Não sinto que estou exagerando quando digo que entrar para um fandom de K-pop mudou o rumo da minha vida, principalmente quando o assunto é autoconhecimento.
Quando se é jovem, muitas vezes tudo o que queremos é encontrar um lugar para nos encaixar e em que possamos ser nós mesmos.
Passamos por caminhos tortuosos para encontrar esse lugar, sentindo-nos diferentes das pessoas ao nosso redor. Mas não do tipo “com um coque frouxo e um copo daquela marca que vocês conhecem bem”. “Diferente” num sentido de não entender porque você não se encaixa, mesmo querendo muito.
Às vezes, o que precisamos para nos conhecer melhor é encontrar alguém que seja parecido com a gente, nem que seja igual apenas em ser diferente.
Apesar da Coreia do Sul infelizmente ainda ser bem atrasada em questões LGBTQIAPN+, os fandoms de K-pop aqui no Brasil, num geral, não são. E foi convivendo com essa galera e conhecendo pessoas parecidas e totalmente diferentes de mim, que eu finalmente comecei a me encontrar.
Conhecer estas pessoas me ensinou muito e abriu meus olhos para possibilidades que eu não sabia sequer que existiam.
Hoje eu me identifico como uma mulher birrômantica e assexual e entendo que é justamente a minha assexualidade que me faz me sentir diferente dos meus amigos quando tratamos de assuntos referentes à sexualidade. E está tudo bem.
Sei que algumas pessoas lendo este texto talvez não tenham familiaridade com o espectro da assexualidade e não é meu intuito, neste momento, destrinchar a respeito deste tópico específico, porém recomendo fortemente a leitura sobre o tema, pois a realidade é bem diferente do que o senso comum retrata. Se preferir aprender através de ficção, recomendo a leitura de “Sem amor”, de Alice Oseman. A assexualidade e arromanticidade são abordadas na obra de forma bem didática e esclarecerá muitas dúvidas que você possa ter acerca deste assunto.
Mas voltando ao ponto principal desta HIT!Letter, os fandoms de K-pop foram uma porta de acesso à comunidade LGBTQIAPN+ para mim. Essa é a beleza das artes, não é? Não importa quem você seja, sua sexualidade, gênero ou credos, a arte também é para você. E é justamente por isso que onde há arte, há diversidade.
Atualmente, ainda temos poucos artistas coreanos abertamente da comunidade, apesar de termos alguns que são aliados às nossas causas. Isso acontece por diversos fatores, mas principalmente pelo fator cultural conservador e político. A servir de exemplo, o casamento ou união estável entre pessoas de mesmo gênero que ainda não é legalizado na Coreia do Sul.
HOLLAND, como muitos sabem, foi o primeiro idol de K-pop a se abrir sobre sua sexualidade e o início de uma esperança de que o cenário talvez fosse começar a mudar inspirado em sua coragem, porém não foi exatamente o que observamos na prática. A mudança para o K-pop continua vindo a passos lentos.
Este ano, apesar de as autoridades terem proibido o desfile da Parada do Orgulho de Seul, a proibição não a impediu de acontecer, tendo a presença de 150 mil pessoas.
Por aqui, continuarei torcendo pela comunidade LGBTQIAPN+ coreana, para que consigam finalmente garantir seus direitos de igualdade, e aguardando o dia em que verei meus artistas preferidos poderem falar tranquilamente sobre sua sexualidade, seja ela qual for.
Design: Darlís Santos
Foi na arte onde primeiro descobri sobre mim e tanto no K-pop quanto no K-drama, sigo me redescobrindo. Esse texto trouxe de volta essas memórias: das músicas ou cenas com as quais vi e senti quem de fato sou. Para além das histórias ficcionais, amo aprender com as reais, como agora. Amei o texto e relato. Seguiremos sendo assim: diferentes, diversos e dignos do melhor! #LGBTQIAPN+