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HIT!Leituras: Fantasia, memória e resistência em “The Last Tiger” de Julia Riew e Brad Riew

Revisão: Adê Moura

Design: Duda Curvelo

Campina Grande, 27 de Setembro de 2025.

Gênero: Ficção histórica, Fantasia, Romance

Classificação indicativa: 12 anos

Lançado em julho, “The Last Tiger” (“O Último Tigre”, em tradução livre, ainda sem previsão de publicação no Brasil) é o livro de estreia dos irmãos e coautores Julia e Brad Riew. A ideia nasceu a partir de uma vontade do avô deles, que queria ver transformada em ficção a história de amor vivida durante a ocupação japonesa na Coreia do Sul.

O meu primeiro contato com a obra foi ainda antes do lançamento. Já estava curiosa, encantada com a ideia de misturar ficção histórica e fantasia para trazer essa narrativa. Só que, ao ler o livro, percebi que ele vai muito além de um simples romance.

The Last Tiger” é um livro que mergulha em uma das feridas mais profundas da península coreana: a colonização japonesa, ocorrida entre 1910 e 1945. Os autores se inspiram em fatos reais das vidas dos avós, mas adicionam elementos mágicos e mitológicos que trazem uma dimensão emocional e cultural muito rica para o leitor.

Dentro da narrativa, a obra escolhe nunca dizer claramente “Japão” ou “Coreia”. O invasor é chamado de Dragão, e o povo colonizado, de Tigre. Esse recurso dá um tom quase mitológico, mas ao mesmo tempo ecoa demais a realidade histórica. O livro retrata o impacto devastador da ocupação de forma detalhada no cotidiano dos personagens, a partir da repressão política, perseguição de líderes, censura da língua nativa, sequestros e desaparecimentos, e a imposição rígida da cultura e idioma dos colonizadores. Esses aspectos mostram um sistema opressivo que busca não apenas controlar, mas apagar a identidade coreana.

Além disso, você consegue sentir o medo, a vigilância o tempo todo… Em um contexto onde o uso da língua nativa (língua do Tigre) é proibido em público, é como se qualquer palavra errada pudesse ser fatal. Símbolos nacionais como o tigre, são caçados até a extinção, e rituais cruéis como as “Cerimônias de Abate” são impostos como demonstração de poder – é duro de ler, mas necessário para entender o que eles queriam fazer com o povo.

Uma das coisas mais impressionantes para mim foi a existência dos poderes de ki – uma energia espiritual que concede habilidades extraordinárias aos personagens treinados na Academia Adachi. Graduados têm força sobre-humana e estão garantidos em carreiras no governo colonial, simbolizando tanto privilégios e prestígio social quanto poderio militar. O ki é transformado em arma pelo império e funciona como um símbolo das disparidades socioeconômicas e políticas da época: o acesso ao treinamento e aos poderes é restrito aos filhos das elites. A narrativa mostra a frustração e o desejo dos protagonistas de alcançar esse poder para obter dignidade e liberdade, ainda que isso pareça inalcançável. 

Embora o livro tenha muitos elementos fantásticos, ele não deixa de retratar a resistência real à dominação colonial – apresentada, inclusive, na construção do romance entre os protagonistas, Lee Seung e Choi Eunji, através de gestos pequenos e clandestinos, que atravessam o cotidiano. 

No fim das contas, “The Last Tiger” é, principalmente, sobre vozes que foram silenciadas e que lutam para se fazerem ouvir. É uma história que não só fala das dores e injustiças do passado, mas também celebra a capacidade humana de resistência e expressão. Mesmo trazendo elementos de fantasia e um enredo que, por vezes me pareceu simples demais, essa simplicidade ajuda a romancear, a evocar imagens poderosas na mente, e a tornar a leitura acessível e bonita, convidando qualquer pessoa a mergulhar nessa aventura – seja conhecendo a história de verdade por trás, ou apenas se deixando levar por uma fantasia apaixonante.

Quando terminei o livro, confesso que a leitura me surpreendeu. Eu fiquei inspirada, mas com o coração pesado. A carga histórica que atravessa a narrativa, mesmo sem ser apresentada de forma explícita, me deixou um sentimento de luto. Saber o contexto real por trás da história me fez imaginar as pessoas reais, suas lutas e sofrimentos silenciosos. Mas, olha, isso não é uma barreira. Se você não conhece a história, tudo bem! Dá pra ler “The Last Tiger” como uma fantasia romântica, deliciosa e tocante. Talvez essa seja uma das maiores forças da obra: ser acessível e encantadora, mesmo carregando em suas entrelinhas uma memória coletiva de dor e sobrevivência, é exatamente o que faz a leitura valer a pena.

Fontes: (1)

Sobre o autor

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), escrevo sobre geopolítica e outras coisinhas :)
Para sugestões de pauta: jjoanaelen@gmail.com

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