Texto: Cida Silva
Design: Cintia
Lembrar não é um caminho fácil, mas atravessá-lo é necessário. Seja por respeito ou por saudade, não esquecer de alguém é uma forma de mantê-lo entre nós e preservar sua história. Conhecido como Hyeon Chung-il (현충일), ou Memorial Day, o Dia do Memorial é uma cerimônia em homenagem aos veteranos que morreram na Guerra da Coreia. Unindo presente e passado, a tradição tornou-se um ato de profundo pesar e respeito, acolhendo dor, memória e esperança dentro de um mesmo momento.
A cerimônia ocorreu pela primeira vez no dia 6 de junho de 1956 e até hoje, às 10h desta mesma data, o som da sirene volta a ecoar forte e alto, enquanto a bandeira da Coreia do Sul é hasteada a meio mastro. Ficar em silêncio e escutar a sirene é como deixar as lembranças falarem por si só. O Dia do Memorial é realizado no Cemitério Nacional de Seul, demonstrando luto aos soldados mortos e solidariedade aos seus familiares. Marcada pela oração silenciosa da população e dos chefes de estados, o solene gesto é uma demonstração de gratidão ao Exército de Libertação da Coreia e às Forças Armadas da República da Coreia.
Para muito além de falar sobre guerra, o Dia do Memorial trata sobre a coragem de quem se sacrificou por inteiro em nome do seu patriotismo e colocou a liberdade do povo sul-coreano como uma prioridade incontestável. Hoje, Coreia do Norte e Coreia do Sul lidam com uma trégua garantida por meio da assinatura de um decreto de cessar-fogo, oficializado em 27 de julho de 1953. Há 71 anos, muitos sonham que ambas as nações possam assinar um tratado de paz. A esperança que marca essa cerimônia, também marca a rotina da sociedade sul-coreana, rejeitando qualquer nuance de um país dependente e pedindo por uma paz permanente.
O Dia do Memorial também faz sua homenagem às vítimas do Massacre de Gwangju, no qual estudantes defensores do movimento democrático coreano morreram na chacina que aconteceu de 18 a 27 de maio de 1980. O ato de tributo é uma forma de lembrar aos vivos cada motivo, nome e rosto daqueles que morreram para transformar a liberdade sonhada em uma realidade concreta. O grande ganho de hoje é de certa maneira um reflexo do tamanho da perda de ontem.
Como bem podemos ver retratado na escultura “Statue of Brothers” (Estátua dos Irmãos), presente no Memorial de Guerra da Coreia (전쟁 기념관), o encontro e abraço de dois irmãos (Norte e Sul) simboliza o que toda guerra coloca em risco: vidas, futuros e vínculos. Há muita existência dentro do aqui e agora para deixá-la ser abatida em disputas ou conflitos. O Dia do Memorial é um alerta indicando para onde não voltar e um guia que revela para onde se deve olhar. Porque merecemos focar em um futuro justo e pacífico. Foi por isso que muitos lutaram até morrer e é para isso que devemos viver.