Texto: Giovanna Araujo
Design: Darlís Santos
Araçatuba, São Paulo, 20 de novembro de 2024.
O preconceito existe das mais diversas e assustadoras formas e na maioria das vezes, se escondem em bolhas sociais específicas, acontecendo de maneira “velada”, ou seja, escondem as verdadeiras intenções de certas ações e desse modo dificultam na identificação de más condutas. Com uma diversidade enorme de culturas, alguns países têm tradições que variam muito de uma para outra, mas algo que podemos enxergar em todas as sociedades sem distinção é que pessoas que fogem do padrão imposto pela intolerância sofrem apenas por existir.
Entrando em uma parte mais histórica, a Coreia do Sul é uma nação homogênea etnicamente, algo totalmente influenciado e condicionado pelo nacionalismo étnico do país, ou seja, ideologia política e social que baseia a identidade nacional em características como ancestralidade, língua e etnia. Tal movimento ganhou ainda mais popularidade, além uma reforma, durante a ocupação japonesa que ocorreu no século 20.
Após a libertação da ocupação japonesa, que ocorreu em 1945, o nacionalismo étnico continuou com uma grande influência na sociedade coreana, que passou a incentivar políticas de homogeneidade cultural e linguística. É possível ainda, enxergar esse fenômeno refletido na sociedade atual, não apenas na política e na educação, mas também na mídia e no entretenimento, onde há uma valorização predominante da cultura tradicional coreana e uma menor representação de diversidade étnica e racial.
Fonte: Reprodução/ CNN Brasil
A preocupação com esse crescimento de estilo moderno do nacionalismo coreano vem da ideia de que o país deve se manter “etnicamente homogêneo”, neste caso, ter a pele um pouco mais escura é sinônimo de inferioridade. Como exemplo, é possível fazer menção aos diversos produtos de beleza que visam clarear a pele. Esses produtos são promovidos e utilizados, refletindo um ideal de beleza que privilegia a pele mais clara, essa tendência é comum em muitos países asiáticos, onde são comercializados como uma forma de alcançar um padrão de beleza desejado, muitas vezes ligado ao status social e à pureza racial.
Além disso, as opções limitada de tons de maquiagem disponíveis no mercado asiático, principalmente sul-coreano, evidencia a falta de inclusão e diversidade. Os tons de maquiagem mais escuros frequentemente correspondem aos tons mais claros disponíveis em marcas ocidentais, deixando poucas opções para pessoas com pele mais escura. Isso não apenas marginaliza indivíduos de outras etnias, mas também demonstra a ideia de que a pele clara é o padrão de beleza a ser seguido.
Cultura negra utilizada como estética
Nos últimos anos foi possível ver explicitamente a influência da cultura negra em vários aspectos da cultura sul-coreana. Isso gerou debates e trouxe à tona algumas questões sobre toda a situação, em especial, o fato da cultura preta ser muito mais do que apenas um aesthetic, ela tem uma história, um significado e precisa ser respeitada de forma íntegra.
Essa influência, em sua maioria, não é acompanhada de um entendimento ou respeito profundos pelas origens desses elementos, a apropriação cultural pode ocorrer quando estilos e práticas de uma cultura são adotados por outra, sem o devido reconhecimento ou valorização de seu contexto histórico e cultural. Esse fato levanta questões sobre a ética e a sensibilidade no uso de elementos culturais de outros povos.
Fonte: Reprodução/Mundo Negro
Com o crescimento na exportação do ramo do entretenimento sul-coreano para o resto do mundo, alguns comportamentos até então normalizados (o famoso racismo estrutural enraizado), passaram a ser questionados e cobrados com mais frequência. Questões como a apropriação cultural e a falta de representação de pessoas negras na mídia sul-coreana passaram a ser amplamente debatidas, gerando uma demanda por mudanças. Um exemplo disso, é a resposta global à utilização de blackface em programas de televisão e videoclipes, uma prática ofensiva e desrespeitosa que já foi considerada aceitável. As críticas internacionais levaram a reavaliação dessas condutas e a busca por formas de ser mais inclusiva e respeitosa com diferentes culturas.
Artistas e empresas de entretenimento agora enfrentam pressões para se alinhar a padrões mais elevados de sensibilidade cultural e diversidade, essa pressão para evoluir não só beneficia o público global, mas também enriquece a própria indústria do entretenimento, tornando-a mais diversa e inovadora.
A indústria do entretenimento sul-coreana mantém um pensamento considerado por muitos, um pouco limitado, sendo palco para situações extremamente desconfortáveis e que, mesmo sem ser a intenção, servem de manutenção de ideais preconceituosos. Para pessoas pretas que acompanham artistas e personalidades do país, isso faz com que a identificação seja quase impossível, pois para continuar a gostar e acompanhar algo, muitas vezes, significa passar por cima dos próprios ideais. Atualmente, as coisas andam um pouco menos agressivas mas, ainda assim, é preciso tratar esse assunto com clareza e sua devida importância.
FONTES: