A indústria do K-pop, que ganhou destaque globalmente a partir de 2016, impulsionado pelos sucessos dos grupos BTS, BLACKPINK, TWICE e recentemente com o filme de animação “K-pop Demon Hunters”, carrega um lado obscuro e difícil.
Não é novidade que a indústria de entretenimento sul-coreana impõe rotinas exaustivas e exigentes a seus artistas, algo que começa ainda na fase de treinamento, antes mesmo da estreia nos palcos. Um novo livro investigativo do jornalista Jeon Da-hyeon, intitulado “K-pop, Idols in Wonderland” (“K-pop, Ídolos no País das Maravilhas”, em tradução livre), revelou um dado alarmante: 8 a cada 10 trainees deixam de menstruar devido a dietas extremas e regimes intensivos de treinamento, que chegam a começar às 5h da manhã e se estendem até as 2h da madrugada, sem períodos de descanso.
A obra examina contradições do sistema de treinamento da indústria pop coreana, utilizando relatos de 40 entrevistados entre trainees, artistas, produtores, agências, críticos, advogados, fãs e legisladores. O autor traz apontamentos comparando o processo de criação dos grupos de K-pop com sistemas culturais autoritários.
Segundo um membro da equipe de desenvolvimento de uma empresa de entretenimento retratada no livro, 8 em cada 10 estagiárias jovens deixam de menstruar devido a dietas rigorosas que comprometem seriamente a saúde. O relato também menciona a imposição de cirurgias plásticas aos jovens em treinamento, a ponto de alguns deixarem de reconhecer o próprio rosto, além do abandono dos estudos em diferentes fases da formação escolar, em função das exigentes rotinas de preparação.
Em 2020, a idol Ashley Choi, do grupo Ladies’ Code, revelou no podcast GET REAL que ficou um ano sem menstruar após adotar uma dieta extremamente restritiva para perder peso. “Eram literalmente 12 tomates-cereja por dia ou uma salada o dia todo. Dois meses depois de começar a treinar, perdi minha menstruação”, desabafou.
Ashley contou que, antes de se mudar para a Coreia, pesava 52 kg. No entanto, foi orientada a emagrecer para estrear, atingindo 49 kg com 1,66 m de altura. Após a perda do ciclo menstrual, iniciou um tratamento com injeções hormonais, mas seu corpo só voltou ao normal após um mês de descanso antes do debut.
Casos como esses são conhecidos como amenorreia, condição causada por estresse, dietas restritivas e exigências físicas extremas, que pode afetar o equilíbrio hormonal, a saúde óssea e até a fertilidade.
Recentemente, o programa de audição de K-pop “UNDER15”, da emissora MBN, recebeu críticas nas redes sociais por incluir 59 meninas menores de 15 anos para competir por uma vaga em um novo grupo musical. Os teasers do programa chamaram a atenção por apresentarem as participantes com maquiagens pesadas e roupas consideradas inadequadas para a idade. O caso reacendeu o debate sobre a exploração de menores na indústria do entretenimento sul-coreana e como isso tem sido corriqueiro nos grupos atuais com artistas menores de 18 anos.

