São Paulo, 07 de Dezembro de 2022
Texto por: Nico Rodrigues
Neste segundo comeback, a k-band vem com todo o seu talento para representar aqueles que querem um escape da própria mente!
Xdinary Heroes é uma banda de 6 integrantes que, desde seu debut, traz letras que provocam o pensamento de quem ouve. Logo, no comeback do 3º mini-álbum Overload, isso não seria diferente!
Haircut, como o próprio líder e baterista — Gunil — disse: é uma música que reflete sobre pessoas com transtornos mentais. Ele explica que, inclusive, o termo “haircut” já estava em seu caderno de composição há tempos.
E, pessoalmente, acredito que se dê ao fato de não ser exatamente uma metáfora para superar os problemas, mas sim uma representação de experiência vivida por ele, afinal…
“Também tive uma época em que me afogava em pensamentos ruins, que me levavam a ficar em meu apartamento e não sair para encontrar pessoas por um determinado período de tempo. Naturalmente, meu cabelo ficou bagunçado e comprido. Quando finalmente decidi começar de novo, a primeira coisa que fiz foi ir à barbearia cortar o cabelo. Enquanto meu cabelo estava ficando arrumado novamente, pensei comigo mesmo que um dia usaria a palavra-chave ‘corte de cabelo’ para escrever uma música para compartilhar a experiência com muitas outras pessoas que podem estar passando por algo semelhante ao meu.” — explica Gunil.
Como resultado dessa inspiração, a banda trouxe uma música forte mesclada a um visual mais maduro dos meninos. Acredito que o resultado disso foi espectacular, afinal, seja nos cenários, no figurino ou no próprio olhar dos artistas enquanto interpretam a música, é possível você acompanhar gradativamente a transição de suas emoções.
Quer ver? Segue a análise!
Desde Happy Death Day, os meninos da Xdinay Heroes trazem ambientes conhecidos por gerar lembranças alegres em situações onde as pessoas estão mergulhadas em sentimentos que vão no caminho oposto.
Desta vez, eles trazem o MV ambientado em um parque de diversões, que se desdobra em alguns cenários que mostram a transição das emoções dos garotos. E devo dizer que a que mais me chamou a atenção foi a ‘casa dos espelhos’.
Onde os garotos representam a prisão e a liberdade.
Primeiro, Gaon é a representação viva do transtorno. Na primeira cena em que podemos vê-lo assim, o guitarrista – já com seu “novo visual” – encara a sua versão “bagunçada e confusa” que canta que não quer mais estar ‘louco’; o contraste também fica evidente pelos figurinos dele.
Na sequência, um jogo de luzes brinca com os trechos da música sobre usar a tesoura para cortar a minha escuridão e essa figura de Gaon dá as boas-vindas a Jungsu, como a representação da liberdade que está chegando.
Além disso, Jungsu, nosso querido tecladista também é quem complementa a cena de Jun Han.
O garoto se aprisiona dentro de um armário que tem a palavra “ansiedade” pichada em diversas formas, misturada a outras palavras e expressões temáticas à banda e, quando a música declara: “Corte tudo, deixe tudo para fora. Hora de deixar ir, hora de deixar explodir” adivinha quem sai dele?
Você provavelmente já sabe a resposta, mas confere no MV completo que é ainda mais legal!
Além disso, sobre o refrão, houve uma jogada de câmera na gravação das cenas da banda que achei fenomenal.
A primeira parte da música canta sobre eles não conseguirem enxergar as coisas direito, certo? Assim, o primeiro corte de cena da banda tocando tem as imagens distorcidas como essa visão, mas assim que entra o refrão com o convite para get a haircut, todo o movimento de cena se estabiliza. Afinal, estamos voltando a ver as coisas com clareza, não?
Eles também usam essa distorção durante o rap de Gaon e O.de, onde além de uma letra incrível que faz analogia entre um visual que você não quer mais representando a ansiedade da qual deseja se libertar, os garotos também dão um show de carisma — dando um destaque para as expressões mais raivosas de O.de que são um ponto alto da cena!
Por fim, parece que eles levaram o “deixe tudo explodir” ao pé da letra…
Confirmando a transição das emoções dos garotos, o que antes era o parque de diversões — que talvez possamos chamar melhor de parque das emoções ruins — se transforma em um monte de escombros pegando fogo.
Inclusive, pensar que a representação do parque todo funcional seja a ambientação de quando está tudo ruindo por dentro dos meninos dá razão a quando dizem que “nem tudo realmente está bem, quando parece estar”. Isso também se reforça com as cenas dos garotos que começam o clipe em momentos onde estão sozinhos, perdidos e precisando de uma saída, enquanto a finalização do MV nos trás eles sorrindo, livres e vivendo novas experiências.
Com isso, deixo uma ressalva que tanto eu quanto os meninos – acredito – sabemos que o processo de convivência com transtornos mentais é gigante e complexo, mas esperamos que Haircut possa realmente cumprir seu papel em motivar aqueles que precisam a get a haircut. E lembrá-los que há muitas pessoas ao redor que torcem pelo seu bem-estar, assim como os nossos queridos Xdinary Heroes.
Análise construída a partir de percepções pessoais e com prévio embasamento na análise semiótica de Charles Sanders Peirce.