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Movimento 4B: mulheres que dizem “não” às expectativas de gênero na Coreia do Sul

Nos últimos anos, um movimento feminista sul-coreano ganhou atenção internacional por sua proposta disruptiva de repensar o papel das mulheres na sociedade patriarcal. Conhecido como movimento 4B (também chamado de “Quatro Nãos”), ele representa uma crítica profunda às expectativas tradicionais de gênero no país e uma tentativa de autonomia individual em meio a desigualdades persistentes.

O nome “4B” deriva de quatro termos coreanos que começam com bi (, prefixo que significa “não” ou “anti”):

  1. Bihon (비혼) — rejeição ao casamento heterossexual.
  2. Bichulsan (비출산) — recusa à maternidade (não ter filhos).
  3. Biyeonae (비연애) — não namorar homens.
  4. Bisekseu (비섹스) — rejeitar relações sexuais heterossexuais.

Essas quatro recusas não são meros “boicotes”, segundo defensoras do movimento, mas sim decisões políticas e existenciais, de grande impacto, uma forma de desconectar suas vidas das instituições e normas que reproduzem o patriarcado.

A Coreia do Sul permanece como uma sociedade fortemente patriarcal, marcada por expectativas rígidas em relação à família, ao casamento e aos papéis de gênero. Nesse contexto, o movimento 4B surge impulsionado por uma combinação de fatores, entre eles o aumento da violência e da misoginia, evidenciado por crimes digitais e sexuais como o uso de câmeras escondidas, que geraram medo e indignação entre mulheres. Soma-se a isso a desigualdade de gênero estrutural: apesar de avanços educacionais, o país apresenta uma das maiores disparidades salariais entre homens e mulheres entre as nações desenvolvidas, além de pressões persistentes para que mulheres assumam a maior parte dos cuidados familiares. As expectativas sociais e familiares de que elas se casem, tenham filhos e cumpram papéis tradicionais também contribuíram para um sentimento crescente de desgaste e frustração, especialmente entre as gerações mais jovens. Esse contexto fez com que muitas mulheres jovens não apenas “desistissem” dessas instituições, mas rompessem ativamente com elas como forma de resistência ao patriarcado.

O 4B não é uma organização formal com liderança centralizada, é um fenômeno descentralizado, que ganhou força principalmente em plataformas digitais, comunidades online e redes sociais. A hashtag e a expressão se espalharam por meio de discussões em fóruns, vídeos e debates no TikTok, Instagram e Twitter.

Para muitas mulheres participantes, o 4B é uma estratégia pessoal de autonomia, não apenas um slogan: trata-se de viver uma vida que não está definida pelos papéis tradicionais de gênero que a sociedade sul-coreana ainda valoriza. 

O movimento também provocou intensos debates dentro e fora da Coreia do Sul, críticas conservadoras o veem como uma ameaça ao “modelo familiar tradicional” ou o acusam de enfraquecer políticas de natalidade em um país com uma das menores taxas do mundo; tensões surgiram dentro do feminismo, especialmente em relação à inclusão de pessoas trans e sobre se a recusa total a relações com homens representa uma forma de separatismo ou exclusão; fora da Coreia, o 4B também tem sido interpretado e adaptado de formas diferentes, gerando debates sobre sua aplicabilidade em contextos culturais distinto.

Ainda que não seja um movimento de massas no sentido tradicional, o 4B reflete uma frustração profunda de uma geração de mulheres com os limites sociais, econômicos e políticos impostos a elas. Ele traz à tona questões centrais sobre autonomia corporal, papéis de gênero, violência e desigualdade, temas que ressoam globalmente em debates feministas contemporâneos.

Fontes: (1), (2)…

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