A moeda sul-coreana atingiu uma cotação de 1.439 won por dólar nesta terça-feira (17), nível mais alto desde períodos críticos da economia do país. Embora o governo e o Banco da Coreia (BOK) afirmem que a situação não representa uma crise, a desvalorização persistente do won e o uso das reservas cambiais para conter a pressão preocupam especialistas, que apontam também a crise política como fator determinante.
O governo da Coreia do Sul vem recorrendo às reservas cambiais e ao fundo de equalização cambial desde o início de dezembro, após a declaração de lei marcial pelo presidente Yoon Suk-yeol. A medida, que gerou instabilidade no mercado, foi seguida pelo processo de impeachment do presidente, aprovado pelo parlamento no último sábado (14). A soma dos eventos intensificou as preocupações econômicas, levando a moeda a sucessivas desvalorizações.
Durante audiência parlamentar nesta terça-feira, o governador do BOK, Rhee Chang-yong, reconheceu os impactos da crise política no mercado financeiro e na confiança da população. “Embora os principais indicadores, como exportações e o fluxo de visitantes estrangeiros, não mostrem grandes alterações no curto prazo, observamos uma queda acentuada no uso de cartões de crédito e nos índices de confiança econômica”, afirmou Rhee.
Especialistas apontam que, além de fatores externos como a valorização do dólar e as incertezas nos Estados Unidos, a instabilidade política interna agrava a situação do won. “O cenário atual é uma combinação de crise política, desaceleração das exportações e incertezas econômicas globais”, explicou Kim Sang-bong, professor de economia da Universidade Hansung.
As reservas cambiais da Coreia, que atingiram o pico de US$469 bilhões (aproximadamente R$2,87 trilhões) em 2021, vêm caindo gradativamente e somaram US$415 bilhões (cerca de R$2,54 trilhões) no final de novembro. O governo afirma que a situação está sob controle, mas especialistas alertam que, caso as reservas caiam abaixo da marca de US$400 bilhões (aproximadamente R$2,45 trilhões), poderá haver uma fuga acentuada de capital estrangeiro.
Outro ponto de preocupação é o uso do fundo de equalização cambial, criado para estabilizar a moeda, mas que tem sido redirecionado para cobrir déficits fiscais. Em 2023, cerca de 19 trilhões de won foram utilizados para compensar a arrecadação abaixo do esperado, e o orçamento previsto para 2025 foi reduzido em 64,8 trilhões de won.
Apesar das preocupações, Rhee descartou a possibilidade de uma crise cambial, afirmando que a Coreia permanece como país credor líquido e que a economia sul-coreana possui fundamentos sólidos. “A preocupação com uma crise é exagerada. A elevação do câmbio reflete fatores momentâneos, mas não há problemas estruturais nos mercados financeiros”, reforçou.
Ainda assim, ele destacou a necessidade de separar a política econômica dos processos políticos. “A independência das políticas econômicas é fundamental para conter as incertezas do mercado e restaurar a confiança”, afirmou o governador do BOK.
Enquanto isso, a situação do won continua sendo acompanhada de perto por investidores e pelo mercado global, em um cenário em que os reflexos da crise política ainda mostram impacto direto na economia do país.