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5+1: Coreia do Sul e Brasil: músicas de K-pop inspiradas na bossa nova

Texto: Mariana Necchi
Design: Jéssica Fernandes

Porto Alegre, 04 de novembro

Mais 20 mil quilômetros separam geograficamente o Brasil e a Coreia do Sul — entretanto, para a música, não há distância que não possa ser encurtada com apenas algumas combinações de acordes musicais. 

A bossa nova, gênero musical que surgiu no final da década de 1950 no Rio de Janeiro através da combinação do jazz estadunidense com o samba carioca, conquistou o país de fora a fora com as clássicas canções “Chega de Saudade”, “Eu Sei Que Vou Te Amar” e “Garota de Ipanema” compostas pela inseparável dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Depois de marcar o nome da bossa nova no território nacional ao se tornar um marco cultural, as músicas rapidamente se espalharam ao redor do mundo: e, dentre esses destinos, a Coreia do Sul foi uma das localidades que mais abraçou a sonoridade suave, tropical e relaxante.

O K-pop, que com o passar dos anos se solidificou sonoramente ao misturar elementos típicos da região asiática com tendências ocidentais, prova que sabe fazer uma conexão irresistível entre as culturas.

Nesta edição do 5+1, a HIT!Magazine selecionou músicas que soam como se o Brasil e a Coreia do Sul se tornassem apenas um só país. Confira!

Alcohol-Free – TWICE

Se o conceito desse comeback foi inspirado na leveza e no sentimento de viver o verão, nada mais justo do que buscar referências justamente no gênero musical brasileiro criado na cidade maravilhosa e praiana do Rio de Janeiro, não é mesmo?

Conhecidas pelo pop explosivo e pegajoso, as meninas do TWICE inovaram ao deixar de lado os já característicos sintetizadores e batidas enérgicas das faixas principais dos seus projetos para, então, apostar em riffs de violão, piano e percussão orgânica em “Alcohol-Free”, lançada como title track do mini-álbum “Taste of Love” em 2021. 

Os elementos de bossa nova são identificados na levada rítmica de violão, assim como nas harmonizações vocais de Nayeon, Jeongyeon, Momo, Sana, Jihyo, Mina, Dahyun, Chaeyoung e Tzuyu. A música foi composta e produzida por J.Y Park, que já se declarou fã do gênero e de artistas célebres do Brasil como João Gilberto, Nara Leão e Tom Jobim.

E não para por aí: anteriormente, em 2017, no primeiro álbum completo da carreira do girl group, “Twicetagram”, as meninas também flertaram com o gênero na canção “JALJAYO GOOD NIGHT”. 

Obliviate – IU

O que poderia surgir de uma combinação de referência à saga Harry Potter, sonoridade brasileira e a marca registrada da voz suave de IU? Uma b-side hit na discografia da artista!

Como sucessor do álbum completo “Last Fantasy” de 2011, a cantora-compositora IU misturou influências de swing, jazz e bossa nova no audacioso e pretensioso projeto “Modern Times”, lançado como álbum completo em 2013. Dentre as canções da tracklist, o destaque fica com “Obliviate” por se fundamentar totalmente nos elementos da nossa brasilidade musical.

Levada de violão de nylon, instrumentos de sopro, piano rítmico, percussão suave e a incrível performance dos vocais de IU — que vão desde de sussurros e harmonias doces aos agudos — fazem da canção ser digna de ser considerada uma bossa nova. A música ganha ainda mais profundidade pela temática e alusões: a palavra “obliviate” é o encantamento que permite apagar memórias de pessoas na saga literária e cinematográfica Harry Potter — e, também, é oriunda do termo latino “oblivio”, que significa “esquecimento” ou “esquecer”. 

Ainda na era “Modern Times”, as faixas “Friday (feat. Jang Yi-jeong)” e “Havana” também apresentam a sonoridade inspirada no ritmo brasileiro.

E a relação da IU com o Brasil continua: no mini-álbum “CHAT-SHIRE”, lançado em 2015, a letra da canção “Zezé” é baseada no livro de romance infantojuvenil “Meu Pé de Laranja Lima”, do escritor brasileiro José Mauro de Vasconcelos, publicado em 1968.

Sour Grapes – LE SSERAFIM

Para quem se acostumou com o LE SSERAFIM explorando os timbres eletrônicos de techno, EDM e hyperpop nas title tracks dos seus projetos, pode se surpreender com a versatilidade do girl group ao se apropriar da bossa nova para compor a sua discografia.

