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Toda canção começa com um acorde, assim como todo livro precisa do seu primeiro capítulo, mas durante a Guerra da Coreia, o recomeço veio ao som potente do rock, um gênero até então desconhecido para os músicos locais. Compartilhado inicialmente por soldados americanos em 1950, o rock logo ganhou uma interpretação bem sul-coreana nas bases militares, local onde Shin Jun Hyeon se destacou como o primeiro guitarrista do gênero no país. Foi a partir daquela década que o rock se tornou um refúgio, uma causa e fonte de esperança diante da guerra.
Depois de formar a primeira banda sul-coreana de rock em 1962, a ADD4, Shin Jun Hyeon ganhou notoriedade entre o público, fato que desagradou o governo totalitário da época. Durante a ditadura militar, ele foi alvo de muita perseguição, visto que o rock fazia parte dos alvos da opressão governamental, levando-o a ser torturado, preso e afastado dos palcos. Ainda que sua ausência seja considerada a causa do rock sul-coreano ter se desenvolvido tardiamente, o legado de Shin Jun Hyeon é uma referência inabalável. Hoje, ele é considerado o “padrinho do rock” e uma forte inspiração para artistas de todas as gerações.
Na Coreia do Sul, diferente do K-pop, o K-rock cresceu com o intuito de ser uma expressão mais disruptiva, explosiva e ao mesmo tempo sentimental, ainda que sem muito investimento por parte da indústria, focada apenas no pop. Combinando letras sensíveis com batidas fortes, o rock ganhava arranjos com uma identidade sonora marcada por boas histórias e um ritmo perfeito para surpreender o público desde o primeiro verso.
Em 2009, a banda CNBLUE se tornou um exemplo perfeito para quando o assunto é melodia pulsante com uma letra bastante romântica, nada óbvia e destemidamente sensível. Sem medo de criar dramas e cantando os dilemas de sonhadores e apaixonados, há 15 anos, a banda marca presença no cenário do K-rock. Com CNBLUE, você vai do 8 ao 80 em 3 minutos de uma música, que sabe como ser marcante ao fisgar o mais exigente dos ouvintes.
Provando que o rock não é só música, mas é também um estilo de vida, a banda THE ROSE constrói uma trajetória marcada por canções que levam em seu contexto discussões sobre falar de quem somos, do que queremos e de como sentimos a vida. Dispensando qualquer receio de ser e se mostrar vulnerável, a banda levou para o K-rock temas que não se limitam ao amor entre duas pessoas, porque também celebra e valoriza o autoamor.
Responsável por promover o rock sul-coreano mundialmente, THE ROSE já performou em grandes festivais, como no Lollapalooza, desembarcando no Brasil em 2023 e sendo eleito o melhor show da edição. No Coachella 2024, a banda aumentou o tom e explorou novas facetas de um rock ímã, daqueles que aproxima o público e faz qualquer palco ser pequeno demais para tanta conexão.
Destacando vocais tanto quanto destaca guitarra, baixo e bateria, a banda DAY6 é conhecida por conectar romantismo e rock, intensificando o magnetismo do gênero. Com músicas narrando amores, desilusões, encontros e separações, DAY6 se propõe a musicalizar a vida e suas paixões, transformando pequenos momentos em versos lindos e criando um refrão que se repete sozinho em nossos ouvidos, ainda que a música já tenha terminado.
Em uma indústria acostumada com fórmulas, a banda DAY6 desvia dos padrões ou convenções e se entrega ao seu próprio rock: feito para ser intenso, bebendo de onde tudo começou, mas do seu próprio jeito. Com esse posicionamento fica fácil entender a conexão imediata que o público estabelece com a música da banda, seja dentro ou fora do mainstream.
A nova geração do rock sul-coreano tem algum nome em projeção? Para esta pergunta, uma das possíveis respostas é, com certeza, Xdinary Heroes. Para quem acompanha a cena, a banda se destaca por seu talento e tema, além da sonoridade nostálgica e ao mesmo tempo moderna, apresenta um rock que coloca a vida comum no centro da canção.
Como o nome sugere , Xdinary Heroes faz um K-rock destemido e empático: uma criação de artista para público, ou seja, de pessoa para pessoa. A banda é uma voz pronta para cantar sobre o que verdadeiramente acredita e se importa. Com canções que retratam heróis do dia a dia, sejam eles um homem, uma mulher ou um sentimento, Xdinary Heroes sabe como despertar um universo inteiro dentro de alguns minutos de uma boa música.
Vozes femininas também precisam ser ouvidas. No rock não é diferente, em um contexto onde a presença masculina é predominante, bandas como a Rolling Quartz garantem representatividade feminina no gênero. Enfatizando a importância da indústria ter um rock também feito pela ótica de cantoras e musicistas, torna a banda um nome que inspira o surgimento de outros.
Passeando entre hard rock e heavy metal, Rolling Quartz leva para o K-Rock muita audácia e empoderamento. A banda é um estrondo necessário para uma atmosfera que espera cautela ou um certo recato feminino. Rolling Quartz chega com músicas realistas e sem medo de tocar em tópicos tidos como tabu ou “fora da esfera feminina”.
Mesmo que ao ouvir o nome Coreia do Sul, sejamos levados a pensar em K-pop ou K-drama, logo de imediato, neste Dia do Rock queremos compartilhar um outro universo da cultura sul-coreana. Porque a música é vasta e não custa nada desbravar novos estilos, gêneros, artistas e contextos musicais. Não esqueça que o rock é campo aberto, ou seja, cabe tudo e todos dentro dele agora mesmo.