Coreia do Sul, quanto internacionalmente?
BIBI: Acredito que o K-R&B está florescendo e há muitos artistas talentosos. Eu acho que há muitos artistas masculinos incríveis. Honestamente, a música de nicho tem dificuldade para se manter na cena musical coreana, mas acho que o fato de [o K-R&B] estar dando tão certo é um sinal de que as pessoas estão mais interessadas pelo gênero, então fico muito feliz.
Time HIT!: Narrativas femininas estão sempre presentes em seus álbuns, transitando entre a sutileza e a intensidade bruta. Qual é o seu processo para construir essas narrativas e de qual parte você mais gosta?
BIBI: Não tenho certeza se realmente incluí uma narrativa feminina, por assim dizer. Para mim, a minha voz como pessoa é muito importante, até mais do que como mulher, mas por acaso, eu sou uma mulher. O que acredito ser o mais importante é dar o meu melhor, assim como garantir que a minha equipe não passe fome.
Time HIT!: Recentemente, você lançou o seu próprio lightstick. Como foi esse processo desde a definição do conceito até o lançamento?
BIBI: Por ser o meu primeiro lightstick, senti que era muito importante. Então, pensei no que eu gostava, e eu realmente gosto de estátuas de gesso e da cor branca. As artes para as minhas antigas músicas do SoundCloud tinham muitas estátuas, então achei que seria legal. Por ser [o tema] “Romance”, escolhi Eros, uma estátua da criança com asas dentro de um formato de coração. Não é realmente lindo? Eu adoro!
Time HIT!: A Kim Nakyoung, do tripleS, é sua irmã mais nova. Como você se sente ao vê-la seguindo a carreira musical também? Vocês duas conversam sobre a indústria e compartilham experiências?
BIBI: Sinceramente, Nakyoung e eu somos muito diferentes. O que fazemos é tão diferente que não conversamos muito sobre nossas carreiras musicais. Quando falamos sobre coisas em comum, é mais algo como “quantas horas você dormiu na noite anterior?”, nada além disso.
Time HIT!: Você fez uma parceria com o rapper Heo Wonhyuk, também conhecido como Vapo, no “High School Rapper”. Ele morou no Brasil por vários anos. Como surgiu essa colaboração, e você pretende visitar o Brasil?
BIBI: Eu quero muito ir ao Brasil! Eu amo a música brasileira. Na verdade, Simon Dominic me ligou e me convidou para fazer uma colaboração com Heo Wonkyuk, eu ouvi a música, gostei dela, e aconteceu. Por favor, me convidem para o Brasil! Eu também quero aprender a dançar e cozinhar lá.
Time HIT!: Durante uma live, você cantou “Águas de Março”, do cantor brasileiro Tom Jobim, encantando muitos fãs brasileiros com a sua pronúncia. Você gosta de outros artistas brasileiros? E se você pudesse colaborar com algum deles, quem seria?
BIBI: Eu gosto muito do Antônio Carlos Jobim. Adoro bossa nova. Ouço muitas das músicas mais antigas. Se vocês me convidarem, topo cantar com certeza. Por favor, me chamem!
Time HIT!: Se você pudesse criar uma categoria de arte completamente nova para definir o seu estilo, como ela se chamaria?
BIBI: Naked!
Time HIT!: Você tem uma estética muito única e ousada. Como você faz para balancear a liberdade criativa com as expectativas da indústria musical da Coreia do Sul, que muitas vezes pode ser mais conservadora?
BIBI: Eu não acho que tento me apegar ou manter nada. Sinto que nunca fui impedida ou incomodada. Ainda que possa ser conservador, o ambiente é bem livre. Não é porque você faz algo diferente que eles vão censurar ou remover imediatamente. Eu sinto que simplesmente faço o que faço. Mais uma coisa: por meio da autocensura, se algo parecer ter classificação 19, o sistema permite que eu sinalize isso.
Time HIT!: Muitos dos seus fãs se conectam profundamente com a vulnerabilidade das suas composições. De que maneira a composição musical te ajuda a processar emoções mais intensas?
BIBI: Acho que expressar as minhas próprias emoções por meio das composições me ajuda a processá-las. Eu penso em muitas coisas ao mesmo tempo, há tantas vozes altas na minha cabeça, e eu não sei como processar os meus sentimentos, então acho que é por isso que eu faço música. Eu não faço música porque não posso ou não quero falar, mas porque quero processar tudo isso.
