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Dia do Hangul: conheça a origem, significado e curiosidades sobre o alfabeto coreano

Se você já se aventurou em tentar aprender o idioma coreano, com certeza deu o primeiro passo vendo aulas sobre o alfabeto da língua, o Hangul, como é conhecido. 

Na Coreia do Sul, o dia 9 de outubro é considerado feriado nacional para relembrar o surgimento do sistema linguístico. Agora, por que será que os coreanos reservam um dia em seus calendários para celebrar algo tão corriqueiro quanto os caracteres de sua língua? 

O artigo de hoje foi feito para responder essa pergunta e te mostrar um pouco da história, importância e curiosidades do Hangul. Vem! 

Para entender a origem, precisamos analisar o contexto, então vamos voltar lá na chamada “Era dos Três Reinos”, que aconteceu entre 57 a.C e 668 d. C. Nessa época, a península da Coreia antiga já tinha seu dialeto próprio, mas devido a influência da China antiga, alguns cidadãos começaram a utilizar os caracteres chineses (ou Hanja) para registrar seus pensamentos e documentar os acontecimentos, ou seja, tentavam reproduzir o som das palavras coreanas usando letras chinesas.

Pergaminho com escritos em Hanja exposto no Museu do Hangul (Créditos: Reprodução/Blog do Coreano Online)

Entretanto, isso não era uma tarefa nada fácil, visto que o coreano é bem diferente gramaticalmente do chinês e não dava para transmitir totalmente os fonemas do idioma falado, por isso, os únicos cidadãos coreanos da época que sabiam ler e escrever eram aqueles que ocupavam importantes posições sociais e tinham acesso ao ensino. E assim, a grande maioria da população era analfabeta.

Mas, chegando na dinastia Joseon, o quarto rei vigente chamado Rei Sejong (também conhecido como Rei Sejong, O Grande) se incomodou pelo fato da maior parte dos coreanos serem iletrados e em 1443 criou o sistema de escrita em coreano.

Uma pintura retratando o Rei Sejong sentado em seu trono (Créditos: Reprodução/ Applied Unificationism Blog)

O objetivo do rei era que as letras fossem simples e de rápida aprendizagem, para que tanto os mais ricos como os mais pobres pudessem registrar suas experiências, pensamentos e se comunicar por escrito. E esse foi um grande passo para o avanço histórico e documental do país.

E para propagar a novidade, em 1446 o Rei Sejong elaborou alguns livros que foram distribuídos ao povo, o mais famoso foi o “훈민정음” (ou Hunminjeongeum, que traduzindo seria “Os sons corretos para instrução do povo”) e, a partir desse documento, conhecemos o Hangul (한글) como ele é hoje. 

Assim como o alfabeto romano, o Hangul também possui consoantes e vogais. São 14 consoantes básicas e 10 vogais básicas, o que dá 24 caracteres inicialmente. Entretanto, também temos versões combinadas e duplas dessas letras e aí, no final das contas, temos 40 símbolos para memorizar e assim aprender a ler e escrever em coreano. Dá uma olhada:

Alfabeto coreano completo (Créditos: Adobe Stock/drutska)

Mas eu gostaria de trazer mais profundidade em como foi pensada a estrutura das letras e a lógica por trás do alfabeto. Tenho certeza que depois disso você também vai pensar que o Rei Sejong era um gênio.

Começando pelas vogais, o Rei desenvolveu um significado mais filosófico para elas. Aqui vai a explicação.

Desmembrando as vogais, podemos ver que todas são compostas por três elementos base: “•” , ” ㅡ ” e “ㅣ” . O ponto (que hoje em dia é um tracinho) representa o sol, já a barra horizontal representa a terra enquanto a vertical faz referência ao ser humano.

Arte explicando a composição de algumas vogais (Crédito: LINGODEER)

Agora, as consoantes são o que fazem o Hangul ser considerado o alfabeto mais científico que existe. Isso porque, se você observar bem, o formato delas foi pensado para imitar o movimento da boca quando se fala determinada letra. 

Vamos pegar o símbolo “ㄴ” que equivale ao “n” na forma romana. Observe que, quando você emite o som de “n”, a ponta da sua língua vai até os dentes superiores, então o movimento fica parecido com o formato de “ㄴ”. Legal, não é? Veja outros exemplos abaixo:

Imagem ilustrativa que mostra a anatomia humana que inspirou o formato das consoantes coreanas (Crédito: Reprodução/ Vanessa Park)

Deu para ver que o Hangul é algo incrível, inovador e revolucionário para a história coreana e só isso já é razão o suficiente para comemorar, certo? Mas além disso, o alfabeto coreano tem sido sinônimo de resistência desde a sua criação, pois já houve épocas em que o sistema foi proibido.

Em 1504, quando o rei Yeonsungun estava no poder, a elite coreana da época queria proteger seu status, relevância e monopolizar o acesso à educação. Assim, o grupo  afirmava que o Hangul não era efetivo e que somente o Hanja (ideogramas chineses) era a única forma de escrita válida. Com essa pressão vinda da parcela rica, o Rei Yeonsungun baniu o alfabeto e seu ensino.  

Eventualmente a escrita foi retornando e ganhando força já no final do século XVI, muito disso graças a poemas e histórias que foram escritas em Hangul e que foram caindo no gosto do povo. 

Uma das páginas da obra “Honggildongjeon” ou “Histórias de Hong Gil-dong”, considerado o primeiro livro de ficção publicado utilizando o Hangul. (Créditos: Reprodução Nanum Coreano)

Se você pensou que a oposição parou por aí, sinto lhe informar que não. No ano de 1910, a Coreia do Sul foi invadida pelo Japão e assim iniciou-se um plano para dominar o território e apagar a cultura e identidade coreana, primeiro fazendo com que os cidadãos coreanos adotassem nomes japoneses. 

Até que em 1938 o Hangul foi proibido de novo, agora não só na forma escrita, mas também falada. Entretanto, graças aos esforços de estudiosos e professores coreanos da época, o idioma coreano pode ser preservado. Um movimento que se destacou nessa missão foi o chamado “Sociedade da Língua Coreana“, o qual desafiou a opressão japonesa e trabalhou na criação de um dicionário para manter o Hangul vivo.

Uma das cenas do filme “Mal-Mo-E: The Secret Mission” que retrata o período da década de 1940 quando o movimento “Sociedade da Língua Coreana” trabalhava na preservação do idioma.

A liberdade chegou em 1945 quando a Coreia declara independência da colonização japonesa. Nesse mesmo ano, o Hangul volta a ser ensinado nas escolas e o governo sul-coreano instituiu o dia 9 de outubro como um momento para celebrar o patrimônio nacional que é o sistema de escrita coreano, nomeando a data como “한글날” ou em português “Dia do Hangul”.

Atualmente, não existe um protocolo oficial de como celebrar a data. Uma alternativa para os cidadãos coreanos seria visitar o Museu do Hangul (The National Hangeul Museum), que fica em Seul, capital da Coreia do Sul. Lá a história é contada com riqueza de detalhes em exposições imersivas.

Outra opção seria tirar uma foto ao lado da estátua gigante do Rei Sejong, que foi levantada em homenagem a sua vida e invenções que mudaram o curso da sociedade coreana.

Gostou desse momento aula de história com a HIT!? Então não esquece de comentar conosco o que achou e qual a sua vivência com o idioma coreano. E até a próxima, HIT!Lover.

Sobre o autor

Jornalista brasileira explorando o mundo da música, arte, cultura pop e tudo relacionado a K-culture. 📩 Pautas/Suggestion: virginia.bsoliveira@gmail.com

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