Logo no mini álbum de estreia, “FEARLESS”, lançado em 2022, o LE SSERAFIM misturou r&b com a suavidade do gênero brasileiro na canção bsideSour Grapes”. Ainda que sem se afastar completamente dos beats e synths, a faixa incorpora a bossa nova através dos compassos mais lentos e, também, nos riffs de violão durante o progresso da composição. 

Além disso, ao oposto das vocalizações distorcidas que já se tornaram características na identidade musical do grupo, as integrantes provam que também possuem habilidades para performar harmonias vocais suaves sem a aplicação do uso de efeitos.

LP – Red Velvet

Com acordes de violão que remetem diretamente à clássica “Garota de Ipanema”, as meninas do Red Velvet adentraram o conceito de combinar os lados red e velvet nas canções do projeto “The ReVe Festival” — e, já em sua primeira edição, lançada em 2019, a bsideLP” explora a sonoridade brasileira.

Com a presença de riffs de violão, instrumentos de sopro, batidas envolventes e vocais suaves, o girl group também impôs a sua própria personalidade na faixa ao fazer com que, mesmo com referências antigas, a canção soasse moderna e extremamente pop no melhor jeito Red Velvet de ser. 

Além do refrão irresistível e totalmente abrasileirado, o destaque fica com a progressão que, durante a metade da música, a bossa nova chega a se tornar algo mais eletrônico e, até mesmo, psicodélico.

E, para completar, o Red Velvet já demonstrou admiração ao nosso país em outras oportunidades! A canção “Hit That Drum”, lançada anteriormente no mini-álbum “Summer Magic” em 2018, conta com um sample de samba — e a integrante Joy, que se auto intitula “samba girl”, já fez um belíssimo cover da versão em inglês “The Girl From Ipanema” e disse que é a sua música favorita. 

Question Mark – Suzy

Suzy, chamada popularmente de primeiro amor da nação por sua popularidade estrondosa na Coreia do Sul, atualmente é mais conhecida por sua carreira de atriz ao protagonizar diversos K-dramas e filmes de sucesso — entretanto, durante a sua carreira de cantora, seja como integrante do grupo Miss A ou na sua carreira solo, a artista soube explorar diversas sonoridades e mostrou a versatilidade nos direcionamentos artísticos.

Em 2016, tivemos um gostinho do apreço de Suzy pela música brasileira com o single especial “Dream” feito em colaboração com o integrante do EXO, Baekhyun. A composição romântica, que mistura elementos de jazz, r&b e bossa nova, se tornou um hit no país.

Mas foi só no ano seguinte, em 2017, com a bsideQuestion Mark” que completa o mini-álbum “Yes? No?”, que Suzy explorou totalmente o ritmo brasileiro de forma individual — dessa vez, ambientando a canção em uma atmosfera mais intimista e melancólica. 

Com a combinação de violão e piano como base minimalista, a cantora-compositora carrega a música com a doçura de seus vocais impecáveis que cantam sobre estar em dúvida de ser correspondida no amor.

Ooh La La La – EXO

E a lista não poderia estar completa sem a presença de um boy group aqui, não é mesmo? Finalizando a nossa seleção, o EXO chega com a sua envolvente “Ooh La La La e deixa a sua marca nesta edição do quadro 5+1.

Lançada em 2018 como bside do álbum completo “DON’T MESS UP MY TEMPO”, a música tem uma levada rítmica totalmente inspirada na bossa nova — assim como as linhas de riffs dos instrumentos de cordas presentes no instrumental.

Mesmo sem abandonar a influência do hiphop e trap nos raps performados por Chanyeol e Sehun, os integrantes encarregados pela cantoria Xiumin, Suho, Lay, Baekhyun, Chen, D.O e Kai entregam vocais suaves que emanam uma sensualidade tropical que apenas um gênero musical brasileiro seria capaz de produzir.

E, definitivamente, não é à toa: “Ooh La La La” é considerada uma das melhores bsides da discografia do EXO pelo fandom e, durante as promoções do álbum na época do seu lançamento, a faixa foi performada ao vivo em diversos programas musicais sul-coreanos devido a popularidade alcançada.



Sobre o autor

Jornalista formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Apaixonada por música, cultura pop e cinema.

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