Time HIT!: Você transita entre R&B, hip-hop, e até música experimental. Tem algum gênero que você ainda não explorou, mas adoraria se aprofundar?
BIBI: Tenho gostado muito de música techno ultimamente. Gosto do pop do Leste Europeu e adoro os sons. Acho que seria meio vergonhoso mencionar o pop do Leste Europeu e ele não se tornar popular, mas vou dizer mesmo assim: o pop do Leste Europeu vai viralizar. 10 anos, 20 anos, não importa quanto tempo demore, vai acontecer. E quando acontecer, vou poder dizer que eu avisei! Gosto de ‘Abracadabra’ da Lady Gaga, hard techno e também de afro.
Time HIT!: Como foi trabalhar com artistas internacionais, o coletivo 88rising e outros de fora da Coreia? O que essas experiências te agregaram como artista?
BIBI: Eu me via como um dragão em um pequeno lago. Pensava: “posso fazer tudo isso porque estou na Coreia, mas, se eu for para fora, provavelmente não sou nada.” Depois de gravar e trabalhar nos Estados Unidos, recebi vários feedbacks positivos sobre como eu me expresso e atuo bem com as expressões faciais. Percebi que tudo isso realmente ressoa! Sinto que ganhei muita confiança.
Time HIT!: Em um cenário ainda dominado por grupos, de que forma você vê o crescimento da música solo e alternativa na Coreia do Sul?
BIBI: Acho que seria muito arrogante da minha parte dizer o que é bom ou ruim, ou o que deveria ser feito. O que eu penso é que, como eu amo e quero continuar fazendo música de nicho, acabo investindo em marketing ou produções que são, de certa forma, parecidas com as dos grandes grupos. Claro que nem tanto, mas… Só estou falando de música, quando digo “de nicho”.
Time HIT!: Você mencionou em outras entrevistas que não tem medo de mostrar o seu lado “feio” ou imperfeito. Qual foi o momento mais libertador da sua jornada até agora?
BIBI: Depois de um dia cheio, quando volto para casa, me sinto livre todos os dias. Toda vez que dizemos “Obrigada a todos pelo esforço” ao final, me sinto libertada.
Time HIT!: Durante a sua carreira, você quebrou muitas expectativas sobre o que uma artista feminina de K-R&B e pop deveria ser. Teve algum momento específico no qual você pensou “agora eu faço as regras”?
BIBI: Acho que nunca senti que estava fazendo as minhas próprias regras, na verdade, acho que estou percebendo só agora que existem regras. Acredito que fui capaz de fazer o que fiz porque eu não sabia o que deveria temer.
Time HIT!: Desde o reality “The Fan” até os palcos internacionais, a sua carreira tem se definido por liberdade e ousadia. O que o sucesso significa para você, comparado a quando você começou?
BIBI: Eu nunca pensei que teria tanto sucesso. As minhas expectativas de me tornar bem-sucedida eram tão baixas, e eu não fazia ideia de que chegaria tão longe. Quando penso sobre o que é o sucesso e em como esse significado mudou para mim, sinto que definir um destino final não significa tanto assim para mim.
Time HIT!: Se você pudesse mandar uma mensagem para a BIBI que estava prestes a fazer a sua estreia, o que você diria, e o que nunca diria só para não estragar a jornada?
BIBI: Eu diria à jovem BIBI que o futuro é muito melhor. O seu futuro será melhor e continuará a melhorar — e como vai, então apenas continue. O que eu nunca diria a ela seria algo do tipo “você nunca se casará com o seu atual namorado”.
Time HIT!: O seu novo álbum “EVE” está prestes a ser lançado. Quais novos elementos ou surpresas podemos esperar dele?
BIBI: Não acho que terá nada surpreendente em particular, mas seria ótimo se a história ressoasse com os ouvintes. Claro, eu fiz o álbum, mas também sou um ser humano, para humanos, então espero que outros humanos gostem dele. É engraçado como estou repetindo a palavra “humano” tantas vezes, como se eu não fosse uma humana de verdade, é como se eu estivesse tentando mostrar que também sou uma.
Time HIT!: Você poderia mandar uma mensagem especial para os seus pookies brasileiros?
BIBI: Quando vejo comentários em português, eles me dão muita força, e eu vejo muitos deles. Se eu fizesse um show aí, imagino quantas pessoas iriam. Eu adoraria fazer um show aí. Acho a cultura de vocês linda e sei que o Brasil está longe de mim, mas sou grata. Eu espero poder visitá-los, e, sem dúvida, nos veremos em breve!
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