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Hit! Analisa Mirror: A dependência emocional espelhada por Fiestar!

São Paulo, 12 de Dezembro de 2022
Texto por: Nico Rodrigues

Rever esse MV depois de alguns anos e me dar conta de que ele tinha uma profundidade muito maior do que era explicado na própria descrição do vídeo, fez minha cabeça explodir.

Apresentado como um clipe que performa a passagem pelo fim de um relacionamento — um bem doloroso, por sinal — Mirror e todo seu significado se resumem a esse acontecimento: um término; quando, na verdade, a sua letra – na minha percepção – traz algo muito além: a dependência emocional.

Após descobrir que a Linzy, uma das integrantes do grupo, teve participação na composição dessa música incrível, fiquei ainda mais apaixonada. É uma pena o grupo não estar mais em atividade, mas acredito que o melhor que podemos fazer é trazer à tona a arte quando ela precisa falar para o público, não?

Por isso, vamos descobrir como o Fiestar mostrou a dependência emocional nos seus reflexos em Mirror!

Com um tipo de conceito sexy que era marca registrada do grupo, as meninas do Fiestar trouxeram uma melodia muito envolvente para o MV.

Seus visuais impecáveis eram complementados por cenários mais simples e o grande peso de Mirror fica na letra da canção, que pede ajuda para se reencontrar, pois elas já não sabem quem é ‘aquela pessoa’ que veem no espelho.

As integrantes performam a música encarando seus reflexos em espelhos diversos e, inclusive, demonstrando não querer encarar essa figura no espelho que, por consequência, representa a realidade de que foram emocionalmente prejudicadas por esse “amor”.

Além disso, cada uma delas possui um cenário específico que mostram alguns comportamentos, evidenciando a solidão, a confusão e o transtorno de passar por esse período de término e de dano emocional.

Mandando um show de atuação, elas conseguem captar nas suas cenas individuais diversos dos sentimentos pelos quais passamos nesse tipo de experiência: os choros incessantes, a negação pelo fim da relação, o apego ao “eu” antigo da pessoa amada e a dependência dela, que nos faz pensar exatamente o que é cantado por Yezi: sem você, minha existência não tem sentido.

Ao meu ver, essa produção foi afiadíssima em evidenciar como — literalmente — nos afundamos em sentimentos ruins a partir dessa dependência, afinal, ao nos separarmos da ‘pessoa amada’ perdemos o único pilar de apoio que acreditamos ter.

E foi nas cenas de dança em grupo que esse “mar de sentimentos” que nos aprisiona foi mostrado de forma mais criativa.

Como se estivessem, da forma mais literal possível, mergulhadas nas suas sufocantes emoções, as integrantes dançam em um cenário um chão de areia e a simulação de reflexo da água sobre elas ficou totalmente a cargo do trabalho de iluminação. 

E seguindo o gancho sobre cenários, iluminação e efeitos: a outra cena de dança do grupo também me levou a algumas reflexões.

Quando perdemos um amor de quem somos dependentes, uma das poucas coisas que nos resta junto ao sofrimento, é o sentimento de vazio.

E essa característica é incorporada ao cenário de dança das meninas, que somente exibe os espelhos que — a essa altura, para mim — já representam a sua consciência tentando minimamente lembrá-las de que são elas quem podem preencher os próprios vazios.

Por fim, também vale ressaltar que, assim como citei na análise de Haircut, aqui eles também usaram o efeito de cena borrada em alguns momentos — o que reforça essa percepção de se estar desorientado sobre algo — e temos uma lista grande de coisas que estão fora dos eixos nos corações das nossas meninas.

E outro momento em que a produção foi incrível, é quando as integrantes aparecem segurando um pedaço do espelho, refletindo a imagem de outra. Apesar de não haver um trecho na letra que modifique ou sinalize essa cena especial, a mim parece que usarem diferentes integrantes para mostrarem seus reflexos uma à outra foi uma forma de confirmar que sim, precisamos encarar isso. Para, só assim, serem capazes de seguir em frente.

Trazendo a observação final, ainda identifiquei uma mudança na coreografia do refrão. Na terceira vez em que ele é cantado, as meninas modificam toda a base de sua dança, trazendo a representação do espelho (que era feita em um gesto lateral) para a frente do rosto e sinalizando com a mão a sensação de estarem enlouquecendo com aqueles sentimentos.

Quer confirmar a mudança em toda a parte do refrão? Confere no MV completo, tenho certeza que você vai adorar!

Antes de me despedir, acredito que o Fiestar foi um grupo que merecia muito mais. Não só pelo talento incrível, mas pela profundidade das músicas que traziam e pela irreverência de mostrar novas perspectivas para conceitos que todos já conhecemos — como esse sexy concept que entregou muito mais do que beleza e sensualidade; entregou emoção e preocupação em recordar que não devemos perder a nossa essência por nada, nem ninguém.

Até a próxima análise!

Análise construída a partir de percepções pessoais e com prévio embasamento na análise semiótica de Charles Sanders Peirce.

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