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HIT!Letter: O direito de ser fã na nova geração

Quase uma década atrás, em 2015, o Youtube era a sensação do momento. Não se falava em outra coisa nas escolas, nos jornais, nas revistas e na TV, a não ser sobre o que era ser youtuber e quem eram eles.

Ainda assim, naquela época, os youtubers não eram levados a sério como profissionais pela grande mídia nem pelo mercado de trabalho, por isso, muitas figuras da plataforma recorriam a conteúdos de fácil alcance, ou seja, que tinham a certeza que iam fazer sucesso gerando milhões de visualizações. Em muitos destes casos, isso significava criticar ou fazer provocações sobre algo ou alguém.

Com a onda coreana chegando aos poucos no Brasil, os canais de react bombaram com vídeos de reação a diversos clipes de grupos de K-pop da terceira geração como por exemplo EXO, BTS, GOT7, BIGBANG e muitos outros. À época, alguns destes youtubers não mediam suas palavras — tanto para o bem quanto para o mal — e isso se refletia no comportamento dos jovens.

Nesse período, eu era uma garota no início da minha adolescência e ainda não existia dentro de mim a vergonha ou o receio de dizer que gostava do gênero. Na verdade, era encantador perceber que um gênero musical, até o momento tão nichado, estava lentamente entrando na boca do povo.

Contudo, à medida em que os holofotes se viram a um certo fenômeno, ele se torna suscetível a críticas, opiniões e, também, à violência. Por ser originário do extremo leste da ásia e ter como público majoritário pessoas da minha faixa etária da época, os artistas de K-pop e suas fanbases sempre foram alvo de muita xenofobia, racismo e misoginia.

Surgiu, então, uma onda de ódio avassaladora a uma comunidade que só crescia. Mas o que motiva alguém a sentir e espalhar o ódio? O que existe por trás disso?

É inegável, a busca pelo sentido e pertencimento, que faz parte da jornada de qualquer ser humano. O sentido é tudo aquilo que ressoa e conversa com os nossos sentimentos, a ponto de movimentar nossas ações e escolhas do dia a dia. Já o pertencimento, no caso a vontade de fazer parte de algo, vem de um lugar muito mais sensível que é a necessidade de suprir a falta. Seja ela de afeto, conhecimento, autoconfiança, etc.

Qualquer criança durante a sua infância procura, ainda que indiretamente, o afeto e orgulho dos seus responsáveis. Já na escola, sobretudo na pré-adolescência, o que mais queremos é fazer parte de algum grupo de amigos ou algo no geral. É curioso perceber como a necessidade de fazer parte de algo na adolescência dita os nossos costumes e valores e, com 13 anos, pertencer era uma das minhas maiores vontades. Um objetivo que sempre me levou à frustração, por não me identificar com as pessoas que me cercavam além de ser alvo de provocações na escola.

Sempre fui uma grande fã do BTS. Seus álbuns e shows que divagam sobre a juventude em “YOUNG FOREVER” ou amor-próprio na trilogia “Love Yourself” me apoiaram numa época em que as pessoas do meu convívio não eram tão receptivas ou conhecedoras como hoje em dia.

Ao longo da vida, aprendi que a maior evidência de amor-próprio e autoconsideração é a audácia de ser você mesmo e abraçar suas próprias características, sejam elas positivas ou não. Não me deixar levar pelos comentários alheios e encontrar pessoas que compartilhassem os mesmos interesses que os meus foi fortalecedor, — além de ser o que tornou possível produzir esse texto e fazer parte do time HIT! — justamente por seguir com o que sempre acreditei, permanecendo fiel a mim mesma. 

Hoje, com a influência direta das grandes empresas (Youtube, TikTok, Twitter, Instagram, etc) em todas as áreas das nossas vidas, ser fã de K-pop não é mais tão incomum, já que a globalização permite que as conexões aconteçam mais rápido. Porém, na mesma medida, furar a bolha traz novas formas de praticar o ódio e a violência contra aqueles que escutam esse tipo de música. É  preciso muita disciplina e integridade para não se deixar levar pelos algoritmos, altas tendências e fake news, que buscam manchar a imagem de quem admiramos sem o menor embasamento.

Por isso, encorajo você, leitor, a não se inibir pela reação ou opinião alheia. E não só isso, mas aproveitar as oportunidades ao seu alcance, seja um ambiente acadêmico como a sua escola ou faculdade, para usar a sua paixão pelo K-pop ou idol específico como ferramenta de estudo e autoconhecimento. Existe cultura, informação e muitas pessoas que acreditam mais nesse universo que amamos, não se render a ignorância do outro é perder uma oportunidade incrível de se conhecer, encontrar pessoas e lugares que você nem imagina que te aguardam. Por isso, abrace o seu lado fã e se permita viver essa experiência de peito e coração abertos.

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