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HIT!Sound: da crítica ao sucesso: “CRAZY” é uma guinada de carreira para o LE SSERAFIM

Fácil”, “favorável” e “confortável”: definitivamente não seriam palavras, dentre todas as possíveis, para descrever o começo do ano de 2024 para as meninas do LE SSERAFIM — críticas ferrenhas por decisões artísticas sem inspiração no mini álbum “EASY”, a conturbada apresentação no Coachella que reacendeu polêmicas sobre o uso de playback em performances ou, ainda, a exposição das fragilidades pessoais das integrantes no extremamente mal recebido documentário “Make It Look Easy” marcaram a temporada como desastrosa para o girl group.

Apenas seis meses separaram os episódios narrados e o lançamento de “CRAZY”, realizado em agosto em meio à uma tempestade de desconfianças sobre qual seria o próximo passo do grupo e, até mesmo, se o LE SSERAFIM poderia se recuperar na carreira ou estaria fadado à repetição do fracasso.

E foi justamente na combinação de elementos sonoros de EDM, techno e house em “CRAZY que o quinteto formado por Sakura, Chaewon, Yunjin, Kazuha e Eunchae encontrou o caminho para se reinventar musicalmente e, também, experimentar com novos direcionamentos estéticos em busca de canalizar a nova fase conceitual do grupo.

Sintetizadores imponentes, batidas agressivas, vozes distorcidas e fundamentadas majoritariamente nas viciantes spoken words repetitivas dos ganchos “all the girls are girling girling” e “act like an angel, dress like crazy” criam uma ambientação imersiva de ousadia e intensidade ao soar caoticamente futurista e, ao mesmo tempo, retrô, com as alusões à influências dos anos 90. O instrumental, que deliberadamente se abstém de materiais melódicos para se apropriar de loops artificiais, também é notável ao ser uma espécie de menção da indústria do Kpop ao impacto do fenômeno “BRAT” da cantora-compositora e produtora britânica Charli xcx.

A letra é usada como uma ferramenta para contemplar o cenário imaginativo e, por vezes, intencionalmente sem sentido criado no storytelling da composição — referências ao poder de eletricidade do personagem Pikachu do anime Pokémon, ao astrônomo italiano Galileu Galilei que desafiou as crenças estabelecidas com as suas descobertas na astronomia durante a década de 1600 e, até mesmo, uma auto citação de Sakura ao se denominar bestie dos otakus; considerando que ela mesma mantém um canal no YouTube dedicado para gameplays de jogos japoneses.

E como se fosse a última peça de um quebra-cabeça determinado ao sucesso, a inspiração performática do LE SSERAFIM para respaldar a nova fase do girl group foi a de buscar sustentação no universo ballroom para a coreografia. Na sequência ritmada, movimentos característicos do vogue; como duckwalk, catwalk, jogadas de cabelos e silhuetas estáticas são os pontos de homenagem ao movimento artístico e político novaiorquino — que também conta com a presença do renomado grupo de dança estadunidense Iconic House Of Juicy Couture, encarregados de protagonizar os passos mais profissionais do estilo na narrativa visual do MV.

Apesar de não ser exatamente a primeira vez que o grupo flerta com essa sonoridade específica, visto que a b-sideEve, Pysche & the Bluebeard’s wife” lançada em 2023 foi um acerto significativo na trajetória do LE SSERAFIM, em “CRAZY” todos os componentes foram elevados ao máximo; incluindo também a de produção. Ainda que igualmente seja assinada pela equipe 13 (KOR), formada pelos produtores SCORE, Megatone, LUKE, EDEN e HLB, a canção contou com a colaboração de Iluvjulia e do renomado e premiado “hitman” Bang. 

O grande feito de CRAZY” é o de proporcionar uma guinada de carreira para o LE SSERAFIM, que parece usar da música como uma forma de renascer da cinzas: corajosas ao inovar sonoramente e ao arriscar a imagem para as duras críticas anteriores, a atitude ousada do girl group foi compensada e, consequentemente, “CRAZY” se tornou um dos grandes hits de Kpop de 2024 — tanto que, dentre os diversos feitos, conquistou três wins em music shows da Coreia do Sul, o primeiro lugar na parada Top Album Sales da Billboard, performance no MTV Music Awards e, também, uma homenagem no icônico Empire State Building em Nova Iorque. 

CRAZY” materializa bem-sucedidamente tudo o que se propôs a fazer e, principalmente, prova que, de fato, não é à toa que o nome do grupo é um acrônimo para a frase I’M FEARLESS (“eu sou destemida”, em tradução livre para o português). É caótico, é grudento e é LE SSERAFIM

MV oficial de “CRAZY“. (Créditos: Reprodução/LE SSERAFIM/Youtube)

Texto: Mariana Necchi (@mcnecchi)
Design: Bada (@cincoepouca)

Sobre o autor

Jornalista formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Apaixonada por música, cultura pop e cinema.

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